Guidalli.com
sábado, janeiro 18
 

Guerra em duas semanas?

Duas fontes, uma em Miami e outra em Israel, me disseram hoje que a guerra sai em duas semanas. Além disso, em sua correspondência direto de Tel Aviv, Nahum Sirotsky, ainda que não afirme o prognóstico, frisa o que disse Colin Powell. Em resumo, o veterano do Golfo declarou que Saddam tem duas semanas para decidir o futuro. Ou sai de Bagdá evitando um ataque ou será eliminado.

Há quem garanta que o ditador iraquiano irá exilar-se em algum emirado do Oriente Médio. O discurso em Bagdá, porém, é oposto. Haveria resistência. Nestas horas, é sempre bom recordar o que já foi dito sobre o ataque de Bush filho ao homem que resistiu ao seu pai. Meses atrás, vejam o que uma qualificadíssima fonte diplomática me escrevia sobre o que pode virar realidade em fevereiro:

Sandro, haverá uma guerra, não demora muito. Os fatos militares (e eu raciocino com os fatos) estão se acumulando. A política, o disse me disse, as ameaças e negaças, fazem parte do jogo. Bush não vai colocar o revólver no coldre depois de ter tirado. É só uma questão de tempo. A grande incógnita é o que o Saddam vai fazer - não esqueça que ele é islâmico e aspirante à sucessão de Maomé. Hoje, o oferecimento que o mundo ocidental aplaudiu (retorno de inspetores sem condições) já foi negado em Bagdá, dizendo que não era bem isso. Acho que Saddam já tem o que precisa para poder ameaçar mais forte. O jogo que será jogado, na minha opinião, é de cachorro grande e quem tiver mais cartas na manga, leva. Um abraço e continuo acompanhando par e passo porque minha pele também estará à prêmio, entre ameaças simples de uma variolazinha, passando por um botulismo ou terminando num cogumelo nada ecológico.

Por Sandro Guidalli

 
sexta-feira, janeiro 17
 

Cristaldo, nunca é demais

AQUI

 
 

E Chávez vem aí*

Agarrado a Lula feito um náufrago a uma bóia em alto mar, o presidente da Venezuela Hugo Chávez desembarca em Brasília neste final de semana para nova reunião com o aliado Lula, segundo a CBN. A desenvoltura e facilidade com que estes dois personagens vêm se encontrando é um aperitivo do que virá. O mais curioso é que, neste momento, o cenário é favorável a Chávez e à estratégia brasileira que visa ampará-lo. A pergunta é o que o Brasil irá oferecer à oposição já que, muito provavelmente, seu protegido não topará antecipar a consulta popular sobre a continuidade ou não do seu mandato prevista para ocorrer apenas em agosto.

Particularmente, não duvido de uma ajuda mais ampla do Brasil à Venezuela, de forma similar a que Cuba vem prestando. Este, aliás, deve ser um dos pontos da agenda entre Chávez e Lula a serem discutidos. Neste sentido, os trabalhos do Grupo de Amigos serviriam mais para manter a opinião pública ocupada enquanto o presidente venezuelano ganha tempo. Ademais, aos poucos, os serviços deverão retornar à normalidade no país pois toda greve um dia acaba ou enfraquece. É movimento finito.

O Brasil, infelizmente para muitos, será o responsável pela permanência de Chávez no poder, um homem com ambições ditatoriais que saberá recompensar seu principal aliado na hora certa. Não se pode esquecer que ambos são esquerdistas. A derrota de Chávez não interessa ao PT pois sabe-se que um eventual sucessor dele agora estaria alinhado aos EUA. E isso, definitivamente, é o que não querem Lula, Fidel e as FARC.

*Sandro Guidalli

 
quinta-feira, janeiro 16
 

Anotações afora
Por Bruno Moretzshon*, especial para o Guidalli.com

Devido ao grande número de idiotices veiculadas pela mídia nesses tempos de Lula, o artigo desta semana vem em forma de notas. Já que não gosto de injustiças, me recuso a comentar apenas uma das muitas imbecilidades espalhadas pelo noticiário pátrio( e fora dele). Longe de mim ousar excluir alguma. Afinal, diz a ortodoxia da época que a exclusão é o pior dos pecados...

Sem mais delongas, vamos a elas:

Num programa da Band, passado aos domingos, o petista Leonardo Boff deu o seguinte aviso aos telespectadores: o PT, no começo, e a título de transição, vai transigir com a atual situação (neoliberalismo etc.) para só depois introduzir o “modo petista de governar”. Ao ouvir esta declaração, um dos jornalistas que conduzia o programa parece ter ficado assustado e perguntou o que seria o tal “modo petista”? “O tempo do programa é curto”, esquivou-se Boff para logo em seguida dizer, rapidamente, que o dito cujo seria baseado na educação e na industrialização do país. Ora, nós todos conhecemos as afinidades ideológicas do Boff o suficiente para desconfiarmos que o tal modo de governar é, nada mais nada menos, o bom e velho comunismo.

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Neste novo país em que estamos vivendo, o que mais me impressiona é a mudança da Globo. Na edição do dia anterior à posse de Lula, o Jornal Nacional deu a seguinte “notícia” (cito de cabeça e mal...): “O representante dos EUA na cerimônia da posse, chamado por Lula durante a campanha de ‘sub do sub do sub’, estará amanhã na fila de comprimentos”. Ah, finalmente os EUA se curvam ante o Brasil, afirma o JN!!! Como se percebe, o antiamericanismo mais deslavado no novo Brasil é considerado como expressão de jornalismo.

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No programa semanal Manhattan Connection, Arnaldo Jabor soltou a seguinte pérola: “O profundo é sempre de esquerda. A direita é o superficial”. Certo, certo... julgar atos e pensamentos alheios a partir da “consciência de classe” é que é profundíssimo! Mas tudo bem. Eu aceito o método jaboriano. O problema é que fazendo uso do mesmo descobri que Jabor não passa de um baita direitista!

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Para terminar, vai aqui uma nota pessoal. Um dia desses tive a oportunidade de conversar com uma menina petista. Conversa vai conversa vem, chegamos ao assunto preferido dela: política. Certo. Depois de exortações de todos os tipos contra aquilo que ela imaginava ser a “direita”, a jovem começou a proferir palavras ofensivas contra o inimigo número um das esquerdas: Olavo de Carvalho. E perguntou: “Ele não tem medo de morrer, não? No que respondi: “Sei lá!”. Ela: “Pois devia: eu não mataria ninguém... não tenho coragem, mas daria a maior força se alguém tivesse.” Retruquei: “Você é igualmente assassina, só que além de tudo é covarde!”

O “papo” acabou aí, mas, depois de refletir, notei que esse sentimento “mata-oposição” está no ar...

*Bruno Moretzshon é jornalista e colunista do Offmidia

 
  Retrato fora de foco
Paulo Leite, de Washington, DC

João Pedro Jacques tem um artigo interessante no OffMídia que mostra como, na imprensa brasileira, tudo o que se noticia sobre os Estados Unidos passa pelo filtro da esquerda. Aquilo que políticos Democratas falam é tomado como fato, enquanto declarações do governo Bush ou de políticos republicanos são relatadas (quando o são) com desconfiança, como se o jornalista fosse o único a entender as verdadeiras razões por trás das declarações.

Na área econômica, então, a situação piora dado o baixíssimo grau de entendimento sobre o funcionamento de uma verdadeira economia de mercado. Toda e qualquer notícia que possa ser exibida como prova de que a economia norte-americana está em crise, de que o modelo "neo-liberal" tem "falhas estruturais" e outras asneiras é divulgada com alarde, enquanto as boas notícias são varridas para debaixo do tapete.

Num artigo publicado hoje no site da revista National Review, o respeitado jornalista econômico Lawrence Kudlow comenta a idéia dos Democratas de mandar um cheque de "restituição" de impostos a milhões de norte-americanos, inclusive àqueles que não pagam impostos (isso no meu tempo se chamava benemerência, não política econômica).

Segundo Kudlow, os gastos dos consumidores têm garantido a economia norte-americana nos últimos dois anos, crescendo 3% ao ano mesmo numa economia lerda. Até em dezembro passado, as vendas subiram pelo menos 1%, ao contrário do que se noticiou - inclusive na imprensa brasileira. Incluindo-se as vendas pela Internet, houve um aumento de 5% sobre o período de Festas do ano anterior. Por isso, não existe necessidade de um "choque" de consumo, que é o que os Democratas pretendem conseguir com seus cheques de 300 a 600 dólares.

Kudlow nota que a economia dos Estados Unidos hoje está diretamente ligada ao mercado de capitais. A recente recessão foi causada pelo colapso do mercado de capitais, que deixou as empresas sem condições de saldar empréstimos que tinham sido obtidos com o elevado valor de suas ações como garantia. A saída foi cancelar encomendas de máquinas e equipamentos, apertar o cinto e mandar gente embora. O crescimento só vai voltar com a recuperação do mercado de capitais. E a intenção de Bush de acabar com a dupla taxação dos dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas é uma das maneiras de incentivar essa recuperação.

Diz Lawrence Kudlow: "Os Democratas, é claro, lançaram inúmeros ataques ao melhor estilo luta-de-classes, dizendo que a proposta de Bush vai ajudar apenas aos ricos. Acontece que quase três-quartos das pessoas que recebem dividendos, ou 70 milhões de norte-americanos, ganham menos de 100 mil dólares por ano. Eles também recebem 54% do total de dividendos, o que significa que o plano de Bush consegue até dar aos compradores um belo aumento em seu poder de compra após-impostos."

Kudlow continua: "Sim, o plano de Bush vai beneficiar os consumidores também. Mas a verdadeira história é que Bush tem a cura certa - alívio de impostos dirigido aos investidores - para o verdadeiro problema econômico: um desastroso declínio de três anos no mercado acionário que arrastou consigo negócios e empregos. Os Democratas se recusam a entender que na economia de investidores que temos hoje, é o mercado de capitais que movimenta a produção e o investimento das empresas, e são as empresas que alavancam empregos, salários e consumo. Quanto mais tempo os Democratas permanecerem no escuro sobre esse ponto, mais tempo eles vão gastar tentando vender ao país devoluções de impostos que nada fazem pela economia."

Se você pretende ler uma análise assim lúcida no seu jornal preferido, melhor sentar, porque esperar em pé cansa. 
quarta-feira, janeiro 15
  Só perguntas

Impossível saber no momento quais serão as conseqüências do apoio explícito do PT ao aliado Hugo Chávez. Fontes de fora da grande imprensa acreditam que a estratégia brasileira foi concebida pelo principal articulador da política externa de Lula, Marco Aurélio Garcia, o chefe informal do embaixador Celso Amorim. Não há nada que torne a informação implausível. Mas para a maioria da opinião pública, o apoio a Chávez pode revelar-se uma grande surpresa. É que a impressão passada com a ajuda da mídia petista é a de que o Brasil pretende assumir papel de destaque no continente ao articular uma saída pacífica e democrática para o país vizinho em contraponto à hegemonia americana.

Denis Rosenfield rompeu a barreira da desinformação nesta quarta na Folha. Disse tudo aquilo que poucos sabem. Exceto articulistas como o professor gaúcho, é raro ler informações sem rodeios. Predomina a impressão descrita acima. Mas por quanto tempo? Há sinais de que algo já começa a dar errado. Ficamos sabendo neste meio de semana que a própria OEA, provavelmente influenciada por Washington, já critica a iniciativa brasileira de salvar Chávez. Ao se meter no conflito, o Brasil só acirrou os ânimos entre os oposicionistas e, dando respaldo a Chávez, fez o aliado retomar o fôlego.

Na minha opinião, os EUA mais uma vez terão que arrumar tudo sozinhos. O problema é que a Casa Branca tem outros pepinos a resolver como o Iraque e a Coréia do Norte (fora a China). O conflito na Venezuela, portanto, pode ter fim incerto e demorado. A oposição não aguentará o ritmo e Chávez tende a vencer a batalha com o parcial retorno do país à normalidade. Passará a impressão de que derrotou os inimigos e ainda poderá contar com a ajuda "humanitária" e logística do Brasil. Vencerá o Foro de S. Paulo em geral, pelo menos até novo enfrentamento e a recomposição dos antichavistas. 

  Escrevendo sobre o que não entendem
Paulo Leite, de Washington, DC

Virou moda nos Estados Unidos criticar o presidente Bush por ameaçar atacar o Iraque (porque esse país pode ou não ter armas de destruição em massa) enquanto busca resolver por via diplomática a situação na Coréia do Norte. O argumento, que apenas revela a ignorância dos que o defendem, já ganhou espaço nas páginas editoriais de muitos jornais importantes dos Estados Unidos, e como não poderia deixar de ser, chegou aos jornais brasileiros.

Num artigo chamado "Uma guerra covarde se anuncia", publicado pela Folha Online, Kennedy Alencar argumenta que a situação com a Coréia desnudou a verdadeira intenção de Bush no Iraque: controlar as reservas petrolíferas desse país. Na lógica de Alencar, uma guerra com o Iraque seria vencida sem maiores problemas pelos norte-americanos. Mas a Coréia poderia até causar baixas entre os soldados dos Estados Unidos:

"Como reage o caubói Bush? Vai negociar diplomaticamente com a Coréia, enquanto mobiliza tropas para invadir o Iraque. Apesar dos arroubos de Saddam, prometendo uma resistência tremenda, a mesma coisa que os sérvios e os talebans prometeram e não cumpriram, os EUA vão ganhar fácil a guerra contra o Iraque. É desproporcional a capacidade militar dos EUA na comparação com a do Iraque. Em relação à Coréia do Norte, os EUA também ostentam tremenda vantagem militar, mas o Exército e as armas do país são capazes de uma resistência de verdade, daquelas em que soldados morrem. Mas isso assusta Bush e lembra a covardia dos soldados da Otan, a aliança militar ocidental, na guerra do Kosovo. Naquele conflito, nenhum soldado ocidental morreu numa batalha."

Analistas mais tarimbados e com acesso a integrantes da administração Bush explicam o verdadeiro motivo da diferença de tratamento entre as duas crises. Nada a ver com petróleo. O problema no caso da Coréia do Norte se chama China. É com esse país que os Estados Unidos estão negociando, não com o governo de Pyongyang. Qualquer intervenção mais afoita dos Estados Unidos na Coréia do Norte poderia desencadear uma séria crise na região, e poderia inclusive culminar com a China tentando retomar Taiwan na marra, aproveitando-se da situação.

O que os críticos gratuitos de Bush esquecem é que a Coréia do Norte não existiria se não fosse a China. Sua atuação na Guerra da Coréia é até hoje motivo de orgulho entre os chineses. Sem apoio chinês, o regime de Kim Jong-il não duraria um dia mais. É por aí que a situação vai ser resolvida, com certeza. E quando o pavio de mais essa crise for apagado, os "jornalistas" que hoje tanto criticam Bush vão terminar como o cocô do cavalo do caubói. 
terça-feira, janeiro 14
 

Cidade dos Aflitos
Por Sandro Guidalli

Longe das refrigeradas salas de cinema, das colunas sociais, dos cocktails e dos programas de TV por assinatura, “Cidade de Deus”, baseado no livro de Paulo Lins e dirigido pela dupla Fernando Meirelles e Kátia Lund, escreve outra história, menos gloriosa.

Segundo relata nesta segunda o jornal Folha de S. Paulo em matéria assinada pela repórter Fernanda Mena, o sucesso da fita está causando vários transtornos e problemas aos personagens retratados na obra e aos moradores do bairro de Cidade de Deus em geral, enclave da contrastante zona oeste do Rio de Janeiro.

É verdade que a interessante reportagem foi publicada no mesmo jornal que já havia, no ano passado, lançado toneladas de confetes aos diretores de um filme que torna repleta de heróis a marginalidade carioca, um vício medonho que transforma bandidos e criminosos em gente oprimida e passível de afagos morais e até financeiros (vide a ajuda pecuniária dada pelo documentarista João Moreira Salles ao traficante Marcinho VP anos atrás).

Mas a publicidade gratuita ao filme não é exclusividade do jornal paulista. Praticamente a mídia inteira do país fez de “Cidade de Deus”, seus diretores e atores, o mais extraordinário acontecimento da cinematografia brasileira dos últimos tempos, visto por mais de 3 milhões de pessoas.

De acordo com a reportagem, intitulada Filme gera discriminação, dizem favelados, os moradores da antiga favela vêm tendo dificuldade para arrumar emprego e a polícia, segundo alguns entrevistados, tem se comportado com mais rigor, tendo aumentado a repressão. “...quando souberam que eu era da Cidade de Deus ficou mais difícil abrir um crediário”, diz um comerciante. “Agora, eles acham que aqui todo mundo é bandido”, conta um estudante.

Mas outro problema diz respeito à biografia de moradores retratados no filme. Segundo a repórter, o uso de nomes reais nele provocou indignação entre alguns. Um dos casos mais grotescos é o de Dona Ba, mostrada como prostituta na obra de Paulo Lins e levada assim para as telas. “Já fiz muita coisa errada mas nunca fui prostituta”, disse ela à reportagem da Folha de S. Paulo.

Cenas mostradas no filme, como a de um garoto sendo baleado nas mãos, nunca ocorreram em Cidade de Deus, segundo os moradores.

Autor e diretores defendem-se dizendo que a fita é obra de ficção. Acontece que o livro e o filme têm as mesmas pretensões, que seriam a de relatar a vida tumultuada de seus heróis num cenário infernal. Além disso, sobra para a polícia, transformada em vilã e para praticamente todos os moradores do local retratado.

Cidade de Deus hoje é um local pacato perto das favelas da zona norte do Rio mas acabou levando o carimbo de lugar maldito graças em parte ao livro de Paulo Lins, obra ruim e absolutamente dispensável. Já o filme, quase um megaclipe, apenas leva a fama para além das fronteiras do país. Deve acabar fartamente premiado pois foi feito sob medida para o olhar do primeiro mundo acadêmico e artístico, acostumado a ver a nossa pobreza como a exemplar opressão capitalista sobre marginais oprimidos. Não pode haver felicidade na favela. A culpa é do neoliberalismo e blá-blá-blá.





 
segunda-feira, janeiro 13
 

Uma falsa heroína



Nota do Editor - Guidalli.com recebeu o texto abaixo de um leitor. Serve para esclarecer um pouco mais a biografia da valentona ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, transformada no mais novo mito da luta armada pela imprensa brasileira:

A revista Veja catalogou Dilma Vana Roussef Linhares (“Stela”, “Luiza”, “Patrícia” e “Vanda”) como “heroína” e “ex-guerrilheira”. Não é verdade. Dilma, desde 1967 militante da POLOP (Política Operária) e posteriormente do Colina (Comando de Libertação Nacional) em Minas Gerais, não é uma ex-guerrilheira e muito menos “heroína” pois não se tem notícias de sua participação em nenhuma “ação” armada. Das cerca de 30 “ações” levadas a efeito pela Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-Palmares) durante sua existência, nos anos de 1970, 1971, 1972 e 1973, ela não participou de nenhuma! Como se recorda, a Var-Palmares foi o resultado da união do Colina com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) em um Congresso realizado em Teresópolis, Rio de Janeiro, em setembro de 1969. Entre as “ações” realizadas pela Var-Palmares para “combater a ditadura” podem ser citadas a participação no assassinato a tiros de metralhadora de Otavio Gonçalves Moreira Junior, delegado da Polícia de São Paulo, em 25 de fevereiro de 1973, em Copacabana, no Rio de Janeiro quando, em gozo de férias, saía da praia., e o assassinato do marinheiro inglês David Cuthberg, também no Rio de Janeiro, em 05 de fevereiro de 1972, também a tiros de metralhadora. A esses assassinatos a Var-Palmares chamou de “justiçamentos”. O delegado Otavio foi morto por ser “um torturador” e o marinheiro inglês por ser um “serviçal do imperialismo”. Como Iara Iavelberg, também citada como “heroína” por ser companheira do “comandante” Carlos Lamarca, Dilma Roussef também agora teria esse “direito”, pois foi companheira de Carlos Franklin Paixão de Araújo, um dos “comandantes” da Var-Palmares. Acho que a função mais nobre da imprensa é informar e não fazer isso que a revista Veja faz costumeiramente: publicar notícias por ouvir dizer, sem realizar um mínimo de pesquisa na história recente de nosso país.


 
  A questã do diproma
Paulo Leite, de Washington, DC

Se alguém quer entender parte dos motivos pelos quais o jornalismo brasileiro anda com nível tão baixo, basta visitar o site Comunique-se (www.comuniquese.com.br) e dar uma lida na discussão gerada a partir da queda da obrigatoriedade do diploma para quem quer exercer a profissão de jornalista.

Não vou nem comentar a quantidade incrível de erros de português e a apelação de certas pessoas que na falta de capacidade de raciocínio lógico, descambam logo para a ofensa pessoal.

O que me arrepia é o nível da maioria dos argumentos, que não emplacariam nem numa discussão de botequim às duas da manhã. Muitos reclamam pelos 4 ou 5 anos que perderam numa faculdade, como se tivessem feito tanto esforço só para obter um diploma, não para obter conhecimento.

Outras pessoas equacionam a exigência do diploma com uma "conquista trabalhista", revelando imediatamente a mentalidade corporativista que regula o debate sobre o assunto no Brasil. Alegar que a queda do diploma vai resultar imediatamente no fim dos bons empregos no setor é ignorar a realidade. As empresas jornalísticas que contratarem jornalistas de baixo nível vão estar apenas minando sua própria credibilidade. É o que se conhece como "economia besta".

Impressionante a quantidade de colegas que comparam a situação do jornalista com a do advogado, esquecendo-se que a prática do Direito exige o conhecimento de milhares de leis, normas, portarias, etc. Para ser jornalista, não é preciso decorar mais que as regras da gramática (coisa que - como notei acima - poucos se preocupam em fazer). O resto é talento, capacidade de raciocínio e de argumento.

Pouquíssimas pessoas se preocuparam em abordar o assunto principal: a liberdade. Não apenas de expressão (ao contrário do que argumenta a Fenaj), mas liberdade em seu sentido mais amplo.

Aqui nos Estados Unidos, um jornalista que ousasse defender a obrigatoriedade de diploma para a categoria seria execrado pelos colegas à direita e à esquerda. As empresas jornaísticas, porém, exigem de forma rotineira formação universitária de seus novos contratados. Aí está o chamado "x" da questão. O empregador tem que ter a liberdade de contratar quem ele quiser, e de colocar todas as exigências imagináveis para a contratação de alguém. Mas não cabe ao governo limitar quem pode expressar sua opinião de forma continuada.

Até a Fenaj tem que entender que há muita diferença entre escrever uma coluna regular num meio de comunicação qualquer e mandar uma carta à redação.

A leitura da discussão no Comunique-se estragou minha manhã. Porque serviu apenas para que eu me lembrasse quão longe o Brasil continua de entender um conceito tão simples e tão bonito quanto a Liberdade. 
domingo, janeiro 12
 

A nova heroína de Veja
Por Sandro Guidalli

Fiel à regra máxima que torna os terroristas marxistas de oposição ao regime militar entre os anos 60 e 70 em heróis, a revista Veja desta semana destaca a turbulenta biografia da ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, a "Stella" da VAR-PALMARES, organização responsável por inúmeras ações terroristas em 1969, dentre elas, o famoso roubo no Rio ao cofre de Ana Capriglioni, conhecido como "A Grande Ação". A manchete: "O cérebro do roubo ao cofre".

A reportagem, assinada pelo jornalista Alexandre Oltramari, apresenta a ex-terrorista como uma mulher "de olhar austero", "duramente perseguida, presa e torturada". "É uma mulher espetacular...não é de meio-tom", diz um ex-companheiro de guerrilha. "Ela é suave e determinada", emenda a jornalista Judith Patarra, autora de um livro sobre outra "heroína" do período, Iara Iavelberg, a ex-sra. Lamarca. As duas, Iara e Dilma, foram confidentes, mostra a matéria.

Dilma Roussef, segundo o texto de Veja, idealizou diversas ações criminosas, transformadas em aventuras justificadas pela oposição à ditadura militar. Como costuma acontecer neste tipo de "perfil" realizado pelas revistas e jornais brasileiros, tudo fica reduzido ao romantismo daqueles que, segundo dá a entender os autores, lutavam pela democracia e pela liberdade do país.

A valentona ministra do governo Lula não queria exatamente isso. Sua organização, e isso Veja não conta, queria a instalação aqui de uma ditadura do proletariado. Segundo pregavam Dilma e seus companheiros, "o único caminho para a tomada do poder era a Guerra Revolucionária Prolongada", a ser realizada em três fases: Defensiva Estratégica, Equilíbrio Estratégico e Ofensiva Estratégica.

Foi por causa desta concepção de tomada do poder que Dilma e outros membros da VAR romperam com Carlos Lamarca e seus seguidores, estes mais dispostos a fomentar focos guerrilheiros do que a esperar o desenrolar da estratégia da guerra prolongada.

Chamada de "papisa da subversão" pelo promotor militar que a acusou quando presa (o que só contribui para a sua glória), Dilma idealizou ações sob medida para Carlos Lamarca, quase um "Che Guevara" brasileiro. Ao lado dele, está a um passo de tornar-se mais uma lenda costurada pela imprensa brasileira, sempre tão generosa com figuras do gênero. Agora que está no poder, ela terá sua imagem elevada à categoria dos mitos da luta armada. Sai de baixo.

 
Felix qui potuit rerum cognoscere causas

e-mail - guidalli@gmail.com

Editor: Sandro Guidalli

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