Guidalli,
Perdão importuná-lo com assunto tão prosaico, mas é vergonhoso o que a
mídia está fazendo em São Paulo. Ontem a cidade viveu mais um dia de
caos absoluto durante e após a costumeira chuva de verão. Em tempos
passados - prefeituras não-petistas - evidentemente a cobertura de hoje
seria sobre a incompetência da prefeitura, a corrupção, a falta de ação,
o dolo dos que estão no poder etc..
Em tempos atuais - prefeitura petista - a mídia (pelos menos rádio CBN,
Folha e Diário de S. Paulo) aponta outros culpados:
1. surpresa!: a própria chuva (será que até a natureza está contra o
PT?...),
2. o governo do estado, que obviamente não fez nada para resolver o
problema da Grande São Paulo (aliás, boa parte dos problemas são nos
municípios do ABC, há muito governados por quem?),
3. outros como o transporte individual (claro, temos que usar o
coletivo) e acho que, em breve, estarão apontando o aquecimento global
(que está colocando a natureza contra o PT - e assim fechamos o ciclo).
Não sei porque ainda experimento esse sentimento de indignação...
Abraço
M. Pellegatti
Carlos Reis - Rogério Mendelski foi demitido da RBS. O PT deve estar comemorando! Que empresa não precisa de 300 mil reais por mês? Era o que o Mendelski faturava para a empresa. A RBS deve ter achado um filão mais rico, talvez escondido em meio às promessas e garantias do Sapo-Rei. Um dia o motivo vai ser explicado Tim-Tim por Tim-Tim.
Mendelski, para quem não o conhece, era o jornalista (processado) mais contundentemente contra o totalitarismo petista. Em seu horário, há 15 anos, a denúncia contra os crimes petistas só era calada pelo horário eleitoral, quando todos nós ficamos calados. O horário eleitoral permanente já começou. Sacaram?
João Pedro Stédile, chefão do cartel do MST, disse em Santa Cruz, RS, capital da indústria fumageira gaúcha, que o fumo já era. Bem feito para milhares de fumageiros que foram na conversa do PT e se deixaram chantagear pelo PRONAF, aceitando suas copiosas verbas, algumas delas vultosas e obtidas fraudulentamente! Conheço alguns deles. Aqui no RS o PRONAF foi usado escandalosamente pelo PT no governo Olívio Truta, e o Kerenski e o Pratini faziam que não viam! E agora, no governo Rizzoto? Como vai ser? Esse corajosíssimo cavalheiro enfrentará o monstro petista, impedindo o uso político e ideológico do PRONAF ou similar, ou fará olho branco como o seu inspirador, FHC?
No mesmo jornal das más notícias, Lula ameaça com o fim do Banco da Terra, nome oficial da demagogia da reforma agrária para FMI ver do Kerenski brasileiro. É o fim do Banco da Terra, mas não dos seus 328 milhões de reais prontinhos para cair nas mãos de “assentados”. Aí tem! A mesma notícia dá conta da política de desapropriação de terras e propriedades rurais. É a coletivização forçada – os kholkozes russos de Stalin da década de trinta. No início foram os decretos de Lênin que desapropriavam terras e as passava ao controle do estado. Como naquela época e hoje, os anarquistas queriam e querem a desapropriação na marra. Nenhuma novidade para quem não é cego e conhece a história. No fim, as terras ficam com o Estado mesmo e sua nomenklatura parasitária. Alguém aí adivinha quantos serão desses vermes? 50 mil? 70 mil? No Governo Provisório de FHC eram 22 mil!
No mesmo assunto, a canalha da batina se regozija com a visita de Lula ao covil da CNB do B. E o jornal ainda saúda o evento como inédito. O que não dirão da visita de Fidel no dia da posse do seu pupilo? É inédito. É claro que e é inédito! O país nunca teve um governo comunista!
O terrorismo internacional, filhinho levado da breca do socialismo internacional, e apadrinhado da União Européia e do prostíbulo internacional da ONU, acaba de detonar Israel até na África, Kenia. Também nesses dias a Nigéria entrou para o rol dos países dominados pelo pensamento mais maligno e diabólico do século, que aliás, começou por eles. A pretexto de coibir desfile de miss qualquer coisa e, também a pretexto religioso, uma turba fanática e assassina produziu 200 mortes. A guerra de Bush contra Saddam Hussein aumentará a escalada dessa loucura a limites insuportáveis. Era hora do Brasil estar à altura desses gravíssimos acontecimentos. Just in time, entretanto, elegemos Lula e o obscurantismo petista igualmente criminoso. Vai ficar para a próxima vez, isso se interesses americanos e israelenses no Brasil não se transformarem em alvo dos terroristas muçulmanos. Não será Lula que os impedirá!
Por fim, faleceu ontem, aos 90 anos de idade, o desconhecido jornalista Amadeu Cupim, pseudônimo menos conhecido ainda do que Armando O’ Rego, o Botafora. O desconhecido jornalista e também incógnito escritor de contos de terror das noites gaúchas, sofria de doença igualmente desconhecida, pelo menos para os médicos, a qual o deixou inválido, pelo menos para escrever, pelos últimos 4 anos. Ele também não tinha as duas mãos, o que o atormentava muito ao ditar seus escritos para uma secretária surda e um editor marxista, que era cego de nascença. Trabalhou para os outros a vida inteira.
É brincadeirinha pessoal, o Cupim é uma fantasia literária minha igualzinha ao governo do Lula! O Rogério Mendelski não admite, mas no íntimo deve estar se sentindo que nem o Amadeu Cupim! Oremos!
Encerro hoje a polêmica nesta página sobre o caso Ustra-Bete Mendes (mesmo porque o assunto, por mais interessante, como tudo, uma hora excede.) No começo da semana, O Globo publicou uma matéria sobre o lançamento dos livros do Elio Gaspari. A ilustrá-la, o editor resolveu criar uma galeria com fotos dos "personagens" do período estudado pelo jornalista. Estavam lá, entre outros, o dominicano comunista Frei Betto, o economista Delfin Netto e Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI, um dos principais centros de tortura durante a repressão ao terror na década de 70 e que surge no contexto da reportagem como o torturador reconhecido da atriz Bete Mendes.
Sendo eu um crítico da imprensa brasileira que, entre seus defeitos, está o da preguiça na apuração dos fatos e o da paixão ideológica que reduz a realidade ao confronto marxista da história, resolvi mandar uma carta ao jornal ponderando que, no caso de Ustra, as acusações contra ele de ter torturado a ex-militante e atriz eram passíveis de investigação sendo o caso, como se sabe, muito polêmico. Dei a entender que tomar como verdadeira a acusação da atriz era, no mínimo, uma imprecisão com resultado danoso para a imagem do acusado em que pese o seu papel na luta pela repressão.
Se Ustra mandou torturar ou era conivente com a prática da tortura, cabem aos historiadores, jornalistas e pesquisadores apontar. Há declarações de pessoas que o defendem, dizendo que Ustra jamais "sujou as mãos". Eu, particularmente, também acredito nisso o que não o livra dos julgamentos da história. Além disso, sempre haverá controvérsias sobre o momento pelo qual passava o país e sobre a necessidade do emprego da tortura em tais circunstâncias. Nesta questão, porém, o que venho salientando é a falta de cuidado com que a mídia trata temas similares a este, não discernindo ações particulares do complexo contexto em que a história da guerra entre militares e revolucionários se desenrolou.
Abaixo estão a carta publicada, a resposta da redação do jornal e um comentário meu sobre ela.
1. A carta que enviei ao Globo:
Na edição de segunda-feira me deparei com uma foto do coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra a ilustrar a reportagem sobre o que seria uma nova
polêmica tendo como ponto de partida o lançamento dos livros sobre o regime
militar do jornalista Elio Gaspari. Ustra aparece como o torturador
reconhecido pela sra. Beth Mendes alguns anos atrás entre outros
personagens de tais livros. Se o jornal tivesse tido o cuidado de examinar
o caso, teria constatado que ele se resume apenas a uma acusação sem
provas, posto que nunca houve elementos concretos que pudessem sustentar o
que diz a atriz. É a palavra dela contra a dele e uma série de indícios que
levam qualquer pesquisador isento a acreditar na inocência desse militar. O
coronel, aliás, escreveu um livro sobre o tema e eu mesmo, como jornalista,
já tomei depoimentos de outras presas sob sua custódia na época e que
negaram que o coronel as tivesse torturado. Como se não bastasse, a
reportagem não menciona trechos do livro do jornalista em que ele cita o
coronel Ustra. Afinal, os que ainda não leram o livro de Elio Gaspari ficam
sem saber se o coronel Ustra é mesmo seu personagem. Se não é, qual a razão
para a foto dele estar presente a ilustrar a reportagem?
2.A resposta da redação do jornal:
A referência ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra na reportagem se
deve ao fato de ele ter sido personagem ativo naquele período. Ustra, ou
“Doutor Tibiriçá”, seu codinome, está citado no “Tortura Nunca Mais.” Ele
comandou o Destacamento de Operações Internas (DOI) de São Paulo, contra o
qual há 726 denúncias de torturas. Neste contexto é que Brilhante Ustra
aparece no livro de Elio Gaspari.
3.Meus comentários sobre a resposta:
É preciso esclarecer que Ustra não surge no livro de Élio Gaspari como o torturador reconhecido de Bete Mendes. Até onde li do volume que relata fatos a partir do AI-5, Ustra é citado três vezes, na página 26, ele é referência bibliográfica, já que escreveu o livro "Rompendo o Silêncio", fonte de informação para o autor. Quem respondeu minha carta pelo jornal deveria ter explicado isso, ou seja, Ustra é personagem sim mas como chefe do DOI e não como o torturador de Bete Mendes como dá a entender a tal galeria que ilustra a matéria. Ora, se no texto abaixo de sua foto só existe a referência ao suposto crime contra a atriz, naturalmente que o leitor irá associar a acusação ao livro do jornalista. Quanto à referência ao trabalho do "Tortura Nunca Mais", nada tenho a dizer, exceto que é pertinente lembrar que a entidade defende o lado derrotado na guerra da mesma forma que o "Terrorismo Nunca Mais" o faz pelo lado vitorioso.
Vamos logo ao que interessa: nenhum, repito, nenhum jornalista que tenha escrito nos últimos dias sobre o lançamento dos livros de Elio Gaspari preocupou-se em mencionar as vítimas do outro lado, ou seja, as vítimas do terrorismo da luta armada contra a ditadura militar. É que os livros de Elio Gaspari não comentam as mortes deste lado da batalha, poderão dizer alguns. Bem, se ele não menciona isso, então ele não fez o que vem sendo chamado de "a biografia da ditadura". Se ele, ao contrário, fez um levantamento de fato das circunstâncias da morte de civis e militares pelos guerrilheiros urbanos da ocasião, parabéns.
Comecei ontem a ler o segundo volume dos dois lançados esta semana. Logo saberei como o pesquisador trata desta parte da história, há anos negligenciada pelo mídia e pela historiografia do período militar. Arrisco dizer que a grandeza da primeira parte de sua obra também depende muito disso, ou seja, do relato ou não destes casos (darei alguns exemplos deles amanhã nesta página).
Mas voltando aos jornalistas que escreveram sobre o lançamento do ano, é impressionante a facilidade com que eles tratam com benevolência as chamadas "vítimas" da ditadura. Não vou me repetir feito agulha de disco riscado, mas, enfim, todos eles dão a entender ou simplesmente afirmam que a repressão apenas derrotou homens heróicos cujo sonho era retomar a Democracia suspensa em 1964.
Como dizia hoje uma fonte do meio militar, foi uma guerra suja. "Sequestros, assaltos a bancos, roubos de armas com mortes, justiçamentos. Combatia-se terroristas treinados em Cuba e na China que voltaram ao Brasil para implantar um pleonasmo: uma democracia popular. A guerra foi deflagrada por eles, os terroristas (recorde-se o atentado contra o general Costa e Silva, em 1966, no Aeroporto dos Guararapes)".
Mas afinal, o que temos na imprensa a respeito dos que morreram vítimas do terrorismo? Praticamente nada. Nos últimos 20 anos, abundam Lamarcas e Marighellas. Todos com reputação inatacável na mídia já que além de vítimas, pegaram em armas em nome da revolução marxista que sonhavam ver por aqui. Se explodiram bombas, mataram inocentes (poucos saberão o que aconteceu ao capitão Chandler..), sequestram ou roubaram, tinham a credencial revolucionária que justificava tudo.
Quase o que sinto é um faz de conta entre os jornalistas. É como se eles tivessem combinado entre si omitir as centenas de baixas de um dos lados da guerra. Só vale relatar, comentar, analisar e refletir sobre a repressão e a tortura contra os oposicionistas, armados ou não do regime. Uma biografia de verdade deverá contemplar o maior número possível de acontecimentos importantes do trecho histórico sob exame. A tortura, sabemos, está lá. Resta saber agora se os justiçamentos, os crimes e as centenas de vítimas do terror estão lá também.
Pelo que li do segundo livro, é cedo mas temo me decepcionar adiante. Gaspari praticamente abre seu relato comparando as explosões de bombas no Brasil, em número insignificante, segundo ele, comparando-se com as detonações nos EUA e na Irlanda, como a dizer, quase, que a luta armada, por isso, não justificava repressão tão brutal. Posso estar me precipitando na interpretação. Veremos.
Desde que Bete Mendes, a "Rosa" da organização terrorista de esquerda VAR-PALMARES, declarou em 1985, após uma viagem ao Uruguai, ter reconhecido o homem que a torturara quinze anos antes, a vida do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra mudou. Ex-chefe do DOI-CODI paulistano, apontado como um dos mais movimentados centros de tortura e repressão contra terroristas durante o regime militar, o então major teria pessoalmente participado das sessões nas quais a ex-atriz sempre afirmou ter padecido.
Entretanto, ao invés de escutar calado as acusações, Ustra resolveu escrever um livro sobre aquele tempo em que chefiou o DOI, em que relata vários acontecimentos do período e no qual defende-se das afirmações de Bete Mendes. O livro virou fonte para inúmeros pesquisadores, dentre eles, inclusive, o jornalista Elio Gaspari, cujos livros a respeito da ditadura militar acabam de chegar às livrarias.
É impossível provar a inocência do coronel neste caso. Também não é possível comprovar o que diz a ex-militante terrorista. Já disse e repito: é a palavra de um contra a do outro. O que há, porém, são vários indícios, fatos e relatos que indicam ao investigador o caminho que se aproxima da verdade, seja ela favorável a Ustra ou a Bete Mendes.
Alguns deles: o tal "reconhecimento" de Ustra pela ex-atriz teria sido uma farsa montada para provocar a polêmica e para prejudicá-lo, então adido militar em Montevideo. Bete Mendes teria obtido um lugar na comitiva do ex-presidente José Sarney rumo ao país vizinho onde teria provocado o encontro que serviria de base para as suas posteriores declarações à imprensa, tornando Ustra, para sempre, um torturador aos olhos da opinião pública.
O segundo sinal vem do próprio inquérito sobre a prisão da ex-militante em 1970. Nele, ela própria, ao lado de advogados, nega que fora torturada. Na ocasião, Bete Mendes teria chorado e arrependido-se de ter integrado a organização que acabou levando-a ao DOI-CODI. Da mesma forma, a ex-atriz nunca conseguiu apontar os "companheiros" que afirmou terem sido mostrados a ela depois de terem sido torturados como forma de pressioná-la psicologicamente.
Um terceiro sinal que favorece Ustra é o próprio depoimento que tomei de ex-prisioneiras do então major. Ambas disseram que foram torturadas nas dependências sob responsabilidade dele mas que ele, entretanto, nunca lhes teria feito nada. Os depoimentos, tomados este ano, não provam que Ustra não agrediu Bete Mendes. Apenas reforçam a tese de que ele é, neste caso específico, inocente.
Acontece que Ustra, por mais que tente afirmar o contrário em seu livro, não poderá livrar-se jamais das suspeitas de participação da máquina de torturar em que teria se transformado o DOI, como conta, inclusive, Elio Gaspari em seus livros. Se ele não torturou, mandou torturar? Se ele não participava das sessões, tinha conhecimento delas? Ele simplesmente não sujou as mãos, dirão muitos.
O que pretendo mostrar ao escrever artigos e cartas sobre o tema não é a sua inocência ou a sua culpa. Quero salientar a maneira com que a imprensa trabalha certos casos, sem se preocupar com a averiguação dos fatos. Ustra é um personagem perfeito para a mídia: ele é a personificação do torturador malvado, frio e asqueroso a agredir uma linda militante marxista. Admitir a hipótese de que Bete Mendes mente é esmaecer este símbolo da crueldade dos militares.
Estou escrevendo estas linhas de forma despretensiosa. Posso estar sendo ingênuo e posso ter errado em algumas das minhas avaliações. Seja como for, me parece inadmissível que a imprensa não tenha feito estas distinções em 17 anos de "caso Bete Mendes". Como diria Machado de Assis, a consciência é o mais cru dos chicotes. Ele pode estar agora a vibrar tanto nela quanto no coronel. Mas seguramente irá ainda agir sobre todos nós, jornalistas, quando nos recusamos a descobrir a verdade. Ou ao menos a cortejá-la.
Sobre o novo encontro do Foro de São Paulo previsto para a próxima semana na Guatemala, vejam e-mail que recebi do leitor desta página e que publico abaixo:
Salve Guidalli!
Lembra do Foro de São Paulo? Aquele que o PT fundou, que reúne desde as FARC até o Partido Comunista de Cuba, de Fidel, passando pelo Tupac Amaru, o grupo terrorista do Peru, entre outros?
Pois bem, o próximo encontro dessa curiosa agremiação será entre os dias 2 e 4 de dezembro, na Guatemala. Não é exatamente quando nosso presidente eleito estará em viagem internacional? Fico curioso se ele irá discursar nesse encontro, assim como fez no do ano passado, em Havana.
É quase certo que sim, uma vez que Lula e o PT são considerados "fundadores y activos participantes de todas las instancias del Foro de São Paulo", como pode-se acompanhar no extrato abaixo:
"6. La reunión [preparatoria para o XI Encontro] se efectuó bajo el impacto del formidable triunfo del pueblo brasileño, que eligió presidente a Lula con el 61,3% y 52.793.364 votos, y con ello renovó el optimismo de todos los que luchan contra la injusticia social y por un mundo mejor. La reunión envió un cálido saludo al Presidente electo y al PT, fundadores y activos participantes de todas las instancias del Foro de São Paulo, en la seguridad de que su victoria aportará una contribución positiva al avance de las luchas de nuestros pueblos."
DOCUMENTO CENTRAL
DEL XI ENCUENTRO DEL FORO DE SÃO PAULO
ANTIGUA, GUATEMALA
2 AL 4 DE DICIEMBRE DE 2002
http://www.forosaopaulo.org
Taí um furo pro carrapato que conseguir grudar no Lulinha durante essa viagem...
Abraços,
André Ribeiro, Campinas - SP
Um leitor desta página, a quem agradeço, me enviou recentemente um artigo escrito pelo jornalista Ricardo Setti no site No Mínimo, o ex-NO, agora sob patrocínio do portal iBest. O tema do artigo é a "demonização" de Lula e do PT pela "direita religiosa" americana, responsável, entre outras análises, por textos como o recentemente reproduzido no The Washington Times de autoria do pesquisador Constantine Menges e que tanto horror provocou na mídia esquerdista brasileira.
Ricardo Setti atribui tudo isso a uma espécie de fanatismo da tal corrente conservadora que teria grande influência hoje sobre o governo de Bush filho. Não fica claro que "direita religiosa" seria essa. Será uma espécie de grande PL dos Estados Unidos?
Não acredito, mas, enfim, seria interessante que o próprio Setti um dia nos explicasse o que vem a ser este malvado agrupamento de "ultraconservadores" que "demoniza" o presidente eleito.
Para o jornalista, as ligações de Lula e do PT com entidades revolucionárias marxistas e com Castro e Chávez, o que Menges chamou de "eixo do mal", seriam coisas de "tempos mais juvenis do PT". Isso apesar do partido ter estado um ano atrás em Havana,
em mais um encontro do Foro de São Paulo, o organismo que reúne desde as FARC, o Tupac Amaru até o partido socialista chileno, um verdadeiro balaio de gatos vermelhos.
Também para Setti, "o PT foi aos poucos minimizando a importância de sua presença no Foro", estando mais vinculado aos seus membros menos radicais. No entanto, arremata: "Diante da considerável influência da direita religiosa na administração Bush...não tenham dúvidas: por trás do frontal veto americano à compra , pela Colômbia, de até 40 aviões...da Embraer,
há certamente um gesto de desagrado..para a proximidade que os americanos enxergam entre o PT do presidente eleito e as Farc."
Não sei quais são as fontes do jornalista para ele afirmar que o veto da Casa Branca à compra dos aviões da Embraer tem a ver com as ligações de Lula com a narcoguerrilha colombiana. Eu, por enquanto, tenho sim dúvidas de que isso possa ter ocorrido como uma retaliação contra Lula. Ademais, também não acredito que o governo Bush esteja preocupado - e, pior, sendo orientado pela tal "direita religiosa", - se a Embraer está vendendo jatos ou não para o governo de Alvaro Uribe. Há coisas mais importantes em Washington para serem observadas. Um país chamado Iraque e outro, chamado Coréia do Norte, por exemplo, são algumas
delas.
Acontece que Ricardo Setti padece do mal de fazer chacota das preocupações dos Estados Unidos com o alinhamento político inevitável de Lula com a esquerda latino-americana mais belicosa e frontalmente anti-capitalista. Tudo é creditado aos lunáticos "da
direita" e agora, como vemos, da tal "direita religiosa". Pois entre a "direita religiosa", apesar de não saber exatamente o que ele
quer dizer com isso e a "esquerda" reunida no Foro de São Paulo, eu fico, de longe, disparado, com a primeira.
Não deveria ficar?
Paulo Leite, Washington - Não é só no Brasil que o antiamericanismo anda na moda. No Canadá, a turma também anda caprichando. Françoise Ducros, a diretora de Comunicações do Primeiro-Ministro Jean Chrétien, que chamou Bush de "imbecil" em conversa com um repórter durante a reunião da OTAN em Praga, semana passada, acaba de renunciar ao seu cargo, dizendo que por causa da controvérsia que seu comentário gerou, não tem mais condições de continuar trabalhando.
Até aí, nada demais, falar besteira dá nisso. Mas a história teve pelo menos um desdobramento interessante: no estado canadense de Alberta, o governo local tem contrato com uma empresa de assessoria de imprensa, que fornece resumos das principais notícias ao Escritório de Informação Pública. Na sexta-feira, um e-mail enviado pela vice-presidente da empresa MediaWorks aos funcionários do governo de Alberta dizia: "NOVO! Chrétien recusou a renúncia de sua diretora de Comunicações, e diz não haver provas de que Françoise Ducros usou a palavra 'imbecil' para descrever AQUELE IDIOTA George Bush."
A desculpa da empresa não podia ser mais esfarrapada: "pedimos desculpas pelo nosso erro de edição, totalmente involuntário, e que reflete exatamente o oposto dos sentimentos de nosso pessoal." É brincadeira?
Atenção alunos de Comunicação!
Hoje tem aula de mau jornalismo.
Matéria: Ética.
Local: O Globo, r. Irineu Marinho, Rio de Janeiro
Professores: Carter, Enio e Rodolfo
A edição de segunda-feira, 25 de novembro, do jornal carioca O Globo, merecia ser encadernada e servida aos milhares de estudantes de Comunicação Social das faculdades públicas e privadas país afora. A referida edição traz, na página 8 do primeiro caderno, uma matéria sobre o que seria, na visão dos seus editores, a mais nova polêmica do momento: as informações que saltam dos primeiros livros sobre a "biografia da Ditadura", escritos pelo jornalista Elio Gaspari e recentemente lançados com bastante barulho na imprensa. O título da matéria é "Acaba o mito de que não sabiam da tortura". Os autores: Carter Anderson e Enio Vieira.
Para ilustrá-la, a reportagem buscou declarações do historiador José Murilo de Carvalho, para quem não é possível mais aos generais do período militar negar a existência da tortura nas dependências oficiais da referida ditadura. Para ele, os relatos do jornalista definitivamente desmentem os que porventura venham a afirmar que desconheciam a terrível prática nos chamados "porões" do regime.
Os problemas começam na hora em que os editores de O Globo resolveram publicar uma espécie de "galeria de personagens" dos livros de Elio Gasperi, reunidos sob o título de "As Ilusões Armadas". Estão lá, com foto e tudo o mais, o que o jornal chama de torturadores, ex-opositores da luta armada, generais da linha dura e também Delfim Netto. Seriam exemplos e tipos do período abordado pelo autor, um trecho da recente e conflituosa história do país marcada pela repressão do regime militar aos seus opositores armados, gente que explodia bombas com naturalidade e a quem a mídia costuma tratar como "resistentes" em favor da Democracia perdida em 1964. Mas essa é outra história.
Acontece que na "galeria" do diário carioca, com destaque, está o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado pela ex-atriz e militante esquerdista Beth Mendes (a "Rosa" da organização VAR-PALMARES) de tê-la torturado dentro do DOI-CODI em Sâo Paulo no segundo semestre de 1970 (curiosamente, citei o coronel em post anterior a este, ver "Terror, Fardas, Gaspari"). As acusações dela, que também foi deputada do PT, nunca foram comprovadas. Vários fatos, indicações e argumentos em favor do então major que comandava o DOI foram reunidos por ele num livro, "Rompendo o Silêncio". Entre os documentos, há depoimentos da própria ex-guerrilheira desmentindo a si própria.
Eu mesmo acabei fazendo uma pequena investigação a partir do caso Beth Mendes. Numa entrevista que fiz com D.T.M, a "Cristina" ou "Lia" , ex-guerrilheira treinada em Cuba e componente do serviço de Inteligência da ALN, ela disse que foi torturada nas dependências do DOI no início dos anos 70 mas negou repetidas vezes que o então major Ustra a teria pessoalmente agredido ou participado das sessões a que foi submetida. O depoimento de D.T.M, que hoje mora num sítio no interior de São Paulo, não prova que Beth Mendes mente mas reforçam os argumentos que apontam para a inocência de Carlos Alberto Brilhante Ustra. Se Beth Mendes foi torturada, são muito pequenos os indícios de que tenha sido obra dele. É isso o que se revela do caso e é isso o que vem sendo ignorado quando ele ressurge.
Assim, sem levar em consideração o livro do coronel ou notar que há pelo menos muita controvérsia na acusação de Beth Mendes, O Globo preferiu mais uma vez brincar com a reputação alheia, seguindo uma trilha já caminhada por outras publicações, como a revista Carta Capital que, recentemente, ouviu a ex-atriz sobre o assunto "esquecendo-se" de ouvir também o acusado, principal interessado no esclarecimento dos fatos.
Mais uma vez, o coronel Ustra foi parar nas páginas dos jornais, mostrado como torturador, sendo que, como afirmei, há mais indícios da sua inocência do que o contrário. É dever fundamental dos jornalistas apurar a verdade ou, ao menos, tentar aproximar-se dela. Seria pertinente, portanto, que aos estudantes da profissão fossem entregues exemplares da edição de 25 de novembro do jornal carioca, com as devidas orientações. Seria um excelente começo numa época em que nunca se falou tanto sobre a ética na imprensa.
Mais problemas
Há um outro problema na edição de O Globo. Obtive informações de que nem Beth Mendes nem Ustra são mencionados nos livros de Elio Gaspari. A presença do militar na "galeria" de personagens do período investigado pelo jornalista seria portanto uma "invenção" dos editores da matéria. Como não os li, não posso afirmar isso. Caso a suspeita se confirme, porém, o jornal não apenas teria mais uma vez jogado a reputação do coronel no charco como teria apropriado-se de sua "história" como torturador para ilustrar indevidamente o texto que publicou. A aula de mau jornalismo de O Globo, como vemos, pode ser mais completa do que imaginamos.
Chegam às livrarias nos próximos dias os dois primeiros volumes daquilo que vem sendo chamado de "a biografia da Ditadura", escrita pelo jornalista Elio Gaspari. Em que pese a pretensão involuntária do autor, os livros "A Ditadura Envergonhada" e "A Ditadura Escancarada" (Cia das Letras, R$ 40 e R$ 44, respectivamente) parecem servir como reforçado estofo na investigação lacunar do período militar, principalmente de 1964 a 1980.
O período, aliás, vem sendo analisado, comentado e resgatado de forma sempre apaixonada porque seus principais "biógrafos" costumam estar justamente nas fileiras dos reprimidos e derrotados. Uma infinidade de clichês permeia jornais, revistas e TV (quem já não ouviu falar em "anos de chumbo" e "porões da ditadura" ?) e a história recente do país é invariavelmente mostrada como uma luta de mocinhos, os opositores do regime, e os bandidos, os militares opressores e torturadores.
Privilegiado pelo destino, que colocou sob seus cuidados arquivos de grande valor, Elio Gaspari teve a chance, ao que parece, de romper com os clichês e de aprofundar-se na história, boa parte dela ainda por revelar-se. Como não li o resultado das pesquisas do jornalista, que começaram em 1984, não posso dizer que efetivamente temos algo de notável e de original na historiografia brasileira.
Mas aproveito o tema para comentar duas questões relacionadas a ele. A primeira, mais simples, trata-se da maneira com que os livros do eminente jornalista vêm sendo recepcionados pela imprensa. A segunda diz respeito a fatos do período que ficaram condenados ao esquecimento em função da parcialidade e falta de isenção dos tais "biógrafos" do período que abundam na mídia brasileira com seus clichês, argumentos mancos e sua raiva e ressentimento indisfarçáveis contra os militares.
No primeiro caso, destaco a cobertura da Folha e de Veja. As duas publicações não conseguiram evitar dar maior destaque aos relatos vinculados à tortura e perseguição dos opositores do regime. Não quero dizer que são assuntos menores. Longe disso. Quero dizer que, num trabalho hercúleo como o realizado pelo jornalista, não é possível que circunstâncias e fatos novos não tenham vindo à luz a partir dos arquivos do general Golbery, uma "papelaria" com cinco mil documentos guardados, por exemplo.
Assim, Mário Magalhães, o repórter da Folha, juntamente com os editores do caderno Ilustrada onde neste sábado o lançamento dos livros foi reportado, não consegue fugir ao lugar-comum dos analistas convencionais. Ao escrever sobre a obra de Gaspari, não evita termos como "açougues de carne humana", para se referir à tortura no governo Médici, "ciclo dos coturnos", sobre o próprio período militar ou "porões da repressão", expressão auto-explicativa.
Apesar de não conseguir ver-se livre deste cacoete que balança a imprensa e que está presente em quase todas as reportagens e textos sobre o regime militar, há avanços na reportagem de Veja, escrita por Roberto Pompeu de Toledo. Em dado momento de sua edição sobre a chegada à livrarias dos dois volumes, um minúsculo trecho de "A Ditadura Escancarada" é reproduzido, sendo que a importância de seu conteúdo é enorme. Gaspari diz: A luta armada fracassou porque o objetivo final das organizações que a promoveram era transformar o Brasil numa ditadura, talvez socialista, certamente revolucionária. Seu projeto não passava pelo restabelecimento das liberdades democráticas...
O trecho é importante porque durante anos a imprensa vem omitindo a real intenção da oposição armada ao regime militar. Está passando como verdade no Brasil a idéia de que os reprimidos pelos militares eram inocentes idealistas, gente despreparada que, num ato de desespero e heroísmo, tentaram reconstruir a democracia perdida com João Goulart no Araguaia, no asfalto paulistano, nas matas da Bahia.
Se os livros de Gaspari ajudarem a derrubar este mito, eles já terão talvez cumprido seu papel na historiografia do período. Pois são urgentes o relato frio dos fatos e a constatação natural de que a oposição armada ao regime queria inserir o Brasil na lista de países sob orientação marxista. Este "detalhe" da história recente do país foi tão desfigurado que hoje centenas de ex-opositores vêm obtendo indenizações milionárias do Estado, justamente da democracia que eles mesmos nunca idealizaram nem fizeram questão de cortejar. Estão sendo "reparados" por algo que, em última análise, combateram a maior parte de suas vidas.
As duas reportagens, portanto, são resultado, não totalmente, de um vício: o de condenar fardados e o de santificar subversivos. Uma simplificação que, se por um lado serve para a vingança dos derrotados, acaba, por outro, por apenas acentuar a ignorância da platéia. Roberto Pompeu de Toledo e Mário Magalhães têm seus méritos mas ainda estão longe de representar isenção e imparcialidade ao tratarem do assunto.
O Lado Esquecido
Em junho, entrevistei para a minha coluna no portal Comunique-se (www.comuniquese.com.br) o coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado há vários anos de ter torturado a ex-terrorista e atriz Beth Mendes. Nada foi provado contra Ustra e a história se resume a dois relatos conflitantes dos fatos, o dele e o de Beth. Quem quiser ler a entrevista que fiz com o coronel basta acessar a coluna "Entrelinhas" no mencionado portal.
O que quero dizer é que a partir do meu contato com ele*, passei a conhecer a história do "outro lado", ou seja, das vítimas do terrorismo e da oposição armada ao regime. São centenas de casos, todos eles fartamente documentados pelo Ternuma (www.ternuma.com.br) e que raramente chegam ao conhecimento do mesmo público que está careca de saber, por exemplo, que Marighella e Lamarca foram assassinados pela dura repressão dos militares sendo eles hoje, junto com outros, os "símbolos" da resistência democrática na ocasião em que matavam civis, explodiam carros, sequestravam diplomatas e roubavam arsenais.
Entre familiares de vítimas do terrorismo de esquerda que conversei, está o advogado Eduardo Gonçalves Moreira, irmão do ex-delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior, morto aos 33 anos com vários tiros na praia de Copacabana quando dela retornava num domingo ensolarado de fevereiro de 1973. Cinco terroristas da ALN, PCBR e VAR-PALMARES o mataram. Octávio era um voluntário na guerra contras as organizações terroristas financiadas pelo comunismo internacional e virou alvo fácil para os adversários.
Seu irmão, Eduardo, me disse que jamais cogitou obter alguma indenização pela morte de seu irmão. Disse que a imprensa tratou o caso na época com muita discrição, sob orientação do regime, obviamente, mas que depois da chamada Abertura, nenhum jornalista se preocupou com episódios como o ocorrido com seu irmão mai velho, a quem tinha como ídolo. O Brasil acostumou-se a afagar um lado apenas da batalha entre governo militar e sua oposição armada. Os que foram mortos defendendo o regime iniciado em 1964 continuam sendo solenemente ignorados. Vamos ver o que conta sobre eles o jornalista Elio Gaspari. Se é que conta.
*Investigando por conta própria alguns casos, tive a oportunidade de conversar com guerrilheiras presas no DOI-CODI paulistano sob comando do próprio Ustra que me garantiram que ele jamais nelas tocou, reforçando os argumentos que desmentem Beth Mendes. Houve tortura no DOI? Provavelmente sim. Ustra foi um torturador? Pelos relatos que tomei, muito provavelmente não. O coronel tem um livro sobre o período em que chefiou o DOI, chamado "Rompendo o Silêncio" e que precisa ser reeditado o mais rápido possível.
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Editor: Sandro Guidalli