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sábado, novembro 2
  Drummond em paz

É improvável que Carlos Drummond de Andrade aprovaria a colocação de uma réplica em pedra do seu corpo sentado num banco do calçadão de Copacabana, que, aliás, viverá suja de tinta e outras porcarias a menos que o prefeito César Maia desloque um funcionário que fique, 24 horas por dia, a protegê-la do vandalismo.



Já chegaram a afirmar aos jornais que Drummond queria muito ser lembrado e notado pela sua obra, o que é uma tremenda besteira. O poeta mineiro cultuava a discrição e parecia pouco se importar com a aceitação ou não do que escrevia. Sabia ele do próprio talento.



Este tipo de declaração serve, porém, para justificar a idéia de homenagear Drummond com a pedra esculpida já maculada pelos pichadores. Mas há outras formas de convencer a população disso sem que seja preciso usar um suposto desejo do escritor.



Fui conhecê-la hoje, a poucos metros da minha casa. Perto de mim, uma admiradora de Drummond que nunca leu seus livros xingava: "o ser humano já sujou isso, um f.d.p.". Ela está certa. O mar, os cachorrinhos e as bicicletas certamente deixarão o poeta em paz. Há coisas que só mesmo os seres humanos são capazes de fazer.

 
  Só sendo irônico

Ousados e petulantes esse presos de Bangu. Desesperados com a "arrocho" das autoridades e do aparato da segurança pública cariocas, resolveram se rebelar mas, curiosamente, parece que foram longe demais, ou seja, fugiram mesmo. Os que ficaram, também em pânico, tiveram que usar armas, botijões de gás e marretas para escapar da pressão da implacável polícia da governadora Benedita. "Nossas medidas, sabemos, incomodam os bandidos", disse ela.



É verdade. Perturbam tanto que aqueles que estão presos fogem e os que estão soltos matam, roubam e, para cúmulo, continuam traficando armas e drogas.



Mas apesar da rápida declaração da governadora aos jornais de hoje, curiosamente, nota-se que ela anda meio sumida do noticiário. Seria coincidência este sumiço no momento em que não dá mais para esconder que o crime nunca esteva tão ativo e forte quanto sob o seu governo? Vai ver a ex-senadora anda mais preocupada com o cargo que deverá obter no governo Lula. Não dá mais para perder tempo com coisas menores, da esfera estadual.



Depois de ter sido "ovacionada" no Teatro Municipal, recentemente, Benedita corre agora o risco de ser "ovocionada" já que a operação criada para resguardar sua imagem foi por água abaixo. Mas ela continuará a dizer, feito um papagaio, que o crime não a intimidará. Mas agora com menor evidência.

 
  Patrulheiros sonolentos

A Agência Folha comprou uma briga boa no Mato Grosso do Sul mas parece que a patrulha dos sindicatos de Jornalistas e do Observatório da Imprensa ainda não se deu conta dela. O repórter Fabiano Maisonnave, que trabalha em Campo Grande, vem sendo intimidado por pessoas que já lhe avisaram de que ele iria "ficar mais perto de Jesus Cristo" qualquer dias desses.



Para quem não sabe, o jornalista foi o responsável indireto pelo afastamento do coronel José Ivan de Almeida, flagrado usando o rádio da PM para convocar seus subordinados a uma reunião de apoio ao então candidato e atual governador, reeleito dia 27. Hoje ficamos sabendo que ele já foi reintegrado ao cargo depois de ter sido afastado por determinação do TSE, baseado nas reportagens da Folha.



Mas as pressões sobre o repórter não interessam à Fenaj ou ao sindicato local. É que ele briga com membros do PT e os membros do PT podem fazer o que bem entenderem contra a imprensa. Olívio Dutra, no RS, conseguiu a condenação de dois jornalistas do grupo RBS porque eles ousaram criticar sua postura durante o quebra-quebra do relógio dos 500 anos em Porto Alegre, realizado pela militância furibunda do PT local.



Ao invés de defender seus colegas, o sindicato de jornalistas gaúcho chegou na ocasião a culpá-los pelas críticas numa inversão impressionante de comportamento.



O Observatório do senhor Alberto Dines registrou a condenação depois que foi pressionado a publicar algo sobre o assunto. Em contrapartida, as escaramuças entre Garotinho e Carta Capital e, mais recentemente, entre Joaquim Roriz e o Correio Brasiliense, foram lá amplamente divulgadas em apoio, claro, à imprensa. Roriz e Garotinho, que têm muito a esconder mesmo, não pertencem, contudo, ao PT.

 
  Notas de sábado

Especulações do Painel da Folha deste sábado vão ao encontro do que disse esta página ontem a respeito dos sinais emitidos pelo PT de que é hora de atenuar as expectativas criadas na população culpando o governo que sai pela impossibilidade de cumprir as promessas feitas pelo governo que entra (veja nota "O PT começa a governar").



Logo na primeira nota do Painel, ficamos sabendo que o PT teria encarregado os aliados para atacar FHC nas próximas semanas. Lula, assim, seria poupado de comandar a artilharia e permaneceria usando a diplomacia já usada na "transição democrática", uma expressão adota pela imprensa a reboque do oba-oba criado em torno da suposta "maturidade" e "civilidade" dos políticos que a coordenam. Nos bastidores, entretanto, a pancadaria come solta.



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Há algo de errado na foto em que Lula e seu grupo de aliados aparecem após encontro em São Paulo para ver como será loteado o poder. Saladas políticas e partidárias sempre existiram mas é curioso ver o PT fazendo a sua. O elemento mais estranho nela, mas perfeitamente à vontade, é o presidente do PTB, José Carlos Martinez, ex-embaixador de Fernando Collor no Paraná que com dinheiro do esquema PC ampliou sua rede de TV, a CNT, em todo o país.



Na campanha, Martinez foi obrigado a sumir depois que suas relações financeiras com PC Farias voltaram ao noticiário, dentro do projeto que incinerou a candidatura Ciro Gomes (PPS) de quem o ex-collorido era um dos coordenadores.



Na foto, lá está ele fazendo o V da vitória ao lado de caciques comunistas, como o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo. José Dirceu, o homem que preparou a salada petista, está no canto direito da foto, quase fora dela. Na hora, deve ter pensado: "que bando de idiotas". Úteis, diga-se de passagem.



 
  Ecos da tragédia

Impedidos de conhecer a realidade, é natural que os leitores dos grandes jornais e revistas do país mostrem-se inconformados quando lêem algo que foge completamente ao que estão habituados a ler e a entender. O caso das relações de Lula e do PT com os movimentos revolucionários comunistas da AL é um bom exemplo da distância imposta pelas redações brasileiras entre os fatos e seus leitores.



Ontem, O Globo publicou matéria sobre outra matéria, a do National Post, em que a repórter do jornal canadense relatava tudo aquilo que vem sendo omitido por aqui. Pois na edição de hoje, na seção de cartas, o jornal carioca publicou duas mensagens que dão a dimensão da desinformação.



Os leitores André Hochman Blak, de Niterói (RJ) e Carlos Batista, de Aquidauana (MS), escreveram ao jornal reclamando da imprensa internacional justamente por acreditarem que ela "fomenta especulações mirabolantes", nas palavras do missivista sul-mato-grossense. Já o primeiro pergunta: "O que pretendem esses analistas?"



A partir destas duas cartas é possível imaginar a quantidade de leitores que hoje qualificam informações verídicas e baseadas em fatos reais como a mais desavergonhada fantasia, coisa de lunáticos. Dá para imaginar, também, o tamanho do susto que leitores como eles um dia levarão ao verem que tudo aquilo que acreditavam ser paranóia e "especulações mirabolantes" é a mais pura verdade. Mantidos eles mesmos num mundo de desinformação e manipulação da realidade através dos jornais que lêem cotidianamente, Blak e Batista perceberão que foram enganados durante muito tempo mas aí já será tarde.

 
sexta-feira, novembro 1
  Os canadenses sabem de tudo

http://www.nationalpost.com/search/site/story.asp?id=2143A3EF-71C0-4ADD-AE0D-93D49FCB5FC3



Só para variar um pouco, coube à imprensa internacional reportar (veja link acima) o que aqui dentro das redações brasileiras é motivo de muita desconfiança, quando não é de pura chacota. Eis que o National Post, baseado no Canadá, através da repórter Isabel Vincent, relatou aos seus leitores tudo o que vem sendo omitido pelos jornais e revistas brasileiros a respeito do novo governo eleito dia 27 passado.



Pobre leitor brasileiro. Sabe menos do próprio país do que um peixeiro em Toronto.



As fontes de Vincent: Constantine Menges, do Hudson Institute de Washington e membro do US National Security, um pesquisador que só não é levado a sério no Brasil e Paul Weyrich, CEO do Free Congress Foundation.



Menges é o mesmo que já disse em artigo para a Weekly Standard (republicado depois pelo The Washington Times) que o Brasil de Lula formará um novo eixo antiamericano na América Latina, junto a Fidel Castro e Hugo Chávez. Os argumentos do estudioso foram rigorosamente ridicularizados pela esquerda local antes que ele pudesse ganhar a credibilidade que merece.



Mas voltando ao National Post, a reportagem comenta os planos do PT para dotar o Brasil de um arsenal de armas nucleares, tendo como base as declarações de Lula em encontro com os militares já quase no final da campanha. Isabel Vincent diz também que Lula estabeleceu o Foro de São Paulo, "a group of higly-placed Latin American leftist".



Ainda conforme a reportagem do jornal canadense, Lula "..has on several occasions attended conferences with Latin American terrorists, such as the FARC...and Tupac Amaru rebels in Peru." Diante deste alinhamento de Lula e baseada nos fatos fartamente documentados e testemunhados, Vincent conclui que o presidente eleito representa o retorno para Washington dos sentimentos de ansiedade típicos da Guerra Fria. Ela exagera? Não creio.



A matéria de Vincent acabou virando notícia no Brasil. Numa nota de duas colunas, assinada por Renato Galeno, de O Globo, é dito que a reportagem acusa Lula de ter participado "de conferências com grupos terroristas". Na verdade, a repórter ou suas fontes não fazem qualquer acusação. Eles simplesmente relatam fatos. Basta ler o texto em sua versão original para comprovar. Ou Galeno não o leu direito ou o interpretou sem dar ao leitor o direito de obter a versão correta.

 
  O PT começa a governar

O PT deu o mais concreto sinal hoje de que é preciso parar de festejar Lula e cair na real. Basta de festa e de fantasia. A quarta-feira de cinzas chegou. O alerta foi dado pelo próprio comando do partido, sem intermediários parlamentares. Foi José Dirceu quem declarou há pouco: "a situação no país é muito mais grave do que se imaginava".



O aviso serve para aplacar as expectativas em relação ao novo governo e é uma espécie de senha para todo o partido e seus aliados. Chegou o momento de culpar o governo que sai pela impossibilidade de fazer o que se quer. O teatro da transição civilizada passa agora para o seu segundo ato, o mais conflituoso em que o conforto e o diálogo do início dão lugar a novos humores. Maus.



Para piorar o cenário, o MST reiniciou as invasões e começaram as passeatas de rua em que as bandeiras vermelhas obstruem cada vez mais o trânsito, a visão e o caminhar de quem quer trabalhar. Achar que o PT ou os tucanos, em fim de festa, irão aplacar ou reprimir estas manifestações é o cúmulo da ingenuidade.



O MST não quer a democracia e não estará contente até obter o poder e transformar o país numa ditadura comunista. Suas lideranças, com o apoio da Igreja, vivem e trabalham para isso. A pergunta é saber o que o PT fará com eles. Tempos duros aproximam-se. Mas não foi por falta de aviso.

 
  Libertados e Deportados

Tratada com descaso pela imprensa, a libertação do médico cubano Oscar Elías Biscet, encarcerado por Fidel há três anos no presídio de Holguín, pode ser encarado como o fato do ano em Cuba, pelo menos no que diz respeito aos direitos humanos e à repressão política sobre os opositores do regime.



A notícia da saída de Biscet foi noticiada principalmente pela Reuters e reproduzida por algumas agências online no Brasil, como o Último Segundo. Folha e O Globo nada reportaram. O médico, que vinha sofrendo de uma séria infecção na gengiva que o fez perder três molares, é a mais nova prova da existência de presos políticos em Cuba, fato repetidamente negado pelas autoridades de Havana.



Hoje, o médico contou um pouco mais sobre a sua experiência e relatou com mais detalhes os rigores pelos quais passou e as ultrajantes condições dos presídios cubanos. Já escutei relatos de que em algumas delas, os presos são colocados em pequenos ambientes que formam uma pirâmide invertida o que os impede de ficar em pé ou de ficarem sentados.



Ao mesmo tempo, ainda segundo a Reuters, o Ministério das Relações Exteriores da Suécia informou hoje que um sociólogo e ativista pró-democracia sueco foi deportado de Cuba. Fontes ligadas a dissidentes em Cuba disseram que a polícia deteve Erik Jennische, membro do Partido Liberal da Suécia e secretário-geral da Central Liberal Internacional sueca, depois de um encontro seu com oponentes do governo comunista do presidente Fidel Castro.



Jennische seria um ativo defensor de um emergente movimento de dissidentes cubanos na Europa



Entidades de direitos humanos que patrulham o mundo em busca de violações, não conseguem entrar em Cuba para obter detalhes do regime e o traramento dispensado aos presos e aos opositores. É neste país que vive e comanda um dos ídolos dos partido vitorioso nas recentes eleições no Brasil.


 
  Da série Conversas para Boi Dormir

Rodolfo Konder: quem não o conhece não sabe o que está ganhando



Afastado já há algum tempo da grande imprensa, o veterano Rodolfo Konder ressurgiu ontem em artigo na Folha para falar mal de uns tais “deuses da Destruição”, personagens da estranha e pueril mitologia particular do jornalista, ex-secretário da Cultura do município de São Paulo durante sete (isto mesmo, sete) anos.



Os deuses do imaginário infantilizado de Konder são versáteis. Segundo ele, foram os responsáveis pelas guerras mundiais do século 20 e, pior, pelos “regimes totalitários” na América Latina, menos Cuba, é claro, criação de um deus bonzinho.



Hoje em dia, menos ocupados com a política, apesar de Saddam e Bin Laden, eles são os responsáveis pelas enchentes, inundações e poluição. “No século 21, os deuses da embriaguez e da destruição já não chegam somente nas asas da guerra”, diz o autor.



Mas toda essa história de “deuses da embriaguez e da guerra” não passa de uma grande conversa para boi dormir que leva sua vítima a um sono profundo, o da desinformação e o da ignorância.



O que Rodolfo Konder quer é falar mal do regime militar brasileiro, “totalitário”, uma obsessão para os derrotados, como ele. Os mesmos que todo dia na imprensa dizem que os opositores que pegaram em armas foram vítimas de quem pretendiam derrubar financiados pelo comunismo internacional.



Konder escreve, porém, que “muita gente morreu em consequência da defesa pacífica de suas idéias”. Curiosa noção de pacifismo que inclui entre suas ações os sequestros, os assassinatos, a explosão de bombas, o roubo de armas, bancos e por aí afora.



Ele mesmo um narcoléptico, Konder não poupa a energia dos seus 64 anos para confundir seus desavisados leitores, fazendo crer que não há diferenças entre o autoritarismo dos generais dos anos 70 com o totalitarismo dos regime comunista de Fidel Castro, para ficarmos limitados à América Latina.



Mas prevejo como será o fim do autor. Acho que os próprios deuses da destruição tão mencionados por RK cobrarão seus royalties do próprio discípulo na terra levando-o com eles de volta aos anos 30. O ex-secretário acabará num Gulag, faminto, gelado e nu onde finalmente conhecerá alguns dos verdadeiros carrascos da Humanidade: pessoas de carne e osso feito ele que falam o russo e que têm como chefe um sujeito chamado Josef Stálin.


 
quinta-feira, outubro 31
  A Obsessão de Época

Diz o bom senso que devemos desconfiar sempre das afirmações repetitivas, aquelas que surgem o tempo todo, feito um mantra interminável. É porque, suspeita-se, seu autor procura esconder o contrário daquilo que afirma, utilizando-se do oposto da verdade para encobrí-la fazendo com que ela pareça ser justamente aquilo que revela feito um disco riscado.



A imprensa brasileira, de um modo geral, foi dominada pela suposta conversão de Lula ao estilo moderado e mineiro de fazer política. Foi a campanha inteira assim e continua sendo assim. A palavra moderado, aliás, jamais foi tão usada pela editorias de política e economia dos jornalões e revistas do país. Ela está na boca de repórteres, editores, entrevistados, políticos, as mais variadas fontes.



O que chama a atenção, porém, é o vigor da palavra e a obstinação de quem a profere. É como se a repetição da tese do "Lula Paz e Amor" fosse suficiente para torná-la, de fato, uma realidade. Apesar de todas as informações, argumentos e provas de que o PT ainda está longe do "centro", o importante é fazer crer o leitor de que o partido mudou muito desde que foi fundado.



A revista Época, dirigida por jornalistas de esquerda, atuou durante a campanha sem esconder sua simpatia por Lula. A vitória do petista vem sendo festejada há muito tempo e o número de capas com generosas imagens do ídolo da revista é incontável. Na edição desta semana, a vertigem final. Uma entrevista com José Dirceu, três grandes reportagens sobre os desafios do PT e uma imensa carta do Editor, Paulo Moreira Leite, festejando a chegada ao poder do ex-metalúrgico.



Em praticamente toda a revista, predomina a tese da mudança do perfil de Lula e de seu partido. Em sua correspondência, o editor chega a dizer que é desonesto "deixar de reconhecer que há anos (o PT) caminha em direção oposta (ao das lutas e militância de esquerda)". No rosário de Moreira Leite, Lula virou um Tony Blair e um Lionel Jospin embora seus mais frequentes interlocutores sejam justamente Fidel Castro, Hugo Chávez e até representantes das FARC, alguns reunidos com Lula em Havana a 4 de novembro passado em encontro do Foro de São Paulo.



Apesar do eco prolongado de Época e de publicações como O Globo oriundo da inabalável "constatação" de que Lula e o PT mudaram, em pouco tempo saberemos se a mudança no rumo de ambos acabará por ocorrer em razão dos rituais do poder ou se o cansativo anúncio dela serve mesmo apenas como areia nos olhos dos observadores do processo de transição e da chegada ao governo da mais pura esquerda.



Enquanto isso, tapemos os ouvidos pois o mantra da moderação já encheu o saco.

 
quarta-feira, outubro 30
  Palocci, o Moderado

No reino da fantasia petista e da imprensa brasileira, Antonio Palocci, o homem da transição do PT e prefeito licenciado de Ribeirão Preto é um político "moderado" do mais novo partido governista. A maior parte dos jornais tem vendido o sereno companheiro de Lula assim. O Globo desta quarta, por exemplo, em sua página 4 do primeiro caderno, escreve sobre a transição com o título: "O moderado Palocci vai coordenar a equipe de transição com o governo".



A reportagem de Brasília do jornal utiliza o termo várias vezes, ressaltando as qualidades que parecem ter tomado conta do PT de uma hora para outra. Entende-se por moderado alguém que costuma ouvir seus interlocutores, ponderar entre várias opiniões antes de tomar decisões, conversar demoradamente em torno de uma mesa para optar pelo caminho menos radical e que contemple a maior parte dos interesses em disputa.



Acontece que o "moderado" Palocci não posiciona-se assim, por exemplo, quando o assunto envolve a problemática Colômbia. Foi em sua cidade, no interior de São Paulo, que petistas sob sua esfera de influência abriram um escritório de apoio às FARC, grupo revolucionário que usa o comércio do pó para manter sua luta pelo fim da democracia no país vizinho. A mesma que costuma sequestrar civis e políticos para obter vantagens na guerra cruel que destruiu a Colômbia cujo governo, no passado, foi obrigado a ceder territórios para atenuar a sede da implacável guerrilha marxista.



Mas a maioria dos leitores não tem noção dos acontecimentos. Por que O Globo hoje, ao realizar um pequeno perfil de Palocci não menciona as relações do secretariado de Palocci com as FARC? Pois se isso afirmassem, seus jornalistas cairiam em contradição e não poderiam estampar no texto a tal moderação do personagem destacado para conduzir a transição de governo em Brasília pelo lado do PT.



Uma dica aos repórteres dos jornais que consideram Palocci um "moderado". Façam uma pesquisa no Google com as palavras Farc + PT + Ribeirão e vejam o que podem encontrar no resultado dela. Está tudo lá. Mas não esqueçam de avisar seus leitores sobre o que leram.

 
  Briga entre irmãos

Recebi mais uma carta do leitor Joaquim Orlitz. A respeito do assunto tratado nela, tenho a dizer apenas que as afinidades ideológicas entre FHC e Lula jamais foram afrouxadas durante os oito anos em que o petista fez oposição ao primeiro. O próprio tratamento reservado a Lula pelo presidente durante a campanha não deixa dúvidas quanto aos laços que unem estes dois “combatentes da democracia”, nas palavras de Míriam Leitão.



Guidalli. Um assunto que sempre me deixou perplexo é o aparentemente sincero afeto que demonstra Fernando Henrique pelo Lula. Durante os oito anos do governo Fernando Henrique e, antes, nos quatro do Itamar, Lula fez uma oposição cega, baseada em insultos grosseiros e caluniosos.



Os exemplos seriam inumeráveis para quem se der o trabalho de pesquisar, mas ficou em minha memória a afirmação feita e repetida por Lula de que FH fez a privatização para conseguir caixa dois para sua reeleição. Isso foi uma clara acusação de corrupção, ao que tudo indica inteiramente injusta.



Às vesperas do segundo turno voltou ainda uma vez à carga, dizendo que FH só se reuniu com os governadores para lhes extorquir dinheiro para entregar ao FMI. Acredito até que essa passividade tenha, com o correr do tempo, sido entendida por muita gente como prova de serem justas as acusações, de que FH era realmente o diabo que Lula pintava.



Qual seria a explicação para que todas essas agressôes não tenham deixado ressentimentos, nem mesmo provocado indignação quando foram feitas? É Fernando Henrique um santo? Ou talvez reaja com tanta equanimidade por considerar seu agressor incapaz de compreender o sentido de suas próprias
palavras, por completa ignorância, obtusidade ou demência?



Nesse caso, o que justificaria sua alegria no momento que entrega a condução do país a esse personagem? Esse é um assunto que está merecendo ser analisado por alguém muito mais inteligente que eu. Se alguém entendeu, peço que me explique.


 
  O jeito PT de entregar o poder

O PT se despediu do Rio Grande do Sul da forma que mais caracterizou o partido em quatro anos de governo. Muita baderna,
distúrbios provocados por militantes, arrogância e intimidações.



A imprensa nacional deu pouco destaque mas houve registros de graves ocorrências no final da semana na capital e em cidades como Bagé. Vejam o que relatam uma testemunha e uma vítima das hostilidades petistas:



No sábado, ao passar com meu carro de som em apoio ao candidato do PMDB, deputado Rigotto, fui covardemente agredido pessoalmente, moralmente e materialmente por estes militantes doentios do PT. Chamei a Brigada Militar por três vezes, e depois de mais de 40 minutos eles chegaram no local em que havia solicitado ajuda. Mas já não existia qualquer oportunidade de identificar os agressores. Me aconselharam a evitar pontos de concentração de militantes e fui para casa. Desta agressão resultaram avarias em meu veiculo e no equipamento de som. Me pergunto se um partido político como este, que não reconhece atitudes do tipo de sua militância, pode assumir qualquer responsabilidade no país? O melhor é esperar o 1º de Janeiro, data esta que com certeza irá melhorar a moral política do RS



Outro relato:



Ontem, dia 26, sábado, por volta de 21h, uma van parou em frente ao comitê do Dep Lara, em plena Av Tupi Silveira, uma das
principais de Bagé e dela desembarcaram diversos indivíduos trajando camisas vermelhas, que passaram a agredir os militantes que faziam campanha para o candidato Germano Rigotto ao governo do Estado. Posteriormente invadiram o comitê e lá promoveram uma grande destruição. A polícia foi chamada e não compareceu. Ato contínuo, dirigiram-se ao comitê Rigotto Governador, no Iporã Center, na Av Sete de Setembro, principal artéria da cidade, onde repetiram os atos de vandalismo. Segundo os adolescentes, que participavam do comitê do Dep Lara, eles portavam pedaços de pau. Mas afinal, trata-se de Bagé, RS ,outubro de 2002 ou Munich, Alemanha, outubro de 1933? A diferença parece ser a cor das camisas.

 
  Os Combatentes da Democracia

Míriam Leitão, a colunista do Globo saudou calorosamente em sua coluna de ontem o tal “processo democrático”, que em seu último capítulo elegeu Lula presidente do Brasil. Seu entusiasmo foi tanto, que a jornalista chegou a escrever, no último parágrafo de seu artigo, que FHC, Serra, Lula, José Dirceu e José Genoíno são todos “combatentes da democracia”. O mérito deles foi o de conduzir o espetáculo sem sobressaltos e de forma madura, consolidando o regime atual.



O passado destas figuras, entretanto, não permite a Míriam Leitão escrever o que escreveu, sem observações que expliquem melhor a história pessoal destes personagens. Todos foram obrigados a se acostumar com a Democracia em função das circunstâncias, do destino e, no caso de Genoíno e de José Dirceu, porque perderam a luta armada contra o regime militar que, depois, permitiu sua reinstalação no país.



Todos foram embalados no berço do marxismo, que repele as democracias capitalistas e que deu origem aos piores regimes
totalitários do século 20. Todos militaram em favor do socialismo, alguns mais, outros menos. O exílio de alguns deles não significa que tenham sido sacrificados por lutar contra o autoritarismo já que foram idealizadores de algo não muito diferente.



Como professores/estudantes (FHC e Serra), guerrilheiros/agentes (Genoíno e José Dirceu) ou sindicalistas (Lula), tinham como
adversário o general-presidente de plantão sem que isso representasse, automaticamente, a paixão deles pela Democracia. Se hoje,
eventualmente, como quer a colunista, combatem em favor dela é porque adaptaram-se e tornaram-se políticos vitoriosos nela. Mas esta adequação aos rumos do país nem sempre quer dizer estar de acordo com eles.



Miriam Leitão repete o que já virou uma mania na imprensa: a de glorificar opositores do regime militar como se fosse democratas. Este é um dos maiores mitos do país criado por eles mesmos com a ajuda dos jornalistas que o repetem. Quando um Genoíno ou José Dirceu dizem numa entrevista que lutaram pela Democracia, ninguém é capaz de contestá-los e de apontar a verdade. Ouvem como se não estivessem ouvindo absurdos.


 
terça-feira, outubro 29
  Putin apanha

A imprensa internacional majoritariamente controlada pela esquerda elevou o tom hoje nas críticas que começou a fazer ao presidente russo desde que Vladimir Putin mandou sua tropa invadir o teatro em Moscou tomado pelos terroristas chechenos.



Segundo o Nahum Sirotsky, cuja fonte em Moscou assegurou-lhe a procedência da informação, o gás utilizado pelas tropas foi mesmo o BZ, substância que já teria sido usada pelos EUA na Indochina. Se mesmo sem ter confirmado que usou o BZ Putin já está apanhando, imaginem se o fizer. A mídia mais radical apressa-se agora em transformar os terroristas em vítimas e os russos em assassinos cruéis que deveriam ter negociado antes de agir.



A ação de Putin pode ter sido desastrada mas ele evitou coisa muito pior. As chances de os chechenos explodirem tudo e matar assim 700 pessoas eram bem plausíveis e a minha opinião é a de que o líder russo agiu corretamente, em que pese a centena de mortos. Opinião que vejo partilhada pelo Le Figaro, um jornal ponderado, distante do tom raivoso de um Le Monde, porta-voz internacional da mídia comunistóide.





 
  Hora do Recreio

Esta página não aguenta mais veicular notícias e comentários sobre o novo governo. Uma pausa no tema, portanto, faz-se necessário. Alertado pelo Pedro Sette Câmara, fui visitar o portal português Repórter Clix (www.clix.pt). Vejam que bela nota encontramos lá sobre o palpitante assunto da depilação púbica. Só os portugueses para criar texto tão bom assim em nossa língua:



Depilação



Praça púbica



Uma álea de frondosos choupos ou a plenitude marmórea de um largo? Se a floresta indominável dominou os anos 70, hoje a época é outra: é tempo de jardinagem. A depilação púbica devia ser provavelmente abordada por uma mulher, com experiência directa no assunto, mas que diabo: a opinião masculina não conta? Descubram quantos pêlos são suficientes para nos seduzir.



 
  Zé Dirceu, um democrata no Roda Viva

O melhor da noite ontem na TV não foi a entrevista de Lula no Jornal Nacional. Foi a de quem irá mesmo comandar o país dos bastidores, José Dirceu, ao Roda Viva, da TV Cultura. O presidente do PT foi entrevistado por alguns dos mais conceituados jornalistas do país, como Luis Nassif, Eliane Cantanhêde, Ricardo Noblat e Ascânio Seleme. Nenhum deles, porém, "apertou" Dirceu e o tom da entrevista foi o das amenidades levemente rompido uma vez ou outra.



De interessante no discurso de José Dirceu, algumas imprecisões. A primeira , de que lutou a vida inteira pela democracia, segundo ele mesmo. Dirceu foi agente secreto de Cuba. Banido pelo governo militar, voltou para organizar o MOLIPO, agremiação guerrilheira que lutou para destronar os militares e instalar pora qui não a democracia mas um regime pior, comunista.



Perguntado sobre por que era considerado o "sombra", aquela figura que age longe da luz, nos bastidores, disse que era um exagero e que sua vida era pública há mais de 30 anos. Foi corrigido por um jornalista que lembrou-lhe dos quatro anos em que viveu com outra identidade, no interior do Paraná. Mas aí não era Dirceu, era Carlos, o nome que inventou para seu personagem que até casou e teve filhos no período.



Apesar de ter sido agente de Fidel Castro e de ter mudado até a fisionomia de seu rosto algumas vezes, José Dirceu acha injusto ser apontado como "o sombra" de Lula. É verdade que está adequado à Democracia (foi forçado a isso graças ao regime militar que o impediu de seguir com seus planos e que depois abriu o país) mas seu discurso permanece ambíguo demais.



Em outro momento da entrevista, por exemplo, o presidente nacional do PT disse que o jogo democrático prevê a alternância no poder e que o PT havia se acostumado a isso, ora ganhando aqui, ora perdendo em outros lugares. Disse que a sociedade precisa ser assim, não é possível ficar 20, 30 anos no poder, para ele hoje isso é inconcebível.



Diante desta declaração, tão contundente, nenhum jornalista lembrou-se de citar Cuba, como exemplo contrário das afirmações do entrevistado. Sim, a velha Cuba de Fidel há quase 50 anos no poder e que tem capítulo especial na biografia de José Dirceu pode ser descrita como uma aberração? Ou é um caso especial? Mas ninguém perguntou a respeito.



Para encerrar, Dirceu comentou sobre o MST. Disse mais ou menos aquilo que já havia afirmado uma fonte dentro do PT e cujas impressões eu publiquei nesta mesma página. O PT vai fazer a reforma agrária possível e espera que ela agrade a Stédile e sua turma. Nada mais foi prometido. Veremos como agirá o aliado petista no campo. Sabemos que o PT, e José Dirceu deixou claro isso ontem, não irá controlar as manifestações públicas. Suponho que as invasões de terra também não.

 
  Lula no JN

É verdade que fomos todos poupados de ter que escutar uma salva de palmas na redação da Globo em SP para o presidente eleito. Por um momento, durante a entrevista de Lula a Bonner, achei que talvez os jornalistas seriam capazes de fazer isso, mas viu-se afinal que apenas a memória de Tim Lopes mereceu tal consideração.



O Jornal Nacional tentou tirar de Lula em sua edição de ontem algum nome, algum novo ministro, o presidente do BC, mas ficou chupando dedo. Teve algo até de patético a insistência de Willian Bonner em tentar arrancar de Lula o sucessor de Armínio Fraga e notou-se sua zanga quando percebeu finalmente que dali nada tiraria. Quase fez bico.



Conheço muito bem os jornalistas. Neste caso, eles queriam uma espécie de compensação pelo generoso ambiente que criaram para Lula, convidado a ver a edição em sua homenagem dentro dos estúdios da redação da Globo. Obter dele uma notícia inédita e naquelas circunstâncias seria o ideal para o telejornalismo da Globo, mas o ex-metalúrgico agora presidente não contribuiu. Os petistas estão calados e nenhuma notícia escapou da boca da cúpula (ainda não li os jornais desta terça). Sinal de que poucas fontes, de absoluta confiança, concentram as informações mais sigilosas, como o nome do futuro presidente do BC.



De resto, o Jornal Nacional manteve o padrão que costuma utilizar em momentos cívicos, uma mistura de puxa-saquismo, muito povo chorando, rezando e gritando emocionado. Suor, voto, bandeiras e lágrimas. Mas no meio disso tudo, percebeu-se o tamanho da confiança voltada para Lula. Se eu fosse o presidente eleito, estaria com medo. Prefiro o Bonner e sua esposa entrevistando candidatos. Quando um deles vira presidente, acontece o que assistimos ontem.

 
segunda-feira, outubro 28
  E lá vamos nós...

A terminologia característica das esquerdas predominou no discurso oficial que Lula proferiu nesta segunda como presidente eleito. Menos militante que o da madrugada, voltado quase que exclusivamente para seu público interno, a fala desta tarde foi mais abrangente e protocolar. Mas foi um discurso de um típico representante das forças socialistas, que poderia estar na boca de um Chávez, de um Fidel ou de qualquer outro líder terceiro-mundista



O texto elaborado pela cúpula petista para ser lido por Lula tem expressões como "camadas oprimidas", "combate em favor dos excluídos e dos discriminados", "combate em favor dos desamparados, dos humilhados e dos ofendidos", "das classes populares", "herança histórica de desigualdade e exclusão social", "globalização solidária e humanista", "estrutura internacional injusta e excludente" e por aí afora.



Mas Lula disse mais. Deixou claro que o Brasil irá ampliar o alinhamento com a picaretagem internacional das ONG´s financiadas pelas grandes fundações e pela ONU e que dará apoio a monstruosidades como o TPI, o Tribunal Penal Internacional, uma criação diabólica que antecede o governo mundial tentacular idealizado pelas Nações Unidas.



Especialmente este trecho, "Nosso governo será um guardião da Amazônia e da sua biodiversidade. Nosso programa de desenvolvimento, em especial para essa região, será marcada pela responsabilidade ambiental", quer dizer que o Brasil manterá a região sob controle das entidades ambientalistas que a querem congelada. Não por acaso, todas têm sede na Europa onde são protegidas e sustentadas por governos e corporações que não desejam a exploração da Amazônia pelo Brasil.



Os índios, manipulados, deverão ganhar mais terras e ficará cada vez mais difícil para os próprios brasileiros entrar em territórios demarcados que equivalem ao tamanho de uma Bélgica ou uma Holanda. Imobiliza-se assim, com o apoio da frivolidade e da arrogância intelectuais, as maiores reservas minerais do mundo.



Caberia a um jornalista perguntar também como Lula combaterá o narcotráfico, assunto presente em seu discurso de hoje, visto que o PT mantém relações de apoio com as FARC, atualmente as principais fornecedoras da coca para o crime organizado no Brasil. Ou o PT rompe com as FARC ou terá que rasgar o primeiro discurso de seu presidente eleito.



E a maioria dos jornalistas quer fazer crer aos leitores que Lula governará ao centro e que sua história esquerdista é coisa do passado. Pois a farsa acaba de desmoronar 24 horas após o resultado das urnas diante do primeiro discurso oficial.


 
  O Profeta do Caos

Raymundo Negrão Torres, de Curitiba, escreveu o texto abaixo. Vejam o que achou em seus arquivos:



Neste momento em que o PT elege o Presidente da República, vale a pena relembrar o que disse à Folha de São Paulo, no mesmo dia da promulgação da Carta Constitucional de 1988, o então deputado federal Florestan Fernandes, um dos ideólogos do PT:



"...Devido à reação, o pêndulo balançou contra a democracia, contra a Nação e anulou todas as rupturas que deveriam ser desencadeadas pela Constituinte e, depois, pela própria Constituição... mas abriu muitos caminhos e contém promessa clara de que, nos próximos anos, as reformas estruturais reprimidas serão soltas. O nó da conciliação será desatado e a luta de classes não ficará mais contida pelo despotismo da ordem... Os de debaixo poderão empregar a violência para atingir seus fins..."



Quatorze anos depois, a profecia do velho comunista nunca pareceu tão próxima de se realizar, principalmente depois que o “joão batista” Fernando Henrique Cardoso endireitou as veredas para a chegada ao Planalto do “velho companheiro das madrugadas nas portas das fábricas”. E voltam assim, os herdeiros dos promotores da “marcha da insensatez” dos idos de 1964 a ter em suas mãos o Governo Federal. Resta saber quem lhes barrará o acesso ao Poder.


 
  Os socialistas conquistam a Paulista

O primeiro discurso do presidente eleito, feito no começo da madrugada desta segunda numa avenida Paulista abarrotada de militantes esquerdistas e de outro tanto de eleitores, teve como principal interlocutor o público interno do PT e dos partidos aliados, principalmente o PCdoB e até de setores do PMDB, como o MR-8. Estes setores tiveram a honra de serem os primeiros destinatários da fala presidencial do recém-eleito.



Lula poderia ter ampliado logo de início seu horizonte mas preferiu concentrar-se nos "companheiros" de luta quando ao palanque improvisado na rua que simboliza o capitalismo brasileiro subiu tendo como companhia membros da cúpula do PT. Na lista de agradecimentos, menção especial a João Amazonas, o homem que passou a vida lutando para instaurar no Brasil o comunismo. Sérgio Buarque de Hollanda, o "pai do Chico", também foi lembrado. Atrás de Lula, uma risonha Marta Suplicy a tudo aprovava com expressão de nostalgia.



Mas ainda ontem Lula fez questão em vários momentos de prestigiar o candidato derrotado ao governo de SP, José Genoíno. O presidente eleito, com os gestos, mostrou que o PT não costuma aceitar facilmente uma derrota e é preciso mostrar ao país que mesmo de disputas sem sucesso, seus candidatos saem vitoriosos. "Genoíno, você não perdeu, você saiu altamente vitorioso", disse Lula, já em palanque. Um homenageado meio apatetado ergueu os braços. Será ministro.



Lula também escolheu o vice, José Alencar, para homenagear. O homem de dois milhões de reais (ou dólares?) e que representa o capital escutou que será o parceiro do presidente e não apenas o seu vice. Será interessante notar como irão comportar-se os petistas históricos ao lado deste estranho no ninho socialista e de que maneira ele irá mesmo fazer algo além do que fez o Marco Maciel, o Aureliano Chaves de FHC.



Vamos aguardar o discurso do presidente empossado porque o do eleito foi sem surpresas.

 
domingo, outubro 27
  Duas notas curtas

1. Lula trocou o nome do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em seu breve pronunciamento como presidente eleito. Disse que o órgão era o "Superior Tribunal Eleitoral". Disse também, num ato falho, que se não fossem os dirigentes do partido não teria sido o "Lulinha paz e amor" da campanha. Ele realmente não precisa mais do personagem que lhe deu a vitória. Já pode abrir o jogo, mas não precisava assim ser tão cedo.



2. Confesso também que é muito bom ver o José Serra derrotado. Mas a derrota para Lula não atenuará sua natureza arrogante. Serra sabe muito bem que pelo menos metade dos seus eleitores nele votaram por falta de outra opção contra o PT. E sabe também que em 2006 terá outros políticos muito mais competentes que ele a fazer-lhe sombra: Aécio Neves e Geraldinho Alckmin, por exemplo. Acho que sua única chance de conquistar a Presidência acabou de passar.

 
  La Cruvinel ataca de novo

Tereza Cruvinel, principal porta-voz do petismo entre os colunistas políticos da grande imprensa, foi escalada, naturalmente, para realizar o último perfil de Lula para O Globo, no fechamento da campanha.



O texto de La Cruvinel foi publicado neste domingo e vê-se que ela cumpriu maravilhosamente bem a tarefa. Não vou analisá-lo porque ele apenas é mais um de tantos outros iguais, a dizer os chavões a respeito da biografia de Lula que se tornaram comuns desde o início da campanha.



Na verdade, a colunista mostrou-se também que cultua um grande mito: o de que os opositores armados do regime militar eram homens bons, vítimas quase inocentes que, ansiosas por ter de volta a democracia, tombaram na guerra contra o autoritarismo.



Não deveria surpreender-me com mais uma adoradora deste mito entre os jornalistas mas achei que La Cruvinel teria um mínimo de pudor em revelar-se parte dos seus cultuadores.



Vejam o que ela diz logo no primeiro parágrafo de seu texto em homenagem a Lula, matéria sob o título “O PT, 22 anos depois: do radicalismo ao pragmatismo” e que ocupa uma página inteira no primeiro caderno do jornal.



Brasil, ame-o ou deixe-o. Ainda na ditadura, tortura, perseguição e exílio....Os sindicatos calados. No desespero, muitos perderam a vida na luta armada.



O que a jornalista quis dizer foi que, desesperados por derrubar os autoritários e reimplantar a Democracia, muitos opositores do regime pegarem em armas para morrer, num gesto heróico.



La Cruvinel sabe mas não revela para não prejudicar o mito, que os opositores armados do governo militar queriam instalar aqui ditadura muito pior do que aquela que tentavam vencer. Financiados por Moscou e por Havana, Genoíno, Marighella, Lamarca e seus companheiros não estavam desesperados por nada. Sabiam e conheciam muito bem os riscos que corriam em nome do comunismo que seguiam e que pretendiam ver instalado no Brasil.



Com a ajuda de Tereza Cruvinel, o mito permanece, imbatível, e sua vida será longa ainda mais agora que os derrotados assumiram o poder para perpetuá-lo na História.


 
  A Grande Revanche

Derrotado nos anos 70 na guerrilha montada com recursos do comunismo internacional para derrubar o governo militar, na região do Araguaia, José Genoíno talvez não imaginasse que a democracia que tanto combateu junto com o regime dos generais-presidentes reservaria a ele a oportunidade de comandar as Forças Armadas, suas inimigas 30 anos atrás.



Hoje, domingo, foi a Folha (´Sob pressão, PT tenta adiar ministério` pág. Especial 3) quem comentou a possibilidade de Genoíno ganhar o Ministério da Defesa, já criado com a intenção de enfraquecer o poder dos militares, afastando-os das reuniões ministeriais e das principais discussões do governo.



Já disse nesta mesma página que a ida de Genoíno para a Esplanada dos Ministérios é um símbolo para as esquerdas, humilhadas na luta armada suicida que fizeram contra o regime militar. Ter as Forças Armadas sob seu comando representa a revanche, a vingança suprema para os terroristas que morreram e para os anistiados, ex-sequestradores e ex-guerrilheiros que voltaram no começo dos anos 80.



Além das milionárias e injustificáveis indenizações que já receberam dos tucanos por terem sido ´vítimas´ do regime militar, agora poderão rir à vontade, e com a conta recheada, com o que o destino generosamente lhes brindou.


 
  ”O processo democrático do amadurecimento político do país”

A bobajada no título acima está na boca dos jornalistas, cientistas políticos, especialistas em eleições, candidatos, parlamentares e por quase todos aqueles que desfilarem nos debates da TV ao longo dos próximos dias.



Agora há pouco, naquele circo com mesa redonda que só a Band sabe produzir aos domingos, um dos debatedores saiu-se com essa frase, que é um resumo perfeito da debilidade mental dessa gente convidada para “debater” o chamado “processo eleitoral” que culminou na “ fantástica” vitória de Luis Inácio Lula da Silva. Um blá-blá-blá intolerável e muito característico deste tipo de jornalismo.



Costuma-se dizer nesses encontros mais ou menos o seguinte: a campanha foi democrática, discutiu-se de tudo, houve inúmeras chances para o debate de idéias e o povo, soberano e maduro, optou pela mudança. “Uma lição do Brasil para o mundo...”, nas palavras de Aloizio Mercadante.



Sabemos, no entanto, que muito pouco foi debatido em profundidade. A campanha foi do marketing, um grande aparato midiático a mostrar a superficialidade das idéias que impediu que assuntos e fatos fundamentais chegassem ao eleitor. Com o apoio da mídia, a candidatura oposicionista, por exemplo, conseguiu esconder as relações que mantém com o que há de pior na América Latina e os podres do tucanato sequer foram explorados por quem quer que seja.



Nessa campanha de comadres, nem o PT utilizou a farta munição, aquela das privatizações, por exemplo, nem o PSDB usou, sabe-se agora, imagens da reunião do Foro de São Paulo em que Lula aparece ao lado dos representantes das FARC em Havana um ano atrás.



Mas irão dizer que a campanha foi civilizada e que venceu a democracia. E precisaremos tolerar tudo isso com muito bom humor.


 
  Gaiatices (ou mãos que se esfregam)

Obviamente, mais uma vez, coube ao Olavo de Carvalho em sua coluna no Globo registrar as ações do PT que são rigidamente engavetadas e omitidas na grande imprensa. Não fosse ele e pouquíssimas pessoas teriam a informação do infeliz destino do blog Anti-Lula (http://antilula.blogspot.com), fechado antes que a pata vermelha o fizesse via judicial.



Só mesmo alguém muito ingênuo seria capaz de acreditar que o fechamento do blog acabaria sendo noticiado em colunas como a de Ancelmo Góis, um dos amigos fiéis do futuro presidente na mídia e que passou a campanha inteira falando sobre o surgimento de páginas na Web criadas para atacar ou criticar este ou aquele candidato.



Quando as páginas eram contra o PT, eram "coisas de gaiato". Quando eram contra os adversários do partido, o tratamento era mais sério devendo o leitor acreditar na legitimidade de tal página. Mas por falar em gaiatice, o próprio "gaiato-mór", Ancelmo Góis, fez questão de registrar neste sábado que o comitê de campanha de Lula parou para cantar os parabéns em homenagem a Bernando Kucinski, velho militante do PT.



Kucinski é jornalista e um dos principais colunistas do Observatório da Imprensa onde tem total liberdade para escrever, inclusive para puxar as orelhas do editor, de vez em quando. Mas o fato de um Kucinski da vida ter o poder que tem no Observatório não é motivo para que Alberto Dines confesse que seu serviço de "media watch" é uma farsa que só patrulha mesmo a mídia que ainda não é petista.



Sempre que escrevo sobre os velhos jornalistas que servem ao PT há anos e que agora chegarão ao poder, lembro-me de uma imagem de Hermann Goering num documentário em que ele aparece esfregando as mãos logo após a anexação da Tchecoslováquia pela Alemanha nazista, ainda na sala em que ela foi assinada, em Berlim ou Praga, não sei. Esta expressão com os braços e suas extremidades representa impaciência e ao mesmo tempo a felicidade diante daquilo que finalmente conquistamos. Estão todos a esfregar as mãos numa hora dessas por todas as redações do país.


 
  A Festa da Mídia

A semana que começa promete. Será, sem dúvida, a mais agitada do ano para a imprensa. Serão centenas de reportagens, textos e artigos sobre a vitória "inédita" do ex-metalúrgico, o processo de transição, a especulação e as primeiras confirmações dos novos ministros. Colunistas e jornalistas irão competir pela exclusividade e, em tese, deverá ganhar quem tiver as melhores fontes dentro do PT. Ao longo dos últimos meses, vimos uma série deles aproximando-se de membros da cúpula do partido. Vão querer agora a informação prometida, a dica protelada, o "off" adiado.



Revistas como Época e jornais como O Globo devem liderar a chamada nova imprensa chapa-branca. Não que já não sejam governistas. Agora, estas publicações, controladas pela organizações Globo irão somente aumentar o tom em favor do novo governante. Lula deverá aparecer em capas com imagens generosas de sua figura, mais uma vez sorridente, cordial, típica de quem superou desafios com "humanidade".



De outras revistas espero um pouco mais de sobriedade, mas é impossível garanti-la. Veja, que vem expressando-se de forma ambígua em relação ao PT, também deve seguir pelo caminho emocional, porém, de forma menos piegas. Seja como for, o PT terá a imprensa a seus pés, muito mais do que já a teve em 22 anos de excelente relacionamento.



Não irá demorar para que os principais líderes do partido passem, no entanto, a se incomodar com o novo papel que a partir de agora terão que cumprir no que diz respeito ao relacionamento com as redações. O PT sempre contou com a ajuda dos jornalistas para denunciar, para incomodar adversários ou para sustentar suas ambições e projetos. Agora, estas fontes terão que conviver com o puxa-saquismo mais descarado de um lado e com eventuais rompimentos de outro.



Será interessante, já disse aqui em outro comentário, perceber as primeiras faíscas entre o novo governo e setores da imprensa. Sabemos todos da histórica aversão do PT às críticas, da maneira refratária com que age a uma simples objeção, a uma observação menos amistosa. Por uma questão de credibilidade e de reputação, os maiores jornalistas do país e que apóiam o PT, como um Jânio de Freitas ou um Clóvis Rossi, deverão estabelecer limites na aprovação ao que fará Lula a partir de janeiro.



Eles seguramente darão um prazo para que Lula mostre seus primeiros acertos mas não acredito que jogarão pela janela anos de estrada ao manterem-se fiéis ao PT quando o partido, agora no poder máximo da República, começar a errar. Veremos como reagirão eles ao modo PT de encarar as críticas. A menos que estes jornalistas prefiram o apoio cego ao respeito dos leitores, haverá briga.



Outros colunistas, como Ancelmo Góis, Tereza Cruvinel e Luiz Fernando Verissimo, sem falar em Marcio Moreira Alves, permanecerão alinhados ao PT por mais tempo e servirão como uma espécie de contraponto aos colegas menos dóceis. É bem possível que usem da ironia aqui e de um deboche acolá para mandar recados a membros do partido e do novo governo que venham a abusar do radicalismo. Já se vê isso por estes dias. Nada, entretanto, que possa afrontar líderes como José Dirceu, Antonio Palocci ou até mesmo o presidente.



A chamada base do Jornalismo, ou seja, a reportagem (no caso a política), terá afrouxadas ainda mais as amarras da imparcialidade e deverá mergulhar de cabeça na lisonja e no amparo ao novo governo. Trabalham nela os jornalistas mais fanáticos pelo PT e pelo marxismo e não devemos nos esquecer jamais do comportamento de jornais como o Valor Econômico, cujos repórteres especiais e colunistas do setor político, salvo uma ou duas exceções, não se cansaram de apoiar o PT nos espaços mais nobres do jornal.



Para resumir, preparem-se todos para uma festa de confetes nunca antes vista. Há 22 anos que os jornalistas esperam por este momento e eles irão fazer dele algo inesquecível na imprensa que controlam. A emoção tomará conta das redações, num êxtase quase dionisíaco. O leitor terá que sobreviver a isso.

 
Felix qui potuit rerum cognoscere causas

e-mail - guidalli@gmail.com

Editor: Sandro Guidalli

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