Prioridade máxima
Por Sandro Guidalli
Já está claro que a prioridade neste momento da política para o exterior do governo Lula é garantir a permanência do aliado Hugo Chávez na presidência da Venezuela. Hoje, alguns jornais publicaram nova defesa do empenho dos burocratas petistas, desta vez com as palavras do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, homem que costuma abraçar calorosamente Fidel Castro sempre que o encontra.
Disse Amorim que a eventual saída de Chávez não representará paz no país vizinho. Mas não afirmou o contrário, ou seja, que a permanência dele significará também o aprofundamento da crise. Todos no PT estão fazendo de conta que estão interferindo no processo para garantir uma saída negociada. É mentira. Chávez conta com o apoio do Brasil para manter-se no poder feito um bicho preguiça que se apega aos galhos das árvores para nunca mais deixá-los.
E a imprensa brasileira? Como se comporta? Exceto dois ou três jornalistas mais críticos, a grande maioria vem sendo generosa com o novo governo, passando para a opinião pública a falsa impressão de que o Brasil quer a paz e que lutará por ela. Claro que o conflito também é negligenciado pelas emissoras de TV. No Jornal Nacional, a praxe é uma nota com algumas imagens sem que se possa entender realmente porque a Venezuela chegou onde chegou.
Mas quem é Chávez e o que pretende? Os brasileiros desconhecem suas intenções, seu desejo de transformar a Venezuela numa Cuba empapuçada de petróleo. Chávez parece ser um ditador convencional que chegou ao poder usando a democracia. Tenta adequar o país aos seus princípios. Daí o atrito com a oposição. É este homem que o Brasil está apoiando. Haverá um preço. Qual?
Mais farsas
Sandro Guidalli, em Belo Horizonte
A mais nova cantiga de roda a movimentar-se na mídia diz respeito à criação de um tal grupo de amigos da Venezuela, supostamente, segundo os jornais, idealizado por Lula da Silva. O grupo serviria como apoio aos trabalhos da OEA na tentativa de uma solução pacífica para o governo Chávez e seria articulado a partir da visita de Lula ao Equador para a posse do presidente eleito por lá.
Acontece que a idéia da formação de um grupo de apoio à saída pacífica da crise venezuelana é do próprio responsável por ela, o presidente Hugo Chávez. Seu objetivo não é auxilar a OEA em nada e sim garantir a permanência dele no poder. Hoje, O Globo e o Valor Econômico, ao reportar a eventual realização de tal frente de amigos da Venezuela, fizeram de conta que a sua formação é mesmo idéia do PT e que ela está plena das melhores intenções.
Faltou a pergunta: o grupo admitiria a remoção do próprio Chávez do poder a fim de pacificar o país? Se a idéia de sua formação partiu da estratégia do principal protagonista da agonia venezuelana é evidente que não. Mas o que parece óbvio aos leitores escapa aos jornalistas. E na mídia brasileira, isso é cotidiano.
A oposição a Chávez deve estar precavida para o que vem por aí. O PT irá mesmo jogar duro para apoiar seu aliado, disso ninguém poderá duvidar ainda mais depois do envio de gasolina pelos fura-greves FHC e Lula. Enquanto isso, aguardemos a próxima cantiga a ser composta nas redações do país.
Uma fonte na Polícia Federal me disse que eram 18 os integrantes das Farc na posse de Lula. Segundo as informações, deram muito trabalho à corporação mas foram discretos. As Farc têm excelentes relações com o PT com quem divide a agenda no Foro de São Paulo. A expectativa dos terroristas marxistas que lutam pelo poder na Colômbia é a de que Lula afrouxe a diplomacia brasileira, levando-a a apoiar suas iniciativas contra o governo democrático de Alvaro Uribe. Também espera-se uma mudança na postura do Exército brasileiro que vem rechaçando os guerrilheiros na fronteira amazônica, mais notadamente na região conhecida como a "cabeça do cachorro". Militares brasileiros enfrentaram várias vezes as forças revolucionárias no local impedindo o uso do território brasileiro para suas operações de tráfico de drogas e de treinamento militar.
Olhando de longe
por Paulo Leite, de Washington, DC
Precisão suiça - Mesmo aqui nos Estados Unidos, onde a previsão do tempo é quase uma religião, nada é mais comum do que previsões furadas. Domingo passado, por exemplo, a meteorologia falava em uma nevezinha de nada para a região de Washington, mas acabamos tendo que aguentar 10 centímetros de neve, que caiu durante todo o dia, causando centenas de acidentes e pegando todo mundo desprevenido. Os meteorologistas, porém, não são os únicos a fazer previsões: os jornalistas políticos passam o tempo todo tentando adivinhar o futuro. E perto deles, os meteorologistas são precisos como um relógio suiço. Agora, um site da Internet chamado Political Predictions se encarrega de verificar a exatidão das previsões feitas pelos principais jornalistas dos Estados Unidos. Para muitos deles, o resultado é um vexame. O site é meio anônimo, mas parece coisa de esquerdista (quem mais teria links para “Progressive Review” e “Iron Fist of Capitalism”?), mas jornalistas de todo o espectro político são cobrados implacavelmente por suas previsões equivocadas.
Alguns exemplos recentes:
Paul Krugman (do New York Times e queridinho da grande imprensa brasileira): “A produtividade da economia americana vai cair
acentuadamente este ano.” Realidade: o índice de produtividade subiu mais de 3%.
Bob Novak (da CNN e jornais variados): “Acho que Trent Lott vai se manter como líder da maioria no Senado.” Realidade: Lott renunciou ao posto no dia 20 de dezembro.
Krugaman, o pobrezinho - Falando em Paul Krugman, tem muito conservador soltando fumaça depois de ler trechos de sua entrevista à revista alemã Der Spiegel. A certa altura, Krugman diz que “ao invés de escrever um artigo sobre a Nova Economia, eu
agora me transformei na solitária voz da verdade num mar de corrupção. Às vezes, acho que vou acabar numa daquelas gaiolas na Baía de Guantânamo.” Diz o jornalista Andrew Sullivan em seu blog: “Pobre mártir pela Verdade. Tão perseguido pelo governo que consegue escrever duas vezes por semana no NY Times e ser constantemente badalado pela mídia. Tão puro que você nunca
adivinharia que fez parte do Conselho Consultivo da Enron, e nunca devolveu os 50 mil dólares que ganhou da empresa para não fazer nada.”
Meu companheiro Jesus - Uma pesquisa de opinião realizada recentemente para descobrir quais os “Maiores Norte-Americanos de Todos os Tempos” deu Abraham Lincoln na cabeça, seguido de George Washington, John Kennedy, Teddy Roosevelt,
Martin Luther King, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Franklin Roosevelt, Ronald Reagan e Jimmy Carter. O curioso da pesquisa é que Bill Clinton ficou em décimo-terceiro lugar, empatado com... Jesus Cristo, que ao que me consta nunca foi americano. Como se o ego do ex-presidente já não fosse inchado o suficiente.
Nelson Rodrigues, anyone? - O “reverendo” Al Sharpton, conhecido agitador racial de Nova Iorque e candidato a candidato a Presidente, disse outro dia que o Partido Democrata está se movendo demasiado à direita, deixando os negros para trás. Diz ele que “os Democratas tratam os negros como suas amantes: eles gostam de se divertir com a gente durante as eleições, mas não nos
consideram bons o suficiente para apresentar-nos aos seus pais.” O Partido Democrata não precisa se preocupar muito, porém. Basta fazer de Al Sharpton seu candidato em 2004, e tudo estará perdoado.
Gustavo Erlichman está em Israel, hospedado na casa do Nahum Sirotsky. Dêem uma olhada no http://michigne.blogspot.com/
Prezados leitores, estou retornando ao trabalho e esta página voltará a ser atualizada diariamente. Com uma novidade: a partir de agora, o jornalista Paulo Leite, radicado em Washington, estará aqui com grande frequência, dividindo comigo a edição da Guidalli.com. Esta semana também devo inaugurar minha coluna no www.midiasemmascara.org. Portanto, aguardem.
e-mail - guidalli@gmail.com
Editor: Sandro Guidalli