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sexta-feira, setembro 6
  Bia Moraes e o triângulo odioso

O texto abaixo é da minha amiga e jornalista Bia Moraes, de Curitiba. Vejam só o que ela relata sobre a sinistra entrevista que a co-diretora do “Cidade de Deus”, Kátia Lund, deu recentemente a uma revista:



Ainda não vi o filme (não estreou aqui), mas fiquei absolutamente horrorizada com a entrevista que a Katia Lund deu à revista TPM (uma que tem o Gianechinni maquiado na capa).



Cara, é de doer. Ela ser uma retardada que fala aquelas barbaridades é uma coisa; ela ser uma retardada que fala barbaridades para um jornalista é ainda pior; o jornalista reproduzir e o editor publicar é simplesmente o fim da picada.



Entre outras coisas, ela conta que, como filha de americanos ricos, foi criada "numa bolha", no Rio de Janeiro, sem conhecer "a realidade". Realidade esta que ela só foi conhecer nos morros cariocas, onde "adora passar finais de semana" e onde tem três crianças afilhadas. Elogia o Marcinho VP como "excelente pessoa" e outras pérolas - um traficante, assassino, criminoso!!!!


A lenga-lenga de que ele não teve outra opção se não ser traficante.... "fico pensando, se eu tivesse nascido no morro, eu poderia ser traficante; se ele tivesse nascido onde nasci, poderia ter sido cineasta...."
Conta do primeiro encontro deles, lembrando dos olhos lindos do rapaz...



Ela faz um meaculpa porque teria sido devido à relação dela e do João Moreira Salles com o VP que a polícia conseguiu rastreá-lo e prendeu-o. Não fosse por isso, o lindo e adorável rapaz estaria solto, continuaria traficando e matando (decerto era isso que ela queria??!!!)



Não bastasse tudo isso, a entrevista é recheada por aspas - gente "famosa", artistas, etc, elogiando a própria Katia Lund. E há, claro, a cereja do bolo: um texto escrito pelo próprio Marcinho VP tecendo loas à sua descobridora, sua musa, ou seja, a otária branca e rica que ele conseguiu engambelar, seduzir e usar.


 
  E o general abre o jogo de tão nervoso

Numa entrevista a Jorge Bastos Moreno hoje no jornal da Irineu Marinho, o general Leônidas Pires Gonçalves mostrou-se tão irritado quando o assunto foi seu suposto apoio à candidatura Lula que deixou transparecer a verdade: ele apóia mesmo o candidato do PT. O título da matéria: “General ataca FH e reage a associação com Lula”.



O homem que renovou a ESG, segundo O Globo, (na verdade, transformando-a definitivamente num lugar em que costumam ser bem recebidos revolucionários como José Dirceu e José Genoíno), disse que é “safadeza” vincular o convite que fez a Lula para dar palestra na entidade a uma eventual preferência dele pelo candidato do PT.



Sobre as insinuações de que “motivos inconfessáveis” estariam por trás da aliança entre parte das Forças Armadas e o PT, o general foi tão contundente em negá-la que ficou claro que há sim motivos inconfessáveis e eles passam pela retomada do programa nuclear brasileiro sob o governo Lula. Adivinhem onde deverá cair a primeira bomba made in Brazil...



Em texto abaixo da entrevista, assinado por Chico Otávio e Adauri Barbosa, militares ouvidos pela reportagem de O Globo desfazem qualquer mistério sobre a preferência deles na corrida sucessória. Vejam o que diz sobre Lula o o brigadeiro da reserva Ruy Moreira Lima: “sou Lula. E não tenho percebido em meus colegas de farda qualquer restrição a Lula”.


 
  A Ameaça de Marcito

Dono de uma coluna diária em O Globo, Marcio Moreira Alves, espécie de jornalista-militante marxista veterano, voltou a desinformar nesta sexta, em artigo com o título "Ameaça da Direita", em que ataca o polêmico e certeiro artigo de Constantine Menges, originalmente editado numa publicação que nada tem a ver com o Washington Times, jornal do reverendo Moon. MMA aproveitou o fato de o artigo ter aparecido no Brasil através deste jornal para com isso ridicularizar o articulista, vinculando-o ao religioso e assim botar em segundo plano a discussão sobre as questões abordadas pelo texto de Menges.


Para quem não sabe, Menges disse o óbvio: a vitória de Lula serve aos interesses revolucionários da esquerda mundial, que teria o Brasil como revitalizador da luta sanguinária já em curso pelas Farc na Colômbia. Fidel Castro, Hugo Chávez, as Farc e Lula irão assim compor um vigoroso “eixo do mal” latino-americano, coisa absolutamente clara para mim e outra meia-dúzia de pessoas mas que é sistematicamente omitida pelos jornalistas brasileiros na hora de selecionar o que vão e o que não vão publicar na grande imprensa. Basta dizer que foi preciso um jornalista americano escrever o que todos por aqui, se a mídia local fosse realmente honesta, já deveriam estar cansados de saber.


Pois com a cara de pau que lhe é peculiar, MMA não apenas acha tudo isso uma invenção da “extrema direita” como chega a dizer que o tal Foro de São Paulo criado para aglutinar as forças comunistas do continente não tem como objetivo final criar justamente um bloco revolucionário anti-americano e anti-capitalista. Pois este foro não apenas tem isto como objetivo final como teve sua última reunião entre Fidel e Lula, como participantes dele, no final do ano passado.


Junte-se a isso tudo a campanha de desinformação que visa transformar Lula num cordeirinho democrata e temos aí o retrato do que a esquerda prepara no Brasil, uma conquista com Lula presidente realmente impactante que poderia arrastar junto as democracias na Argentina e em todo a América do Sul no médio e longo prazos. Quem encontrar esta resumida exposição do que ocorre debaixo dos nossos narizes na imprensa, por favor, me avisem. Será realmente algo inusitado.


 
quinta-feira, setembro 5
  Um Triângulo Amoroso. (ou seria odioso..)

Não é novidade para ninguém que a classe artística deste país adora os traficantes. E também não é novidade que os jornalistas adoram os artistas, diretores e compositores que defendem os traficantes ao torná-los vítimas e não culpados pelo que fazem. Na verdade, o que eles, os artistas, os jornalistas e os traficantes praticam é um imenso triângulo amoroso. Os últimos são glamourizados pelos primeiros que são adorados pelos jornalistas, etc, etc.



A cobertura de O Globo e do JB sobre a versão para o cinema da ficção de Paulo Lins ,“Cidade de Deus” , um livro por sinal muito chato, é mais um exemplo disso. Alguém já notou, não me lembro quem, que o máximo da discórdia entre os “articulistas” dos cadernos da mídia cultural em relação ao filme de Fernando Meirelles e de Kátia Lund, limita-se ao plano estético, com alguns achando que o tratamento dado às cenas ficou muito “maquiado” e outros achando que não. Ora bolas, isso é o que menos interessa em relação a esta homenagem que a filmografia brasileira deixa aos traficantes cariocas.



Enquanto os jornalistas, portanto, não se cansam de repetir que o filme é sensacional, retrato perfeito da realidade, blá, blá, blá, uma delegada, Marina Magessi, mais exatamente a Chefe do setor de investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro, resolveu escrever um artigo publicado nessa terça em O Globo colocando as coisas nos seus devidos lugares. Sua principal e corretíssima observação é a seguinte: Meirelles e Lund tratam a criminalidade como a única escolha do jovem pobre e de favela. Por isso, tudo fica mais ou menos justificado e daí inclusive a transformação de um Marcinho VP da vida em herói vítima do capitalismo que merece “uma segunda chance na vida” depois de ter matado e feito o diabo enquanto chefe do tráfico.



O artigo vai além e o que posso resumir dele é que a delegada dá uma bofetada bem dada nessa gente que vive defendendo bandido e denegrindo a polícia seja na imprensa seja através do cinema e do teatro. Curiosamente, ao contrário do que imaginei, a seção de cartas de O Globo no dia seguinte ao artigo publicou apenas dois comentários em favor da delegada. Mais nada. Fico intrigado. Será que somente estas pessoas reagiram ao que leram, seja a favor ou contra a policial? Teria o editor da seção de O Globo abafado a repercussão? Prefiro sinceramente não acreditar nisso mas que ficou estranho ficou.



O artigo da policial Marina foi por sinal publicado no portal Comunique-se, na seção “Em pauta”. Quem o fez, fez muito bem em tê-lo publicado. Está lá para quem quiser ler se ainda não teve esta oportunidade.


 
  O Globo dá aula de como não fazer uma foto-legenda

Foto-legenda é aquele texto colocado logo abaixo de uma imagem e que serve justamente para identificar o que está na foto, explicá-la melhor ou para contextualizá-la. Na edição de ontem de O Globo, uma foto impressionante, a de um grupo de 15 norte-coreanos correndo rumo a porta de uma escola alemã em Pequim, a fim de obter asilo político, ganhou um texto burocrático que não esclarece o leitor sobre a motivação daquelas pessoas. Seria um bando de malucos cansados de seu país? Por qual motivo realmente buscavam a liberdade a partir da entrada em uma escola alemã? Assim, os leitores que não conhecem o regime da dinastia comunista de Kim Il Sung e do filho, Kim Jong Il, ficaram sem saber sobre o que justifica o desespero dos norte-coreanos, sufocados pela mais perversa ditadura totalitária (similar e talvez pior ainda que a cubana) e que já dura mais de 50 anos. Aliás, recentemente resenhei o livro de Marcelo Abreu, “Viva o Grande Líder”, da coleção Vida de Repórter, da Geração Editorial. O livro é excelente e mostra em detalhes o mundo à parte dos pobres coreanos do norte. Leitura indispensável, a meu ver, para qualquer jornalista. Se o editor da foto de O Globo o tivesse lido, por exemplo, garanto que teria feito seu trabalho de forma muito melhor.


 
  Nahum Sirotsky está no Rio.

Conversei hoje pela manhã por telefone aqui no Rio com o veterano correspondente Nahum Sirotsky, com quem tive o prazer de realizar recentemente uma entrevista para a coluna que escrevo no Comunique-se. Mas ele estava em Telaviv e eu aqui. Agora vamos fazer uma nova, desta vez pessoalmente.


Nahum está uma fera. Suas primeiras impressões sobre a campanha eleitoral são as piores possíveis. “Na mão destes publicitários, a coisa realmente está terrível”, disse ele. Nosso encontro no Rio será devidamente registrado nesta página logo depois que nos encontrarmos pessoalmente. Para quem não sabe, Nahum é o atual correspondente da Zero Hora e do IG no Oriente Médio e , na minha opinião, hoje a melhor fonte disparada dos conflitos entre árabes e judeus em que os brasileiros podem ter acesso. Minha entrevista com ele no Comunique-se pode ser lida no arquivo do portal sob o título “De Ramat Aviv, Nahum Sirotsky


 
terça-feira, setembro 3
  Janer Cristaldo diz tudo

Janer Cristaldo, com quem tive a honra de jantar recentemente em São Paulo, é autor de um texto que esclarece muito sobre a questão do amparo mútuo dos regimes militares do Cone Sul no combate ao terrorismo marxista nos anos 70 - ver nota neste blog "Quando a Folha resolve desinformar". Como já estamos cansados de saber, os jornalistas relatam a chamada Operação Condor com nojinho e ares de indignação sem sequer mencionar operações conjuntas dos terroristas financiados pela ex-URSS, China e Cuba, muito piores e mais amplas que o conchavo da Inteligência militar efetuado neste canto da América Latina.



Publico a seguir, portanto, o artigo de Cristaldo, escrito no ano passado e de fundamental leitura.



Condor Choca Militantes

Para eles, as nações não tinham fronteiras e o palco de lutas era o planeta todo. Em 35, uma judia berlinense, oficial do Exército Vermelho soviético, veio coordenar a revolução no Brasil, assessorada por aparatchiks belgas, alemães, franceses e argentinos. Osvaldo Peralva, membro brasileiro do Kominform, sediado em Bucareste, ao denunciar a conspiração toda em O Retrato (Editora Globo, 1962), foi banido do mundo intelectual e classificado como agente da CIA. O que Peralva denunciou com conhecimento de causa foi mais tarde documentado por William Waack, no excelente Camaradas (Companhia das Letras, 1993), com pesquisas nos arquivos do Kremlin.



Em 36, foram todos para a Espanha, dar apoio bélico e moral a Stalin, que tentava imobilizar a Europa estrangulando-a com o controle do Mediterrâneo. Juan Negrín, ministro da Fazenda do governo Largo Caballero, raspou os cofres da Espanha em troca de aviões, carros de combates, canhões, morteiros e metralhadoras russas. Ao celebrar com um banquete no Kremlin a chegada das 7.800 caixas com 65 quilos de ouro cada uma (três quartos das reservas espanholas), Stalin, evocando um ditado russo, comemorou: "Os espanhóis não voltarão a ver seu ouro, da mesma forma que ninguém pode ver as orelhas".



Aproveitando a vaza, um vigarista malaguenho fez fortuna internacional, dando o título de Guernica a um quadro em torno à morte de um toureiro.



Em 59, eles deram apoio logístico e de mídia a Fidel e Che, para instalar a mais longa ditadura da América Latina. De Paris, um filósofo feio, baixinho e confuso veio dar seu aval ao tirano do Caribe. Uma foto da época é das mais emblemáticas: Sartre, de pescoço espichado para o alto, adorando Castro como um Deus. Em La Lune et le Caudillo (Gallimard, 1989), Jeannine Verdès Leroux nos relembra este momento de extraordinária poesia.



-Todos os homens têm direito a tudo que eles pedem - pontifica Castro. - E se eles pedem a lua? - pergunta Sartre. O ditador retoma seu charuto e se volta para o filósofo baixinho: - Se eles pedem a lua, é porque têm necessidade dela.



Pediam a lua no bestunto do ditador e do filósofo. Em verdade, queriam dólares, pão e liberdade. Da mesma forma que a Espanha, em 36, foi um campo de treinamento para a Segunda Guerra, a América Latina era laboratório de experimentos sociais para os filosofadores europeus que, no dizer de Camus, assestavam suas poltronas no sentido da História.



Também dos salões de Paris vinha o apoio teórico a Che Guevara e seus celerados, através de Régis Debray, mais tarde ministro de Mitterrand. Che morreu em odor de santidade e hoje é cultuado na Bolívia, como San Ernesto de la Higuera. Danielle Mitterrand, a viúva enamorada pela figura romântica do guerrillero, dá apoio a guerrilha zapatista em Chiapas, comandada por um agitprop branco travestido de líder indígena, o subcomandante Marcos. E a mulher de Debray criou a biografia fictícia da guatemalteca Rigoberta Menchú, embuste que mereceu o prêmio Nobel da Paz de 92.



Nos anos 60, eles tentaram reeditar no Brasil a Intentona de 35. Para isso, foram treinados na China, União Soviética, Cuba e Argélia. Fracassados e escorraçados em 64, os sobreviventes migraram ao Chile para assessorar Allende e ao Uruguai para dar apoio aos tupamaros. De Cuba, vinha o brado de guerra: "un, dos, tres, mil Vietnãs".



Derrotados no Uruguai em 73 por Bordaderry, deixaram o país conhecido como a "Suíça latino-americana" em destroços, com mais da metade de sua população ativa refugiada no exterior. Para simbolizar o apoio de Cuba ao regime marxista que se instalara no Chile, Castro presenteou Allende com uma submetralhadora. Presente de grego: foi a mesma que o líder marxista usou para suicidar-se em 73. Derrubado o regime de Allende, eles rumaram à Argentina e Portugal, onde a "Idéia" estava em marcha. Em 76, instaura-se, com Videla, a ditadura militar na Argentina. Era o momento de dar de rédeas rumo a outros nortes.



Em 75, alguns militares lusos, entusiasmados com a derrocada de um salazarismo já moribundo, tentaram instalar na península ibérica a república socialista que os espanhóis já haviam exorcizado. A esperança migrara para Portugal. Ou para o Peru, onde o Sendero Luminoso e o Tupac Amaru assassinaram, nos 80, milhares de peruanos, sob a inspiração humanitária do Grande Timoneiro.



Era o que, em Paris, chamávamos de la grande randonée. Aventureiros de todos os quadrantes, alguns imbuídos de nobres ideais, outros de ressentimentos e vontade de poder, migravam de um país a outro para "fazer a Revolução". Em qualquer geografia sentiam-se em casa: sempre havia um comitê para recebê-los como heróis e delegar-lhes novas tarefas. Só no Rio de Janeiro, o cardeal Eugenio Sales alugou 80 apartamentos para abrigar aparatchiks de toda a América Latina, que chegaram a acolher grupos de 150, simultaneamente. O total de militantes hospedados, entre 76 e 82, chegou a cinco mil pessoas.



Eles percorreram o século e o continente latino-americano, receberam doutrinação ideológica e treinamento de guerrilha em diversos países. Quem atesta esta internacionalização são os próprios guerrilheiros em suas memórias. Foram financiados pela China, ex-URSS e até pela miserável Cuba. Além de dispor santuários para onde quer que fugissem, gozavam de exílios confortáveis nas sociais-democracias européias. Se um aparatchik era preso na mais discreta fronteira do mundo, no outro dia manifestantes em Paris, Berlim, Estocolmo ou Londres pediam sua libertação. A luta não tinha fronteiras. Agora condenam, indignados, a chamada operação Condor.



Que horror! Os militares da América Latina trocavam informações e serviços para combatê-los. Isto me lembra um debate dos anos 70 em Estocolmo. Pacifistas denunciavam as Forças Armadas suecas, porque estas usavam armas que feriam e matavam. Um oficial, muito pedagógico, teve de vir a público para esclarecer: "a função de uma arma é ferir e matar".



Consta que os responsáveis pela operação Condor até se comunicavam em código.



Maquiavélicos, estes senhores.



 
  A Veja...2

Ainda em relação à matéria de Veja sobre a admissão de culpa dos juízes japoneses pela brutalidade usada por seu país durante invasão à China na primeira metade do século passado, resta informar que as torturas e experiências feitas pelos invasores japoneses vêm sendo ao longo dos anos fartamente utilizadas pela propaganda comunista que chegou a criar um museu de horrores, como mostra inclusive a própria reportagem de Veja. Chega a ser mesmo impressionante a capacidade do regime inaugurado por Mao em ocultar o que praticou contra 50 milhões de pessoas ao mesmo tempo em que deita e rola contra os japoneses como se a crueldade utilizada contra os chineses tivesse sido exclusividade do império japonês. Sequer esta observação, tão simples e óbvia, foi feita por Veja.


 
  Sugestão de leitura da semana

Acabo de ler e recomendo "A Ideologia do Século XX", do embaixador J.O. de Meira Penna. Este senhor já melhorou muito a minha vida desde que lançou "Em Berço Esplêndido" mas a leitura deste livro sugerido aqui supera tudo. O livro é de 94 e foi editado pela Nórdica e pelo Instituto Liberal. Voltarei a falar dele dentro de alguns dias. Aliás, Meira Penna deveria ser obrigatório nas faculdades de Jornalismo onde apenas imperam a ignorância, a vaidade e o deboche.

 
  A Veja que só vê o que quer. Não o que sabe.

Um dos maiores problemas do jornalista brasileiro da grande imprensa, além da sua arrogância de sabe-tudo e de sua pouca disposição à humildade em reconhecer erros, é o tratamento parcial que costuma dar a um fato histórico, como se ele pudesse ser resumido em si mesmo, eliminando-se assim outras circunstâncias e acontecimentos que dariam ao leitor a oportunidade de enriquecer seus conhecimentos sobre a história da forma mais abrangente possível. Muitas vezes isso ocorre por simples ignorância do jornalista, ele mesmo formado num ambiente limitador. Mas em outras ocasiões, a coisa é feita de caso pensado por causa do fenômeno que transformou o jornalista num militante ideológico.


Um dos mais recentes exemplos do que falo foi dado esta semana pela revista Veja em uma matéria de duas páginas com o título de “O Auschwitz japonês na China ocupada” e assinada por José Eduardo Barella, subeditor da publicação da Abril. Francamente não posso afirmar se Barella se enquadra na categoria dos jornalistas burros ou se na categoria dos jornalistas-militantes. Prefiro sinceramente colocá-lo numa terceira categoria, mesmo porque não o conheço. Portanto, coloco-o no time dos jornalistas descuidados.


O fato: três juízes de um tribunal de Tóquio admitiram pela primeira vez que o Exército imperial usou armas químicas e bacteriológicas contra populações civis. Como se sabe, o Japão imperial ocupou a China antes da segunda guerra e lá cometeu várias barbaridades. Médicos a serviço do Imperador tinham a mania de experimentar em seres humanos os efeitos de várias doenças provocadas por vírus e bactérias como o tifo, o coléra e o anthrax. Pois bem, a reportagem segue seus relatos e detém-se principalmente na chamada Unidade 731 em cujo laboratório os experimentos japoneses mais aviltantes eram cometidos.


No lead, para não perder o cacoete, José Eduardo Barella lembra os horrores do nazismo, a única comparação que passa pela cabeça dos jornalistas na hora de falar sobre temas como esse aqui explorado por Veja esta semana. A diferença entre os campos de concentração alemães e a Unidade 731 japonesa, para a revista, é que os primeiros já pediram perdão pelo que fizeram contra a Humanidade. Os japoneses, em que pese o reconhecimentos do juízes, ainda não.


Barella perdeu uma grande chance. A de relatar, mesmo que de passagem, o sofrimento de 50 milhões de chineses, 30 milhões a mais do que as vítimas contadas dos japoneses, e que foram mortos pelo regime iniciado por Mao Zedong após a expulsão dos invasores da China nos anos 40. Infinitamente maiores em quantidade que as unidades do tipo 731, os campos de reforma pelo trabalho de Mao, os laogai, por exemplo, abrigaram e mataram milhares de civis e de opositores do comunismo, boa parte deles mortos por inanição, fora inclusive de qualquer contexto militar. Se fosse mais curioso, o subeditor de Veja veria que a melhor referência aos laboratórios japoneses na China não é o nazismo e sim o próprio regime instalado com a expulsão dos invasores no mesmo cenário em que se deu a invasão japonesa.


Não ter sequer mencionado ou citado tamanho horror tornou pobre a matéria de Veja e banal sua comparação com Auschwitz. Mas afinal, que se danem os leitores e suas eventuais observações.





 
segunda-feira, setembro 2
  Primeira Leitura abusa da parcialidade

Mostrado como pensam os editorialistas da Primeira Leitura, notemos agora os problemas da revista a partir do instante em que ela expõe sua linha editorial nos termos também descritos no comentário anterior a este.


A primeira importante questão é que, em que pese a presença nela de Mangabeira Unger, um sujeito realmente lunático e marciano, a candidatura de Ciro Gomes ainda está longe de ser hostil à democracia, se comparada com a candidatura do PT. É o PT e não Ciro quem mantém fortes relações com Fidel Castro, as Farc e o regime também revolucionário do bolivariano Hugo Chavez. Os problemas de Ciro são muitos mas ainda são menores que os problemas de Lula.


É pelo PT que o MST deu trégua em sua luta contra o governo já que o momento agora é o de não perturbar o partido presidido pelo ex-guerrilheiro treinado em Cuba, José Dirceu.


Também é o PT e não Ciro quem precisa esclarecer os fatos elencados em artigo recente na Folha do filósofo Denis Rosenfield e que são rotina no Rio Grande do Sul de Olívio Dutra, tais como:


1. Processos reiterados a jornalistas e intelectuais, como forma de calar as vozes discordantes. Os processos de três anos e meio do governo Olívio Dutra representam mais do que a soma de todos os conflitos entre governadores e a imprensa desde 1947, configurando uma criminalização da liberdade de opinião;


2. O PT defende a extensão do Orçamento Participativo à administração central, o que equivale a transpor o controle partidário para o núcleo da esfera estatal. A prática totalitária confunde as esferas de governo e de partido, estabelecendo o império deste último


3. O Fórum Social Mundial, apresentado como um "outro mundo possível", tem parcialmente se caracterizado por repetir a experiência das Internacionais Comunistas, advogando pela supressão do "capitalismo", da Alca e do FMI, criando uma identificação negativa, a do inimigo comum, corporificado pelos Estados Unidos


4. Durante o primeiro fórum, as Farc foram não somente convidadas, como recebidas no Palácio Piratini, do governador. No segundo fórum, desenvolveram atividades paralelas, apoiadas pelo PC do B, aliado "democrático e popular" do PT, apregoando a luta armada na Faculdade de Direito da UFRGS


5. A afinidade do PT com Cuba é amplamente conhecida, mostrando uma forma de compactuar com uma das ditaduras mais sangrentas do planeta


6. O apoio ao MST, ligado estreitamente ao partido. Esse movimento tem adotado uma faceta cada vez mais política, com invasões sistemáticas de terras, fábricas e prédios públicos. Ações desse tipo desrespeitam o direito de propriedade e os princípios de organização do Estado


7. O controle das consciências das crianças, mediante cartilhas, nas escolas públicas e nos assentamentos do MST


8. O aparelhamento da Polícia Militar, cooptando os seus oficiais superiores via alteração da hierarquia por promoções exclusivas por "mérito", ou seja, por opção partidária.


Portanto, está comprometida a revista de Luiz Carlos Menonça de Barros, Rui Nogueira e Reinaldo Azevedo, e não é com a verdade. A menos que os fatos acima venham a ser considerados numa futura mas breve edição, o que não acredito, fica desgastada esta publicação aos olhos dos leitores menos ingênuos, como os que escreveram as cartas citadas na primeira nota desta sequência de comentários sobre Primeira Leitura. Demonizar Ciro Gomes é do interesse do editor, suponhamos que sim, isto me parece claro. Pois isto também tem um preço e no caso de Primeira Leitura, alto demais: é a sua credilidade e honestidade para com fatos que ela, por pretender ser uma “primeira leitura”, jamais poderia omitir sob pena, justamente, de perder sua seriedade.


 
  A Caros Amigos que é chique 2

Antes de mais nada, gostaria de prestar aqui uma informação: não apóio nenhum dos candidatos à presidência e já decidi votar em branco. Não há nada em qualquer dos projetos e programas de governo postos à mesa que me faça mudar de idéia. Todos os candidatos, portanto, serão por mim criticados igualmente em qualquer análise que se faça aqui sobre o quadro eleitoral brasileiro e a mídia.


A linha editorial da revista Primeira Leitura indica que a vitória de Lula ou Serra seria sinônimo absoluto de continuidade democrática, um estado de calmaria institucional que não estaria garantido, entretanto, caso o vencedor das eleições deste ano venha a ser o candidato do PPS, Ciro Gomes.


Em sua matéria de capa da edição n.06, de agosto, a revista pergunta: “Consenso ou confronto?”. O consenso estaria representado pela dupla Serra-Lula e o confronto pela candidatura do ex-governador cearense. Para dar mais estofo ainda à tese, Primeira Leitura busca ajuda num comitê suprapartidário encarregado de elaborar um projeto de consenso capaz de desenvolver o país e torná-lo melhor em 20 anos. O comitê é liderado pelo cientista social (ou seria melhor cientista socialista) Helio Jaguaribe, “que concentra suas fichas em Serra ou Lula”, como diz o texto de sua entrevista.


O vilão da história contada por Primeira Leitura é Ciro Gomes. Ao namorar a “direita” representada aqui por ACM e por ex-colloridos, Ciro teria se transformado em seu cavalo de tróia (da direita) utilizando-se de uma estrutura comunista, representada pelo partido que o acolheu, o PPS de Roberto Freire, ex-PCB. Some-se a isso o “experimentalismo democrático” do seu plano de governo, idealizado por Mangabeira Unger, “homem avesso às tradições democráticas”, o apoio de Brizola, de Bornhausen, a exaltação de Getúlio e temos, na visão dos editorialista da PL, uma candidatura fascista.


É bem típico das publicações comunistas, aliás, carimbar de fascista tudo o que se opõe à democracia, como se o comunismo fosse algo diferente e não tivesse manobrado as massas e assassinado muito mais gente em nome do estado totalitário almejado por Hitler e Mussolini. A disposição de Ciro em apelar para plebiscitos e consultas populares e seu objetivo de dar a vez para “a mobilização das massas desorganizadas” comprovaria o risco da democracia sob seu controle. Para fechar a embalagem fascistóide sobre o candidato do PPS, PL o compara a Péron, sendo a atriz Patrícia Pillar a Evita de Ciro. Como podemos ver, na luta pela vitória de Serra e Lula (mais de Lula, a meu ver) vale tudo para os homens da PL


 
  A Caros Amigos que é chique 1


O ex-ministro das Comunicações e fiel aliado do tucanato paulista, Luiz Carlos Mendonça de Barros, tem uma revista, para quem não sabe, chamada Primeira Leitura. Trata-se de uma versão mais chique e menos Che Guevara de Caros Amigos, a publicação comunista lida por 10 em cada 10 universitários no momento. Primeira Leitura também é comunista mas é muito melhor, dentro é claro do ambiente naturalmente limitador de publicações do gênero.


Nos próximos dias, estarei publicando aqui uma análise a partir da leitura que fiz da revista sem qualquer pretensão de sugerir ou não sua compra pelo leitor. Trata-se da minha opinião a seu respeito, nada mais que isso. Neste instante, começarei pelas primeira páginas da última edição e que trata justamente das opiniões sobre a revista por parte dos seus leitores. Excelente seção para o início de qualquer exame.

O Fórum de Leitores da revista Primeira Leitura (editor Luiz Carlos Mendonça de Barros, R$ 7,00, 121 pág. Edição 06, agosto de 2002), portanto, diz muito a seu respeito.


Vejam o que diz sobre ela o leitor paulista Ícaro Ayres Correia: “Estou muito impressionado com a seriedade de vosso trabalho. Finalmente uma revista fala de política sem ser tendenciosa”. Na mesma linha vai Ariel Silva, de Uberlândia: “Penso que é uma excelente fonte de informação também para os jovens, pois os textos são imparciais, dando ao leitor a liberdade para tirar suas próprias conclusões”.


Temos aqui dois casos de cegueira crônica. Primeira Leitura pode ser tudo menos imparcial. A revista de Mendonção e sua dupla de editores que reza sua cartilha esquerdista, Rui Nogueira e Reinando Azevedo, deixa claro inclusive que apóia as candidatura de Serra e Lula (tanto faz aqui quem ganhar, para eles será o melhor para o país, um ou outro), vem demonizando Ciro Gomes e , nesta edição sob exame, entrevista os socialistas Hélio Jaguaribe e Ariano Suassuna, dois adolescentes do ponto de vista de suas opiniões políticas.

Portanto, Primeira Leitura é tendenciosa sim e não deixa os leitores tomarem suas conclusões sozinhos. Ela as toma por eles, ora os conduzindo pelos seus textos anti-capitalistas ora combatendo seus opositores dentro do velho espectrograma ocidental que glorifica os políticos de esquerda e sataniza os de direita (identificando muitos com a direita propositalmente a fim de denegrir quem se opõe ao socialismo).


No caso de outros leitores, o problema é menos grave mas de similar clareza. Vejam o que escreve Jaser Batista, de Indaial (SC): “ Quem escreve é um militante de esquerda cansado de ler Caros Amigos e encontrar sempre a mesma coisa mesmo que se trate de temas importantes para o exercício da cidadania”. Apenas esta última frase explica muito sobre o missivista mas aqui temos a confirmação: Primeira Leitura é a continuação chique e menos militante de Caros Amigos.


 
Felix qui potuit rerum cognoscere causas

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Editor: Sandro Guidalli

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