Guidalli.com
sábado, outubro 5
  Lula-Lá na mídia

Conhecendo o mundinho de Paulo Sotero

Como é do conhecimento de boa parte dos leitores desta página, o PT é membro do Foro de São Paulo (www.forosaopaulo.org), uma organização criada há pouco mais de dez anos e que reúne o que se poderia chamar de forças revolucionárias e marxistas de toda a América Latina. O partido de Lula participa ativamente das reuniões da entidade, principalmente através de sua secretaria de relações internacionais. Na página do PT na Web é possível obter vários documentos susbcritos pela agremiação de apoio às Farc, inclusive, no âmbito do Foro (www.pt.org.br).



Acontece que a imprensa brasileira trata este alinhamento do PT com a ditadura de Fidel, o autoritarismo bolivariano de Chávez e os narcotraficantes das Farc com um distanciamento olímpico, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. São pouquíssimos os eleitores que têm acesso às informações, diariamente omitidas pela grande mídia.



Curiosamente, mesmo quando este alinhamento sinistro do PT vem à tona, ele é tratado com desdém, com desconfiança, às vezes da maneira mais cínica possível. É como se, cientes do fato, os jornalistas não devessem levá-lo a sério, fazendo, por tabela, com que seus leitores também tivessem que ter a mesma opinião deles sobre o tema. O resultado é óbvio: leitores que desconhecem o assunto entre outros, que o sabem existir mas sem dar a devida importância ao fato.



Um dos mais recentes exemplos do que digo acima pôde ser tirado do noticiário da Agência Estado em matéria assinada pelo seu correspondente em Washington, Paulo Sotero, sexta-feira. A nota dava conta da decisão de doze parlamentares republicanos de enviar uma carta ao presidente Bush exortando-o a mandar o Departamento de Estado a analisar com mais cuidado o virtual sucessor de FHC e o que ele anda dizendo sobre temas como armas nucleares, seus aliados no continente, etc...



Em dado trecho de seu despacho, Sotero diz, em outras palavras, que soou o alarme na “direita” americana porque, entre outras coisas, teve repercussão entre os parlamentares o artigo de Constantine Menges, aquele mesmo tratado com deboche no Brasil e que alerta para a formação de um eixo anti-americano com Lula presidente, Fidel e Chávez.



Sotero tenta dimininuir os motivos de preocupação entre os parlamentares dos EUA qualificando Menges como “arquiconservador” (como se tivessem outro peso as declarações do estudioso do Hudson Instituto se ele fosse um liberal, no sentido americano da expressão, ou seja, um esquerdista) e dizendo que a participação de Lula no Foro de São Paulo “parece ser mais conhecida entre a ultra-direita americana do que em São Paulo”.



Provavelmente o correspondente do grupo Estado nos EUA desconheça ele mesmo o significado da existência de tal grupo. Do contrário, teria dado mais crédito ao que disse Menges e ao que pretendem saber os republicanos a respeito do alinhamento de Lula com a entidade. Mas numa coisa o jornalista está relativamente certo: os americanos, não apenas da “ultra-direita”, sabem muito mais a respeito do tema do que os leitores de Paulo Sotero em São Paulo e dos demais leitores da mídia brasileira em geral.


 
  Lula-lá na mídia

O irresistível sedutor de jornalistas

Por mais que alguns dos jornalistas da grande imprensa brasileira tentem produzir textos imparciais a respeito da trajetória da campanha petista neste ano (a maioria sequer tenta), a impressão que fica depois de ler suas reportagens é a de que há uma irresistível vontade de glamourizar a vida e tudo aquilo que diz respeito a Lula e seus principais aliados dentro do PT. Foi assim com o perfil de José Dirceu feito por Veja duas semanas atrás e tem sido assim sempre que Lula é descrito, comentado, analisado e criticado nos principais jornais e revistas do país.



Observando novamente a revista dos Civita, que chegou às bancas neste sábado tendo na capa o tema das eleições de amanhã, mais uma vez nos deparamos com um texto ambíguo em que por momentos seus redatores parecem remover o véu do personagem criado pelo marketing político para Lula na campanha. Quando começamos a achar que finalmente a reportagem irá chegar ao ponto fundamental da questão, por exemplo, as relações institucionais do PT com as forças revolucionárias e marxistas da América Latina, os repórteres voltam ao jogo amoroso com o candidato ao subscrever a impressão de que Lula mudou e jogou mesmo pela janela 22 anos de militância socialista



Na reportagem que abre o tema da capa desta semana, ”A rota de Lula para o Poder”, podemos ler o seguinte parágrafo: “Em sua fase pré-Duda, o candidato petista sempre manifestou simpatia pelo ditador Fidel Castro (Aqui Fidel virou ditador porque interessa ao contexto da matéria mas em geral é tratado como presidente de Cuba)e pelo regime socialista em Cuba. Também não perdia uma oportunidade de elogiar Hugo Chávez....Militantes petistas endeusam as Farc...(Aqui uma imprecisão. Não são apenas os militantes que endeusam as Farc. O governador gaúcho Olívio Dutra e vários outros políticos e assessores têm mantido farta comunicação e o primeiro já recebeu no Piratini um graúdo representante das Farc).



Mas em outro parágrafo, voltamos à linha predominante dos textos de Veja, confortáveis ao virtual sucessor de FHC. Conforme interpretam os autores do texto, João Gabriel de Lima e Thais Oyama, quando Lula parece reincorporar o verdadeiro líder de um partido envolvido com o marxismo latino-americano, ele está apenas curvando-se às obrigações de pesquisas qualitativas que indicariam para qual sentido deve ir seu discurso. Da mesma forma que as utilizou para virar o Lulinha Paz e Amor, o candidato aliado de Fidel e de Chávez baseia-se nelas para dizer o que a militância quer ouvir.



”De repente, aqui e ali, surgia o velho Lula durão, o radical da Vila Euclides...Os adversários apontaram afoitos o verdadeiro Lula, o lobo socialista...Nada disso. Lula se tornou escravo das pesquisas qualitativas...os militantes do partido estavam decepcionados com o estilo pasteurizado do candidato...”.Para Veja mesmo quando é absolutamente sincero, quando está entre militantes, membros do MST e os companheiros de luta, Lula está apenas cedendo aos apelos da propaganda. Acredite, se quiser. O Lula da mídia mente até quando não precisa mentir. É porque ele não pode melindrar seus amantes espalhados pelas redações do país.


 
sexta-feira, outubro 4
  O intolerante de Bagé

O lado nada engraçado do Luiz Fernando Veríssimo

Já que o onipresente jornalista petista foi motivo de crítica nesta página (veja em nota publicada mais abaixo) resolvi brindar os leitores com uma história que poucos conhecem fora do Rio Grande. O pequeno relato abaixo foi contado por um veterano jornalista gaúcho que conhece bem os dois personagens da história e no qual tenho eu irrestrita confiança. Vejam como costuma agir o escritor gaúcho quando alguém o contraria. A questão agora é saber quem serão seus infelizes subordinados num eventual cargo no ministério da Cultura petista. Sai de baixo.




Em 1996, o jornalista Juremir Machado da Silva, escritor e doutor em Sociologia pela Universidade de Paris V, editor de Internacional na Zero Hora, fez uma ligeira crítica a seu colega, o cronista Luiz Fernando Veríssimo. Veríssimo impôs uma condição: "ou o Juremir se retrata, ou eu saio do jornal". Pois Veríssimo não aceita críticas. O Sindicato dos Jornalistas apoiou Veríssimo e, pela primeira vez na história do jornalismo brasileiro, vimos um sindicato apoiando a decapitação de um colega. Veríssimo, o humorista gaúcho de renome nacional, adora rir e fazer rir seus leitores. Desde que não lhe teçam a mínima crítica. Com sua atitude stalinista, teve uma vitória de Pirro: do alto de sua prepotência de ginasiano, jogou no ostracismo um jovem doutor pela Universidade de Paris V.


 
  Jabor passando dos limites

LEIA TEXTO INÉDITO DE JOÃO PEDRO JACQUES SOBRE O FALASTRÃO ARNALDO JABOR NA CBN

João Pedro é colunista do OFFMIDIA e escreve todas as sextas. Extraordinariamente, Guidalli.com reproduz sua coluna hoje neste espaço:




CBN: Arnaldo Jabor “esculacha” o ouvinte


João Pedro Jacques “Não houve nada.” Esta foi a máxima proclamada pelo falastrão Arnaldo Jabor na matéria “Cariocas deveriam sentir vergonha de ter medo da própria sombra”, para a Rádio CBN na terça-feira, dia 1º de outubro (confira em www.cbn.com.br), um dia após os gravíssimos acontecimentos no estado do Rio de Janeiro. Que este senhor evidencia ser completamente desinformado sobre todos os assuntos em que se intromete, creio que isso parece bastante claro para as pessoas de bom senso e que fazem o devido uso de seus cérebros. Eu só não fazia idéia de que o nível de desconhecimento ou desinteresse deste senhor sobre a realidade imediata que o cerca fosse tal, que chega quase a nos sugerir um quadro de psicopatia.



Quando o sr. Arnaldo Jabor pratica seu esporte favorito, tiro ao alvo intelectualóide nos Estados Unidos, e pronuncia as mais descabidas e cabeludas barbaridades, um ouvinte benevolente ainda poderia comentar: “O rapaz está mal-informado. Tudo isto está acontecendo muito longe daqui. É difícil saber o que se passa de verdade.” Mas o caso desta semana demonstra algo de forma irretocável. Arnaldo Jabor “esculacha” seus ouvintes.



Naquela segunda-feira, em torno de 50 bairros do Rio, Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense sofreram com a coação de bandidos. Diversas escolas e universidades encerraram suas atividades ainda pela manhã. Mais de dez ônibus foram incendiados, fazendo pelo menos uma vítima inocente. Foram realizados disparos contra estabelecimentos comerciais em pontos diversos. A polícia efetuou mais de 20 prisões. E houve no mínimo um assassinato.



O Sr. Jabor nos pergunta se havia “traficas” descendo o morro ao som de explosões de bombas. Ao que ele mesmo responde: “Não, nada!” Pois bem, imagino que neste dia 30 de setembro o Sr. Jabor, para fins de apuração dos fatos, tenha no máximo ido até sua janela, dado uma espiadela e dito para si mesmo: “É, não está acontecendo nada.”



Após a lastimável e desleixada retratação feita à população deste estado por sua governadora e seu sorridente secretário de segurança — Quem sabe, ele não ria de nossas caras de trouxa? —, no que se refere ao conhecimento prévio dos fatos, através da gravação divulgada pelo Ministério Público, alguém poderia alegar que o Sr. Jabor emitiu seu comentário sem a apreciação deste evento. Um julgamento, talvez precipitado, o levou a creditar como boato algo que posteriormente se demonstrou verdadeiro.



Mesmo assim, isto não serviria como justificativa para seu ato de irresponsabilidade para com o público ouvinte da Rádio CBN. Pois que, se o sr. Arnaldo Jabor pretende desempenhar o ridículo papel de palpiteiro, que pelos menos apure algum fato. Mesmo que seja só para variar.



Mais desalentador ainda é notar que, no decorrer desta semana, o sr. Jabor não busca fazer uma retificação do que disse na terça. Poderia tê-lo feito em seus três comentários subseqüentes. Mas não o fez. Nos “esculacha” novamente. Pois bem, em respeito aos cidadãos daqui do estado do Rio de Janeiro, exijo que o sr. Arnaldo Jabor faça através da Rádio CBN uma retratação completa sobre seu infeliz comentário do dia 30 de setembro. Porque, no dia seguinte ao incidente, vir a público dizer que o carioca estava com medo de “lobisomem” e “mula-sem-cabeça” é mais “esculacho” do que o cidadão ou o ouvinte pode sofrer. Basta!


 
quinta-feira, outubro 3
 

A Ponta de um Iceberg



OFFMIDIA EXCLUSIVO



Leia em www.offmidia.com carta de um leitor do Valor Econômico que aponta mais alguns absurdos publicados neste que é um dos jornais mais panfletários e parcias do país. Entenda os motivos.


 
  Um petista preocupado nos pampas

Membro destacado do seleto, amplo e autobajulador grupo de intelectuais e jornalistas batizados ao nascer com a estrela do PT, Luiz Fernando Veríssimo manifestou nesta quinta em sua coluna publicada em vários jornais do país a preocupação com que algo dê errado no dia das eleições e a vitória de Lula seja “melada”.



São duas as fontes de intranquilidade, segundo o colunista: 1) Embalado pelo clima de já ganhou, o PT corre o risco de entrar o domingo de salto alto e melar ele mesmo a vitória considerada fácil. 2) A exemplo do que ocorreu na segunda no Rio, forças oposicionistas podem armar mais uma cilada para o PT e assim “melar” o desempenho do partido nas urnas.



Desonesto mais uma vez com os leitores, que já sabem que os episódios de segunda-feira foram determinados pelo tráfico de drogas, nada tendo a ver com uma “sabotagem” contra o PT, Veríssimo acomoda-se ao lado de outro petista ilustre, Marcio Moreira Alves, jornalista que finge não acreditar na participação dos traficantes no fechamento do comércio para assim justificar a tese do complô que continua a defender explícitamente ou nas entrelinhas como faz agora o escritor gaúcho.



Preocupado, portanto, com um tropeço do seu candidato no domingo, Verissimo mandou um conselho ao final de seu artigo desta quinta: “...E para não haver risco de empáfia e já-ganhouísmo, olha, acho que até deve ir às urnas (o PT) de chuteira, daquelas de bico duro. Mesmo porque, se Lula não ganhar no primeiro turno, haverá mais 20 dias para melarem tudo.”



Quando os amigos preparam-se para assumir o poder, é melhor cercar-se mesmo de todos os cuidados.


 
  O leitor tem sempre razão


Três dias depois do 30 de setembro carioca, a população já tirou suas conclusões a respeito dos episódios que fecharam o comércio do Rio numa ação inusitada do tráfico de drogas até então.



A seção de cartas dos leitores de O Globo é um excelente termômetro do humor carioca. Hoje, seu editor não deve ter publicado todas as mensagens referentes ao tema mas das nove publicadas, seis resumem o sentimento do carioca. O morador da cidade revela através das cartas o que pensa depois que a fita de Marquinhos Niterói, planejando a paralisação em toda a cidade foi revelada e depois que o próprio governo do Estado afirmou ter tido conhecimento do diálogo duas semanas antes de 30 de setembro nada fazendo para evitar o fechamento do comércio, o incêndio de ônibus e os distúrbios da segunda-feira em vários bairros.



Reproduzo aqui os trechos mais importantes de cada uma delas sem citar o nome dos autores das cartas para economia de espaço e tempo de leitura. Logo abaixo deles, escrevi um comentário meu em negrito:



”Um governo que discursa permanentemente em prol da transparência de seus atos teria a obrigação de alertar seus cidadãos da ameaça iminente...A quem isso interessa?”.



O governo andou dizendo que evitou alertar a população para não causar pânico e porque a publicidade do fato poderia atrapalhar seus serviços de inteligência. Disse mais: que o diálogo se deu em 15 de setembro, data “muito distante” do 30 de setembro o que indicaria que o plano havia sido arquivado pelos traficantes. Ah bom...



”Se a governadora sabia da fita agiu de má-fé ao declarar que tudo não passou de boatos com conotação política. Se não sabia, só tem uma saída: demitir o secretário de Segurança por não tê-la informado disso”



Talvez este seja o trecho mais importante. Se Benedita sabia do plano (e nada nos leva a crer do contrário) porque insistiu tanto e tão cedo na tese da conspiração contra o PT?



”Como acreeditar na tal polícia inteligente, se o secretário de Segurança, tendo à sua disposição informação que constituía verdadeiro mapa da mina sobre onde e como a bandidagem pretendia parar a cidade, não consegue utilizar o aparato policial que dirige a fim de determinar quando a ação seria desencadeada?



O leitor disse acima o básico. Ou a polícia é mesmo incompetente ou não dispõe dos recursos que a tornaram “inteligente”. O secretário Roberto Aguiar adora dizer que age com a cabeça mas a sua deve ter sido afetada por alguma anomalia que a paralisou.



”Agora que se sabe que o governo e a cúpula da polícia tinham conhecimento de que a paralisação parcial das atividade no Grande Rio havia sido anunciada pelas organizações criminosas, pergunta-se: por que a governadora insinuou que poderia tratar-se de manobra escusa de concorrentes?”



Mais uma vez, a mesma pergunta a atormentar Benedita.



”...Sabedores da verdade, as autoridades não hesitaram em lançar, sobre uma população acuada, as suspeitas de um complô da oposição, às vésperas de uma eleição....”



Já escrevi nesta mesma página sobre a terrível mania do PT de atribuir tudo que de ruim ocorra nas suas administrações a grupos de oposição interessados em “sabotar os interesses do povo”. Na União Soviética de Lênin e Stálin isso significou a morte de milhares de pessoas. Vamos ver o que acontecerá no Brasil com Lula presidente.


 
quarta-feira, outubro 2
  OFFMIDIA EXCLUSIVO

Leia em www.offmidia.com artigo inédito de Alceu Garcia sobre os distúrbios desta segunda no Rio

 
  O Telefonema de Marta (ou “O Spam da Prefeita”)

No Estadão de hoje, a principal personagem é a professora da USP, Eunice Durham. Conta ela que logo após a filha ter recebido o uniforme escolar e um kit com mochila e material, distribuídos para quase um milhão de alunos da rede paulistana de ensino público, recebeu um telefonema da prefeita, Marta Suplicy. Na gravação, a ex-deputada fala sobre suas “realizações” e os “benefícios” de sua gestão. Logo depois, o prato principal da conversa: o pedido desinibido de voto em Lula e Genoíno.



”Isso é crime eleitoral, estou indignada”, berrou a professora da USP. Não há nada a fazer. O Ministério Público acha que não há transgressão à Lei Eleitoral. Mas para as vítimas do telefonema de Marta é pior: é o uso descarado de uma atribuição do poder público na conquista de vantagens eleitorais. É melhor tirar o telefone do gancho.



Quem duvida da Classe Trabalhadora?

À medida em que vai aumentando sua certeza de que será o novo presidente da República, Lula vai relaxando o personagem criado sob medida para que pudesse obter a vitória que finalmente se aproxima. O “Lula Paz e Amor” vai assim cedendo cada vez mais espaço para o verdadeiro Lula, afinal, as pesquisas indicam que já dá para ir se desfazendo da grande máscara.



É verdade que, quando está entre antigos “companheiros de luta” e os aliados mais recentes do MST ou da Contag, Lula não costuma incorporar-se ao personagem do marketing mas a aproximação da vitória o tem deixado muito à vontade. Em São Bernardo do Campo, entre Itamar, Marta, Mercadante, Genoíno e Frei Betto, Lula retomou o passado que fingiu abandonar e bradou: “Ninguém, nunca mais, vai duvidar da classe trabalhadora brasileira”.



A frase, pronunciada num emocionante comício, tem dois sentidos: o primeiro é que para Lula e o PT, nada verdadeiramente mudou. O partido que sobe ao poder é o mesmo das greves do ABC, da aliança com Fidel Castro, da ruptura “com os capitalistas” e com os “burgueses”. Antes de mais nada, Lula ainda é o representante máximo de uma classe em constante atrito com empresários, industriais e o capital.



O outro sentido da frase é mais sombrio. Diz respeito ao futuro do país sob comando petista. As transformações serão tão grandes que, realmente, ninguém ousará duvidar mais da capacidade de um membro da classe trabalhadora em revolucionar o país. Se alguém ainda tem dúvidas sobre ela é melhor resolvê-las logo antes que seja tarde demais.


 
  Eram só boatos


Como o previsto, os jornalões finalmente renderam-se em suas edições desta querta às evidências que tornam traficantes do Comando Vermelho os responsáveis pela bagunça de segunda-feira. Parte da população e dos jornalistas acha que tudo foi programado para prejudicar o PT. A fita com Marquinhos Niterói revelando o plano de “parar tudo”, gravada em 15 de setembro dentro de Bangu 1 fez com que os secretários de Benedita voltassem atrás na tese do complô, bem característica, aliás, do partido que assumirá o país em janeiro.



Mas voltando ao que interessa, o JB apenas colheu o resultado do bom trabalho do início da semana. Sua manchete de hoje voltou a ser a melhor: “Secretário conhecia plano do tráfico”, enquanto seu principal concorrente carioca informava na capa o que muitos de seus leitores, sem a sua ajuda, já sabiam: “Escuta mostra que o tráfico planejou ação que parou o Rio”. O JB, em resumo, está 24 horas na frente do jornal da Irineu Marinho.



Resolvi comprar o Estadão hoje. O jornal continua sendo o melhor na cobertura internacional, ainda que, como os demais, tenha a mania horrível de replicar os colunistas do NYT. Quanto à cobertura dos episódios do 30 de setembro carioca, é melhor nem comentar. Para os editores do Estadão, o Rio e Skopie, a capital da Macedônia, parecem ter a mesma importância, ou seja, nenhuma.



O melhor do dia fica com duas imagens, publicadas em vários jornais de hoje. A primeira é da passageira do ônibus incendiado por traficantes na Baixada Fluminense. Vera Lúcia Lasser, 48 anos, não conseguiu escapar totalmente dos coquetéis Molotov que atingiram o coletivo usado por ela para voltar para casa. Toda enfaixada no hospital, teve a companhia do filho, que disse: “Falei para ela que a governadora disse que eram só boatos e que ela podia seguir tranquila”. Acabou queimada.



A outra foto é da ex-aeromoça da Panair, Maria Emília Botafogo, 65, prima da bailarina Ana. Ela aparece apontando para um antigo retrato emoldurado furado por balas na parede de seu apartamento em Ipanema. Nele, sua tia, a embaixatriz Maria Botafogo do Rio Branco, olha quase de perfil, com expressão doce. O tempo, curiosamente, empalideceu tudo menos seu rosto. A marca de um projétil de metralhadora agora atinge-lhe o busto. Foi uma segunda-feira cheia de boatos essa.


 
terça-feira, outubro 1
 

O feriado do CV



O JB salvou a mídia


Naturalmente todos os jornais chegaram nesta terça às bancas trazendo em suas capas o fechamento do comércio no Rio imposto pelo Comando Vermelho, a mais poderosa facção criminosa do estado. Dos principais, apenas o Jornal do Brasil não hesitou em apontar o tráfico como o principal responsável pelos episódios que paralisaram a segunda maior cidade do país. Os demais não tiveram coragem de ceder às evidências e aos fortes indícios que apontavam na direção do CV. Preferiram oscilar entre os traficantes e uma suposta armação política anti-PT, tese preferida dos secretários de Benedita, de Lula e da própria governadora que sonha com o segundo turno no estado contra Rosinha Garotinho, praticamente eleita agora ou depois.



O Globo chegou a perguntar em sua manchete principal: “Guerra do tráfico ou exploração eleitoral?”. Se os jornalistas do diário dos Marinho tinham dúvidas, a população nunca teve. Aliás, não se tratou nem de uma guerra entre comandos do tráfico nem estratégia eleitoral. Simplesmente os chefões de uma das organizações cariocas resolveram provocar o fechamento do comércio.



Agora à noite as coisas começaram a ficar mais claras com a veiculação de uma fita contendo o diálogo entre traficantes que deverá elucidar o assunto. O diálogo foi ao ar no Jornal Nacional e deve ser tema das manchetes dos jornalões nesta quarta-feira. Exceto o JB, os demais poderão sair do muro em que se encontram e assumir a linha preponderante que indica o CV como responsável pela confusão desta segunda no Rio.



O comportamento da imprensa no caso, por sinal, foi muito insatisfatório. Todos os veículos pareciam perdidos, a começar pela CBN que desprezou o fato na primeira metade do dia de ontem. O gerente da emissora alegou que o “comedimento” na cobertura era necessário. Não precisava, entretanto, deixar os ouvintes escutando algo como o “Momento Sebrae” enquanto os lojistas de Ipanema e da Tijuca fechavam as portas. Tomara que a partir de amanhã as coisas melhorem em todos os sentidos.



Escrevi um artigo sobre a atuação da imprensa para o Comunique-se. Quem quiser lê-lo basta acessar o portal: www.comuniquese.com.br


 
  Na capa do Zero Hora

O principal diário do sul do país saiu-se bem hoje. Estampou na capa (http://zh.clicrbs.com.br/capa/img_capamini.jpg) texto do jornalista Nahum Sirotsky, correspondente do jornal em Tel Aviv, que passa férias no Rio e na segunda foi surpreendido pelo fechamento do comércio pelo Comando Vermelho.


Tenho encontrado Nahum sempre. Ele adora vir aqui em casa visitar as crianças que o chamam de “cara de coruja seca” e “velhinho”. No domingo, ofereci-lhe um empadão de frango no almoço feito pela Rosa. Enquanto comia, disse que recebeu um telefonema no hotel da neta Rachel, de Israel. Ela dizia, em hebraico: ”vovô, estamos preocupados com você. Dizem aqui que no Rio há muita violência. Volte logo”. Que ironia.


No texto que mandou para a ZH, Nahum conta que em 50 anos de profissão (ele está com 77), nunca havia visto nada igual. Curioso que ontem pela manhã, ele me ligou dizendo que ia dar um pulo no centro da cidade e “comprar uns chocolates para os meninos”. Perguntei se sabia o que estava acontecendo. Teve que submeter-se às leis do tráfico e permaneceu o dia em segurança no hotel.


Rachel, de dez anos, deve estar sabendo do 30 de setembro carioca. Ela tem razão. É melhor o avô ajeitar as malas rumo ao Ben Gurion.


 
segunda-feira, setembro 30
  O feriado do CV

O Rio parou. Parte da imprensa também.



19hs. A noite começa e é hora de fazer um pequeno balanço do dia enquanto aguardo a edição de hoje do Jornal Nacional. Uma inusitada segunda-feira esta, em que a maioria da população do Rio de Janeiro teve sua rotina alterada e que irá entrar para a história como o dia em que o tráfico parou a segunda maior cidade do país.


Moro numa das regiões delicadas do Rio, um enclave entre Copacabana e o Arpoador, perto do morro do Cantagalo, do Pavão e do Pavãozinho. Amigos me dizem que em outras regiões de Copacabana o fechamento do comércio não foi tão intenso quanto aqui. Acabo de voltar de um supermercado onde fui comprar pão, um dos poucos abertos nas redondezas. Segundo o gerente, ninguém recomendou ou exigiu seu fechamento. Para ele, a maioria dos comerciantes resolveu fechar por conta própria, como mera prevenção.



Há outros relatos de telefonemas ameaçadores a bares e lanchonetes que imediatamente fecharam suas portas. O fato é que, pelo menos para mim, ter saído para “sentir” a rua foi a melhor forma de obter notícias sobre o que aconteceu no Rio hoje.



Os canais de informação online e o rádio, principalmente a CBN, e também a TV aberta, “bateram cabeças” ao longo do dia que começou muito mal para eles. Escrevi uma pequena impressão disso para o portal Comunique-se, sobre a atuação da imprensa pela manhã, em que criticava a emissora de rádio especializada em informação. A sua resposta, a da emissora, foi que o “comedimento” da cobertura foi voluntário e serviu para não aumentar o pânico nas pessoas.



Acho correto. Isso não significa, porém, que o noticiário tenha que omitir ou não descrever de forma permanente os acontecimentos que paralisaram a cidade em vários de seus bairros. Não faz sentido falar sobre outros assuntos e manter os informes publicitários durante a programação enquanto algo de muito sério ocorre nas ruas. É possível evitar o tom alarmista enquanto entrevistas são feitas, reportagens são veiculadas e o âncora fala. Acho louvável a preocupação do chefe da CBN mas acho que houve certo exagero em tocar o tema com tanto distanciamento.



No caso das agências online, houve calma quando era necessário agilidade. Globonews.com e JB Online mantiveram na capa a mesma manchete das 15h às 18h. O noticiário foi sendo atualizado normalmente mas faltou o sentido de cobertura em tempo real, que sugere a alteração permanente das homepages.



Daquilo que pude acompanhar, a melhor foto é do JB online, com funcionários atrás das grades da porta de uma loja. A cobertura mais completa me pareceu a do jornal do IG, o Último Segundo. Uma página resumia tudo, concentrando a apuração da reportagem que contou a ajuda do pessoal do jornal O Dia. Tinha do Camelódromo da Central até escolas públicas fechadas.



Se me perguntarem de quem eu realmente esperava mais, diria que da Globonews.com e principalmente da Agência Estado. Esta última parecia tratar o tema, pelo menos até o meio da tarde, como se o Rio fosse uma Skopie, a capital da Macedônia, desimportante e distante. Jornalista não é preguiçoso. Acorda cedo quando preciso, faz plantões e dá duro na rua, no telefone, na Web. Francamente não sei o que pode ter acontecido. Falta de gente? Gente despreparada para cobrir eventos dessa natureza? São várias as possíveis razões para tanta cabeçada.



As emissoras da TV aberta seguiram a mesma linha: um noticiário burocrata. A Globo colocou no ar dois boletins do Globo Cidade nos intervalos do filme da sessão da Tarde. Um às 16h34 e outro às 16h50. O repórter mostrava o centro da cidade, na altura do prédio do consulado dos EUA, aparantemente sem incidentes. Nada de flashes ou entradas ao vivo da governadora falando ou dos seus secretários. Nada de lojistas sendo entrevistados, motoristas de ônibus, etc. Deve ter ficado tudo para o Jornal Nacional que agora tem a obrigação de registrar a melhor cobertura do dia. A noite começa sem que saibamos a dimensão dos fatos, suas origens e seus desdobramentos.



Finalmente, quero dizer que posso ter cometido injustiças nessa análise. Não foi possível ver tudo, acompanhar tudo. É muito fácil também trabalhar em casa e, confortavelmente sentado diante do computador, criticar o trabalho dos outros. Quero crer que todos deram o melhor de si, não tenho dúvidas. Mas que a imprensa ficou devendo hoje ao público, isso ficou. Melhor para os jornais impressos de amanhã que vão poder provar, mais uma vez, salvo engano, que ainda está no papel o melhor jornalismo.


 
  A zonal sul do Rio, no feriado do tráfico

15h. Almocei e decidi caminhar um pouco por Copacabana, onde moro. Dá para dizer que 80% das lojas estão fechadas. A maioria dos proprietários fechou o negócio por conta própria, sem pressão direta dos mensageiros do Comando Vermelho. Há relatos de donos de bares que receberam telefonemas “recomendando” o fechamento. Formavam pequenas rodas em algumas esquinas comentando o clima de feriado e que decisões tomar. Muitos funcionários foram dispensados mas era possível ver em alguns locais certo número deles ainda dentro das lojas lendo jornais ou escutando o rádio.


As redes de supermercados deixaram a decisão de fechar ou não as lojas por conta de cada gerente. O Pão de Açucar próximo a um dos acessos do morro do Pavão fechou logo cedo e outros foram no embalo. Uma filial do “Zona Sul”, rede bastante capilar nesta região da cidade, ainda funcionava no posto 6. “Só vamos fechar se sentirmos o clima muito pesado”, disse o gerente. A atmosfera, entretanto, é de tranquilidade por aqui. Poucas pessoas nas ruas, os bancos fechados. Segundo Fernando Henrique Cardoso, ainda na CBN, há um certo “exagero” no Rio. Resta saber se os exagerados são os traficantes ou os moradores que decidiram logo fechar as portas, por prudência ou por pânico mesmo.


Enquanto isso, a mídia parece anestesiada. A TV Globo, que por muito menos costuma colocar seus plantões (ou o boletim Globo Comunidade) no ar, vem difundindo os acontecimentos apenas em sua grade convencional de telejornais. Quando se esperava algo logo após o horário eleitoral gratuito da tarde, a emissora manteve sem interrupções o programa Video Show.


Na web, a Globonews.com manteve durante três horas a mesma imagem em sua homepage. Uma rua com lojas fechadas. Trocou as manchetes mas às 14h40, das onze chamadas listadas em sua capa, nenhuma dizia respeito ao Rio. As eleições e os novos resultados das pesquisas continuam predominando o noticiário.


Na CBN, o dia no Rio finalmente ganhou o merecido destaque a partir das duas da tarde. Uma inevitável mesa redonda com “especialistas” começava a se formar na emissora para “debater” os fatos e o melhor a fazer nestes casos é desligar o rádio. Pela manhã, foi o que já relatei.


Em Ipanema, as boutiques mais luxuosas estão fechadas. Funcionam apenas lanchonetes e alguns bancos. O bairro, o mais famoso da zona sul, foi o epicentro das informações e da boataria da manhã. Logo depois começaram a surgir informações de ocorrências similares na Tijuca e no Méier, na zona norte e mais próximos dos morros sob chancela do Comando Vermelho.


A escolinha dos meus filhos, como presumia, resolveu fechar também. As professoras não conseguiram chegar ao trabalho, a maioria mora longe. Muitas disseram ter medo de circular pela cidade. O fechamentos das escolas foi geral. Em várias unidades do colégio Pedro II, federal, pais de alunos forma buscá-los no meio da manhã. As aulas foram suspensas e o período vespertino suspenso. Em meio ao nervosismo, o choro de uma adolescente mais exaltada ao orelhão. Coisas da idade, diziam alguns. Na dúvida, é melhor mesmo chamar a mãe.


 
  O CV faz a segunda virar domingo no Rio

E na Web não foi muito diferente

A falta de faro para a notícia demonstrada pela direção de jornalismo da CBN (leia nota mais abaixo) também pareceu acometer as redações dos serviços noticiosos online nesta manhã de segunda-feira. A agência Estado na Web publicou nota sobre o fechamento do comércio às 8h54 e não mais voltou ao tema até o meio-dia.


Um pouco melhor se saiu a Globonews.com. Pelo fato de estar fisicamente no Rio, entretanto, podia-se esperar muito mais. O tom do noticiário evitou o pânico mas a dosagem de frieza poderia ter sido menor. Nisto foi bem o Último Segundo cuja manchete foi mais equilibrada, sem tanto terror nem tanta “normalidade”: “Comando Vermelho obriga comércio a fechar em várias bairros do Rio", publicou. Já a globonews.com preferiu ir contabilizando os presos pela boataria em sua capa. Eram quatro ao meio-dia e oito às 13.30.


O fato é que fazia tempo que não se observava uma imprensa tão lenta e negligente com um fato tão importante. O Rio neste momento é uma cidade semiparalisada em plena segunda e os serviços noticiosos no rádio e na Internet tratam o tema de forma irregular, principalmente em seus primeiros momentos na manhã. O assunto só deve esquentar para valer ao longo da tarde, acredito eu.


Em alguns veículos, mais destaque à variação do dólar e ao índice Bovespa do que propriamente ao fato maior do dia, o tráfico impondo suas leis por quase toda a cidade e alterando a rotina não de cem mil pessoas mas de quase três milhões.


 
  A sabotagem, de novo

Primeiro foi o relações públicas da PM de Benedita no Rio. Perguntado na CBN sobre o fechamento do comércio, ele não hesitou: “Estranho isso acontecer no início da semana que antecede as eleições”. No ar, literalmente, quis dizer que a ação do tráfico tem razões políticas.


Não demorou muito para que o PT comentasse o assunto. De São Paulo, um de seus cardeais, Aloizio Mercadante, também disparou, na Globonews.com: “a quem interessa isso? Ao PT e seus candidatos é que não é. Querem tumultuar o processo eleitoral”. De novo, a sabotagem (veja nota nesta página intitulada “A Sabotagem”), a conspiração, o complô contra o partido. Tudo, absolutamente tudo que Fernandinho Beira-Mar determinar terá obrigatoriamente que passar pela questão eleitoral.


O queixume petista deverá durar o dia todo. Provavelmente Lula dará declarações neste sentido, se já não o fez. Interessante será notar o comportamento do partido ano que vem. Ao menor sinal de eventual fracasso, seja em que área for do governo, sempre haverá os sabotadores a justificar as ações mais repressoras em nome da “ordem pública”.


Neste momento em que parece crescer a candidatura de Benedita, o que provocaria um impensável segundo turno com Rosinha Garotinho, a ação do tráfico vem a calhar para o PT que pode botar na conta dos traficantes esta nova “sabotagem” contra as pretensões do partido no Rio. Da própria governadora, segundo manchete do IG:Benedita disse que esta onda de boatos que está correndo a cidade é estranha


 
  O radiojornalismo da CBN é mais lento que os governantes

Quando não havia a Internet, acontecimentos como o ocorrido hoje no Rio, em que mensageiros do tráfico mandaram o comércio fechar na cidade, eram acompanhados pelo rádio, veículo até então reconhecidamente mais ágil que a própria TV aberta. Para que as emissoras deste meio interrompessem suas programações, só mesmo algo parecido com um terremoto, como foi o caso das quedas da torres.


Nesta segunda, desde bem cedo já circulavam rumores de que algo diferente iria acontecer. Alguns bares já haviam fechado suas portas na madrugada. Lá pelas nove da manhã, mães e pais de alunos já telefonavam para as escolas querendo saber notícias e informando diretores e professores que não sabiam de nada. A boataria correu solta sem que houvesse uma contrapartida da imprensa no rádio, seja para esclarecer o que estava ocorrendo, seja para acalmar a população ou para mesmo prevení-la. Boa parte das pessoas ainda depende do rádio para saber o que ocorre na cidade e no país.


Antes de ligar o computador, busquei no rádio por notícias. Na CBN, referência do radiojornalismo no Brasil há uns bons anos, as primeiras informações, em boletins de repórteres nas ruas, só chegaram a partir das 9h30. Mesmo assim, negligenciadas pelos âncoras, que continuaram a trabalhar como se nada de extraordinário estivesse acontecendo. Nesta altura da manhã, sabia-se que ônibus haviam sido impedidos de trafegar no centro da cidade e mais de 10 bairros da cidade já estavam parcialmente ou completamente paralisados.


Perto das 11h, a CBN chegou a veicular informes publicitários de quase cinco minutos de duração enquanto os ouvintes, provavelmetne aflitos, procuravam mais detalhes do fechamento do comércio imposto pelo tráfico.


Lenta e negligente com o principal fato do dia, a “rádio que toca notícia” deixou milhares de ouvintes sem informações e não conseguia responder, pelo menos atá o momento em que publico esta nota, os motivos da ação dos traficantes. Foi porque proibiram visitas íntimas a Beira-Mar? Foi por causa da suposta morte de sua mãe? Quando não se tem notícias claras, a boataria é soberana.


 
domingo, setembro 29
  Uma trégua aos capitalistas

Curiosamente, aumenta nos últimos dias de campanha eleitoral a qualidade dos questionamentos a respeito do que verdadeiramente importa saber sobre o futuro presidente do país. Lula irá conseguir controlar as demandas “sociais” do aparelho revolucionário do próprio partido, do MST, das entidades e das centrais sindicais que orbitam ao redor do PT? O ex-metalúrgico, agora prestes a vestir o manto presidencial, conseguirá equilibrar-se na corda que divide a “normalidade” institucional e financeira da pressão estocada ao longo de 22 anos desde a fundação do partido por mudanças no regime econômico “burguês”?


Exceto pelos pouquíssimos articulistas que há muito tempo vêm alertando para a preocupante plausibilidade do caos a partir da vitória do PT, não se ouve outras vozes fazendo côro ao sombrio presságio deles, baseado por sinal em fatos incontestáveis. De uns dias para cá, porém, parece que alguns acordaram para o verdadeiro debate. Longe de equilibrar o noticiário, ainda fartamente pró-Lula, dois exemplos merecem ser pensados.


O primeiro vem da colunista do jornal Valor Econômico, Eliana Cardoso. Em seu artigo de quarta-feira passada, ela diz claramente:


Enquanto a preocupação é ganhar as eleições, as tendências mais radicais ficam arquivadas. Mas voltarão à carga uma vez passada a eleição. O MST já discute como será a ação num governo do PT e quanto tempo Lula terá para resolver suas reivindicações "sem enfrentamento". Servidores também farão cobranças. Lula terá dificuldade para controlar a avalanche de demandas sociais, as greves por melhores salários, as invasões de terras e as paralisações organizadas por funcionários públicos. Ocorreria então uma hemorragia de capitais que Lula tentaria estancar com o controle do câmbio provocando a ruptura de acordos anteriores. Neste caso, o risco de seguirmos os passos da Argentina é real.


O outro exemplo de análise pertinente sobre o futuro presidente do Brasil é do diretor de redação de O Globo, Merval Pereira, jornalista que vem surpreendendo pela lucidez de seus comentários embora seja o chefe de um jornal que muitas vezes parece ser feito por uma facção petista.


Vejam o que ele observa neste domingo, 29: “...o novo governo petista terá condições de controlar a máquina partidária e as demandas dos chamados movimentos sociais, a maior parte delas conflitante com as reformas estruturais da economia que se precisa fazer?..”


Enquanto Lula continua a obter o apoio do empresariado, chega a ser engraçada (para não dizer trágica) a declaração do presidente da CUT, João Felício, durante encontro entre sindicalistas, empresários e o PT num hotel em São Paulo ontem. Segundo relata O Globo, o líder sindical disse que os sindicatos prometem não fazer greves numa clara “trégua aos capitalistas”. Talvez resida nesta pequena declaração a resposta para a pergunta levantada por Merval Pereira em seu artigo de hoje no mesmo jornal.


 
Felix qui potuit rerum cognoscere causas

e-mail - guidalli@gmail.com

Editor: Sandro Guidalli

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