Queridos amigos e leitores. Estou seguindo amanhã, quarta, para a Ilha do Mel, uma das melhores coisas do pequeno litoral paranaense. Vou ficar longe do computador uma semana, pelo menos. Será uma experiência fascinante, não tenho dúvida. Nesta nova e infelizmente breve rotina paradisíaca, junto aos meus filhos, minha mulher, uma bola de futebol, um livro do Meira Penna e outro do Janer Cristaldo, sem contar a imensidão da areia e do mar, esquecerei de tudo por alguns dias.
Mas queria nesta última nota do ano agradecer a leitura e a amizade de todos e desejar um excelente 2003, com muito trabalho, dinheiro e saúde. E dizer também que a partir de 5 de janeiro, estarei cometendo meus erros no Midia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org) em notas diárias atualizadas sempre à noite. Este blog permanecerá no ar, mas com textos de jornalistas e articulistas convidados, perfil similar ao Bloguidalli (http://bloguidalli.blogspot.com).
Um grande abraço e até janeiro se Deus quiser.
Em algumas capitais do país é possível sentir o ambiente politicamente correto de forma mais clara e presente do que em outras. Cheguei a Curitiba no sábado e numa rápida caminhada pela cidade pude perceber os efeitos da agenda esquerdista sobre ela. Para começar, o que mais me impressionou foi a existência de várias placas no centro e arredores cujo texto pretende desestimular a esmola. "Esmola não dá futuro. Ajude de verdade", dizem elas. Logo abaixo, o nome de um fundo de ajuda social mantido pela prefeitura para onde devem ser destinadas as doações, uma espécie de intermediário entre a caridade e o mendigo, ou melhor, o "excluído", mantido pelo poder público municipal.
A política social da prefeitura mais ostensiva é um reflexo da transformação da cidade, ex-capital modelo do país. Se vem sendo impossível evitar o aprofundamento da miséria e da criminalidade, a estratégia é fazer-se presente na mídia, ocupar os espaços públicos com slogans e campanhas. De "capital ecológica", Curitiba passou agora a ser a "capital social", como informam os automóveis da prefeitura que exibem a nova logomarca e seu mais novo slogan. O verde deu lugar à pobreza sem que diminuísse a patrulha sobre os moradores. Se antes o curitibano jamais poderia pensar em arremessar um guardanapo na rua, agora ela não pode dar esmolas. É constrangedor.
Mas não estranhe o leitor. A capital do Paraná não é governada pelo PT. Ainda. Seu prefeito é o pefelista Cássio Taniguchi mas suas diferenças com o partido de Lula são ridículas. Curiosamente, tanto Cássio quanto seu padrinho político Jaime Lerner (PFL) são os principais entusiastas da agenda esquerdista e tanto a capital quanto o estado estão repletos de exemplos do "politicamente correto". A presença do Estado na vida da população, por exemplo, é infinitamente maior aqui do que no Rio de Janeiro, onde vivo há sete anos desde que deixei Curitiba. O policiamento do trânsito é muito mais agressivo e ninguém conseguiria andar sem o cinto de segurança por mais de cinco minutos. No Rio, nunca o afivelei nem fui importunado por um guarda por causa disso.
A cidade também está vigiada. A rua XV, a principal via para o turismo e o comércio da cidade é monitorada por um sem-número de câmeras o que não vem impedindo a escalada da criminalidade, dos assaltos e furtos, aliás, em toda a capital, hoje com aproximadamente 1,6 milhão de habitantes. A falta de segurança é o assunto mais comentado pelo curitibano, hoje quase monotemático. Para quem está habituado ao Rio, a cidade ainda aparenta certa tranquilidade.
Mas a minha parte eu já fiz. É verdade que não joguei lixo no chão mas nunca dei tanta esmola na minha vida.
Por Carlos Eduardo A. de Lima
Deu no rádio a caminho do trabalho: o prefeito César Maia sanciona lei (ou baixou decreto, sei lá) que autoriza os agentes da saúde, no combate à dengue, a invadir propriedades abandonadas e/ou fechadas para encontrar focos do aedes egipty. E caso necessário, a polícia pode ser requisitada para dar uma mãozinha no arrombamento da porta. Mais uma vez, o brasileiro pratica o seu velho vício: violar a propriedade alheia em nome do "bem comum". No caso de imóvel reconhecidamente abandonado, nada contra; mas, se o local estiver simplesmente fechado, aí trata-se realmente de uma violência. A reportagem não fala se, antes de chegar às vias de fato, os agentes devam tentar localizar o dono do imóvel. E mais: se para a quebra, por exemplo, de sigilos vários como o bancário, o telefônico ou o fiscal, é necessária autorização judicial, será que pisar no jardim dos outros prescinde da palavra de um juiz? Iaso sem contar que a coisa toda tem um quê de lotérico. Imagine a situação de, uma vez do lado de dentro, os bravos paladinos de nosso bem-estar não encontrarem mosquito algum? Ou seja, sem indício algum de problema, eles "mandarem ver". Imagino que o proprietário, ao ver seu imóvel danificado a troco de nada, vá buscar compensação. Pode até dar processo. O mosquito vai dar boas risadas.
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Editor: Sandro Guidalli