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sexta-feira, dezembro 13
 

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  O conflito no Oriente Médio

Semanas atrás, recebi uma carta de um leitor do Mídia Sem Máscara que criticava um texto que eu recentemente escrevi sobre o José Arbex Jr e a parcialidade da mídia brasileira no tratamento do conflito entre árabes e judeus. A mensagem ficou um pouco grande mas vale a pena a sua leitura. Apesar das ponderações equilibradas do leitor, a quem pretendo encontrar pessoalmente em Curitiba na semana que vem para um bate-papo, continuo com as minhas opiniões sobre os líderes árabes e sobre, principalmente, o comportamento da imprensa local que já chegou ao mais puro anti-semitismo, como no caso do jornalista mencionado acima. Abaixo, a carta.


Sandro Guidalli,

Gostaria de tecer alguns comentários sobre o texto que escrevestes no site do Olavo, o Midia Sem Máscara, a respeito das análises do José Arbex acerca do conflito no Oriente Médio, especificamente na Palestina.

Concordo contigo quando dizes que observações apaixonadas, de um lado e do outro, contribuem muito mais para lançar gasolina na fogueira do que para a compreensão do problema. A esta paixão que o tema desperta, contudo, acrescento mais um elemento a dificultar o entendimento da questão: o enfoque nas conseqüências, e não nas causas.

Podemos dizer que o conflito na Palestina é um processo. Que não surgiu do nada. Teve causas e apresenta conseqüências. Estas, freqüentemente ressaltadas pela mídia mundial. Algo, aliás, de se esperar, dada a dramaticidade das cenas divulgadas pelos meios de comunicação e pela repercussão humanitária que os fatos revelam.

Minha crítica se dirige àqueles que sublinham apenas as conseqüências do problema. Se o objetivo é demonizar um lado, a prática é perfeita. Estampa-se a figura de um bebê travestido de homem-bomba nos principais jornais do mundo e diz-se: "Vejam só a que ponto chegou a selvageria árabe!!"; ou, ainda, publica-se nas primeiras páginas dos jornais a triste fotografia de uma mãe judia chorando a morte de um filho seu na explosão de um ônibus. Foto que, em todos nós, suscita um sentimento: de solidariedade
na dor; e em alguns de nós, uma certeza: a de que quem cometeu o ato é um celerado que tem de pagar, custe o que custar.

A prática, contudo, não se presta à análise fria da situação e, muito menos, à busca e ao encontro de uma solução para o problema. Desperta ódios, cria antipatias e simpatias automáticas, em muitos casos irreversíveis. Procedimentos como os de Olavo de Carvalho, de sublinhar as ações de grupos palestinos, e o seu, de reeditar na crítica a José Arbex clichês anti-palestinos, anti-árabes e, portanto, anti-semitas, não contribuem para o entendimento da questão.

Durante 1.400 anos de história conjunta, as comunidades árabe/islâmica e judaica viveram em paz por 1.350 anos. Os conflitos
começeram há cerca de 50 anos. Sua origem está na formulação teórica do judeu húngaro Theodore Herzl, mentor intelectual do sionismo, ideologia que propugnava a criação de uma pátria judaica. A crítica que fazemos ao sionismo não é em relação a este objetivo. O mal do sionismo está consubstanciado em uma de suas máximas: estabelecer a pátria judia na Palestina, sob o lema "uma terra sem povo para um povo sem terra".

A sentença guarda um teor prepotente e autoritário indelével. Revela que, no seu íntimo, o sionismo é sim uma ideologia racista. Ela despreza o fato de que milhares de famílias árabes vivem na Palestina há milênios. Demonstra, além de tudo, desprezo pelas escrituras sagradas judaicas, que relata a presença, desde tempos imemoriais, dos filisteus em Canaã. Pois quem eram os filisteus? Antepassados dos atuais palestinos ("falestin", em árabe). Não se tratava, portanto, de deslocar os judeus da Europa, América
e África para uma "terra sem povo". Havia povo, sim, na Palestina, cultivando a terra, desenvolvendo atividades comerciais, vivendo, enfim.

De acordo com o recenseamento feito pela administração britânica de Herbert Samuel, havia na Palestina, em 1923, 757 mil habitantes, dos quais apenas 83 mil (ou 11% do total) eram judeus. Como era de se esperar, o deslocamento dos contingentes judaicos para a Palestina, que começou de forma tênue nas primeira duas décadas do século passado e se acelerou a
partir do fim da II Guerra Mundial, não aconteceu sem a revolta dos árabes. Revolta, aliás, legítima de um povo que defende o território em que vive.

Um mérito claro teve o sionismo: deu organicidade ao movimento judaico mundial. Já em 1916, um grupo judeu montou uma célula terrorista, batizada de Haghannah - embrião do futuro exército israelense. Após contatos com as autoridades do Reino Unido, o Haghannah celebrou acordo com o governo de Sua Majestade, pelo qual passou a receber armamento e treinamento. Este, contudo, foi apenas um dos movimentos terroristas judaicos criados no início do século XX. Para fazer frente à crescente
resistência palestina, eles criaram, também, a Palmach, Irgun e Stern. Atentados a bomba, como o perpetrado contra o Hotel King David, passaram a ocorrer em toda a Palestina.

Símbolo maior do terrorismo judaico foi o massacre da aldeia de Deir Yassin, no dia 09 de abril de 1948, quando terroristas do Irgun e Stern, sob o comando do futuro primeiro ministro israelense, o judeu-polonês Menachen Beguin, mataram, nas primeiras horas do dia, dezenas de mulheres, crianças e velhos. Devido ao horário, uma boa parte dos homens adultos da
aldeia já tinha saído para trabalhar no campo.

Acossados pela ação judaica, os palestinos começaram a sua diáspora. Mas, ainda assim, continuaram sendo maioria na Palestina. À data da aprovação da partilha, o território contava com 1.936.000 habitantes, dos quais 1.355.200 eram árabes. No entanto, aos palestinos coube 43% da área. Os outros 57% ficaram com os 580.800 judeus.

As intenções sionistas contêm um agravante: Theodore Herzl defendia que o território do Eretz Israel , oGrande Israel, deveria se estender das margens do Nilo ao Eufrates, açambarcando toda a região da chamada "Crescente Fértil". Por isso sobrevive nos recônditos das almas de uma parcela considerável dos governantes israelenses - notadamente os do Likud e outros partidos da chamada direita - o sonho do "Anschluss" das áreas contíguas aos limites da carta da partilha da Palestina. O que pessoas da
índole de um Ariel Sharon desejam é conquistar um amplo espaço vital, que garanta, acima de tudo, a posse das nascentes de rios importantes. Desta forma, estaria assegurado o "Lebensraum" do Eretz Israel.

A situação dos palestinos, ao longo dos anos, só fez piorar. À representação de fancaria garantida aos árabes israelenses no Knesset corresponde uma situação de fato degradante: cidadãos judeus têm mais direitos que os árabes. A estes, os piores empregos, que demandam mão-de-obra barata, sem qualificação - pedreiros, serventes, auxiliares de serviços gerais.

Expectativa de melhoria surgiu com os acordos de Oslo. À liberdade conquistada em alguns territórios árabes, como Gaza e a cidade de Hebron, seguiu-se um período de empreendimentos comerciais e crescimento econômico. O afrouxamento do controle judeu permitiu a expansão da força criadora do povo palestino, represada por anos de repressão.

Chegou um ponto, contudo, em que o comprometimento de Israel com a política de "paz por territórios" foi se esvanecendo. Recursos continuaram sendo carreados para os assentamentos judaicos em territórios palestinos. O governo israelense reduziu o ritmo de retirada das tropas, jogando a população árabe nas mãos de movimentos radicais, como o marxista Movimento
Popular pela Libertação da Palestina.

A política israelense em relação à Autoridade Palestina foi marcada pela dubiedade. Num jogo macabro de palavras, com o óbvio objetivo de confundir os palestinos, o governo de Israel passou a exigir do presidente Iasser Arafat o controle dos movimentos radicais árabes, ao mesmo tempo em que o humilhava, bombardeando postos policiais palestinos e matando seus
oficiais. Saeb Erakat foi muito feliz em usar uma figura de linguagem para ilustrar o que Israel estava fazendo com Arafat: "É como se você colocasse um sujeito dentro de um saco com pedras, amarrasse-o totalmente, jogasse-o
ao mar e ordenasse: Nade!".

Se o objetivo real do governo de Israel fosse conter o radicalismo de movimentos como o MPLP, deveria buscar o fortalecimento da autoridade de Arafat, e não o contrário. Agir no sentido oposto significou fortalecer a ascensão dos radicais.

Esta atitude do governo israelense, contudo, não foi aleatória. Foi muito bem pensada. O plano estratégio era exatamente este: fomentar os ânimos e a sensação de frustração do povo palestino, insuflar-lhe o ódio para, a partir daí, reprimí-lo violentamente.

Não foi por outro motivo que Sharon visitou, gabola, a Esplanada das Mesquitas, afrontando as centenas de árabes que tinham ido ao local para rezar. Foi o estouro da II Intifada. Às pedras dos "terroristas" palestinos o exércio de Israel respondeu com o mais moderno armamento. Invadiu cidades palestinas, destruindo não só o que restava da estrutura administrativa do
governo palestino, mas a infra-estrutura sanitária e de água potável. Qual o objetivo de uma ação desta, se não a de limpeza étnica?

Por tudo isto, Guidalli, cabe, sim, a pergunta: que resta a um povo humilhado ao ponto em que chegou o povo palestino, se não martirizar-se, no desespero de alcançar a vitória? É muito fácil para nós, ocidentais bem alimentados, vivendo num País maravilhoso como o Brasil, isento de conflitos e tensões sociais, lançarmos nosso olhar superior de "povo civilizado" para os palestinos e condená-los pelos atentados. Cabe a pergunta: se lhes fosse dada a oportunidade, qual seria a sua escolha: explodir-se ou viver dignamente, criando seus filhos, vendo seu País prosperar econômica e socialmente? Qual a diferença que existe entre um
palestino que se explode num ônibus lotado de estudantes e um tanque de guerra que atira em crianças armadas com pedras? É legítimo o terrorismo de Estado, porque respaldado nas ações de um exército regular, bem armado, com
soldados bem alimentados e fortes? Em condições normais, Guidalli, qual é o ser humano que deseja se martirizar em nome de uma causa? É claro que o procedimento dos palestinos é anormal, como de resto toda a situação a que foram relegados. Importante para nós, Guidalli, que nos chocamos com cenas como as que vemos nos telejornais, é conhecer a origem deste grave problema
e colaborar para a sua solução. A propósito, posso lhe garantir que as cenas que eu vejo na TV Al'Manar, em que há crianças palestinas com os miolos estourados, morrendo ofegantes em hospitais - hospitais? - mal equipados e sujos, em que mães árabes correm desesperadas pelas ruas enlameadas de Jenin, Nablus e Khan Yunis, são tão ou mais chocantes que as imagens de pizzarias arrebentadas em Jerusalém! Só que o Ocidente não as vê!

Quando se compara o sionismo ao nazismo, Guidalli, o que se quer dizer é que há, no âmago de ambas as ideologias, uma identidade clara: preconiza-se o direito superior de um determinado povo - por características genéticas ou por um auto-outorgado "direito divino" - em relação a outros. Aos inferiores - sejam eles chamados judeus ou gentios - o opróbio, a tirania, o extermínio. A política do atual governo israelense - e o desejo inconfesso de partidos como o Shass, o Likud e outros - vai nesta direção. Para além das diferenças aparentes, há, na essência, uma comunhão de interesses entre o sionismo e o nazismo.

Tenho apenas uma esperança, Guidalli: de que a tradição humanista do judaísmo e os grupos imbuídos desta tradição triunfem. Que o belo exemplo dos oficiais e jovens israelenses que se negam a servir nos territórios árabes ocupados frutifiquem. Pois que ações ignominiosas como as perpetradas por seres como um Sharon terão o julgamento definitivo de um juíz muito mais sábio e rigoroso que nós.

Omar Nasser Filho

Curitiba - Paraná


 
  Pontaria falha

Carlos Eduardo - A creche onde deixo meu filho distribuiu aos pais, como mensagem de fim de ano, um texto extraído do jornal Folha de S. Paulo que é mais uma peça demonstrativa da má pontaria da intelectuária tupiniquim. Trata-se de um artigo intitulado “Decifra-me ou te mato”, no qual o autor, o colunista Gilberto Dimenstein, comenta o bárbaro assassinato dos pais pela adolescente Suzane Richthofen e seu namorado.

O objetivo do jornalista é apresentar ao leitor o pano de fundo causal para o macabro episódio, o que faz lançando mão de duas hipóteses, resumidas no seguinte trecho: “A violência de uma filha contra os pais, a ponto de chegar ao homicídio, é um ato que se presta a símbolo de uma tendência visível entre jovens: a de não saber lidar com os limites e com a frustração. É uma situação de escravização ao desejo, alimentada por uma sociedade que estimula a satisfação imediata das vontades. Essa é a radicalidade do consumismo. Viver é satisfazer imediatamente os desejos.” Invertendo a ordem , temos, portanto, de um lado, uma cultura do consumo orgiástico; e, de outro, uma juventude que não resiste aos seus apelos.

Para os intelectuais é assim: se existe um mercado fervilhando de produtos e serviços, com seus respectivos produtores e prestadores deflagrando sofisticadas campanhas publicitárias para atrair a clientela, pronto!, está instalado o reino satânico do consumismo desenfreado. Todos nós viramos, portanto, reféns de capitalistas inescrupulosos. Ora, as coisas não acontecem exatamente desta maneira. Ainda existe um troço chamado livre-arbitrio, que faz com que, na hora de pensarmos em adquirir um bem, levemos em conta não só a necessidade deste mesmo bem como também a possibilidade de adquiri-lo – é a tal equação custo X benefício. A maioria de nós, mesmo os mais jovens, ao não ter seus sonhos de consumo realizados, não sai por ai agredindo ou matando. Estes são casos excepcionais.

Talvez o articulista ache que se deva cortar o mal pela raiz determinando, por exemplo, o controle dos hábitos de consumo da sociedade, de forma a não haver ostentação desnecessária ou apego a atitudes egoísticas. Em outro trecho, aliás, ele fala que “o culto do desempenho, da aparência e do consumo está mais extremado numa sociedade que parece ter extirpado todas as utopias, trocando-as pelo narcisismo coletivo”. Bem, se ao ler esta passagem, você, como eu, pensou em certas experiências históricas, acho então que acertamos...

Por outro lado, quando o jornalista realça a dificuldade dos jovens em aceitar limites e lidar com frustrações, ele roça o ponto sem tocá-lo. É bem verdade que as novas gerações vêm sendo formadas com muita deficiência, tanto em casa como na escola. Certos pais, admito, são negligentes na sua missão de passar valores para os filhos. Gilberto Dimenstein até cunhou para eles uma expressão bastante feliz: pais adultescentes (mistura de adultos com adolescente). No entanto, ele não faz o principal, que é pôr o dedo na ferida. Qual seja: a cultura do relativismo moral que permeia nossa sociedade. Enquanto os chamados formadores de opinião insistirem em colocar como referencial de idealismo libertário bandidos e vagabundos e ao mesmo tempo prostarem-se diante da espontaneidade juvenil, os pais que queiram colocar rédeas na situação vão ter que fazer um sobreesforço.

No fim, Gilberto Dimenstein faz até uma revelação surpreendente para um intelectual da mídia: ele reza! Diz ele que em suas orações inicialmente pedia que seus filhos fossem livrados das dificuldades e agressões deste mundo; mas, como posteriormente percebeu que esse pedido é impossível de ser atendido, ele mudou. Passou a orar para que seus filhos desenvolvam raízes fortes e profundas para enfrentar as tempestades normais de uma vida. Taí uma solicitação das mais pertinentes, diga-se de passagem. Mas raízes deste tipo, caro Gilberto, só crescem em um tipo especial de terreno: o dos valores morais, assentados estes nos pilares básicos de esforço pessoal e retidão de caráter. E isso ele não disse.
 

quinta-feira, dezembro 12
  Adornos e emblemas

A polêmica sobre os broches que nasceu do encontro entre Lula da Silva e George W. Bush não é das minhas preferidas. Acho o assunto chato. Mas para não deixar passar o caso em branco, arrisco escrever uma nota parecendo óbvio.

Lula é o chefe de vitrine de um partido socialista. É o homem do "front office", necessário para seduzir a massa enquanto a verdadeira engrenagem intelectual e operacional trabalha para o fortalecimento do partido longe das câmeras. Numa sociedade comunista, o país importa menos que o partido que está no poder. Ao exibir a estrela vermelha do PT na lapela durante reunião com o presidente da mais poderosa nação do mundo, Lula mostrou que é o presidente de honra do PT e depois o presidente eleito do Brasil. A diferença entre os dois dirigentes ficou mais evidente porque Bush usava um pin com a bandeira americana.

Se não fosse homem de agremiação partidária do tipo comunista, jamais passaria pela cabeça de Lula andar com o broche do PT continentes afora. A coisa provavelmente ficaria limitada ao jogo eleitoral. Nem o tucano do PSDB chegou a voar para o paletó de FHC em suas andanças pelo mundo. Teve as asas aparadas quando terminadas as campanhas de 89, 94 e 98, a primeira com Mário Covas que inaugurou o símbolo naquela disputa pela presidência.

A péssima repercussão do pin petista levou o partido a sugerir o uso de outro broche, desta vez com as duas bandeiras, a do partido e a do país. Quer dizer, o PT continuará simbolicamente presente na figura de seu testa-de-ferro. Não fosse ele presidente do país e o emblema continuaria restrito ao socialismo petista das campanhas e ao esnobismo triunfante de seus principais políticos. Mas agora é uma nação inteira representada pelas cores do grêmio vitorioso.

Oremos para que a bandeira brasileira continue verde-amarela. Será que exagero?  

  Malas sem ALCA

Paulo Leite, de Washington, DC - Depois de muita retórica incendiária sobre a Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA), Lula - que chegou a comparar o proposto bloco econômico a uma anexação do Brasil pelos Estados Unidos - deu uma esplêndida meia-volta logo após seu encontro com o presidente George W. Bush.

Em sua conferência de imprensa em Washington, DC, nosso presidente eleito disse que "a partir de janeiro de 2003, e até o final dos entendimentos, o Brasil participará das negociações da ALCA." Mais: "Para crescer, o Brasil precisa aumentar o volume
de seu comércio exterior e a ALCA, para nós, pode representar uma verdadeira abertura do mercado dos Estados Unidos e do Canadá."

Vamos só ver como vão reagir os petistas à conversão de seu líder. Num artigo publicado esta semana no jornal Granma, órgão do Partido Comunista de Cuba, o colunista Arsenio Rodríguez conta como foi o Encontro Hemisférico de Luta contra a
ALCA, realizado em novembro na capital cubana. Falando do discurso de um dos representantes brasileiros, o jornalista Gilberto Moringoni, Rodríguez diz que ele "destacou a grande dívida pública que tem o Brasil, onde grande parte da receita é
dedicada ao pagamento dos juros dessa dívida, entre outros malefícios deixados pelos compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional e a aplicação de políticas neoliberais."

Segundo Arsenio Rodríguez, Moringoni "alertou para as manobras que a classe dominante brasileira vai usar contra o governo de Lula, que levará em conta os interesses populares que formaram sua base de apoio, e que são contrários à Alca". E pediu aos presentes que apoiem o Brasil num possível enfrentamento com os Estados Unidos.

"O governo Lula vai romper com a ALCA?", se perguntou Moringoni ao final. "A vida dará a resposta", concluiu poeticamente.

Pelo menos o discurso do representante brasileiro não chegou nem perto do desvario do boliviano Pablo Solón, que garantiu: "o monstro que enfrentamos tem várias cabeças, e uma delas é a ALCA. (...) Temos que baixar a luta ao nível da terra, já
que nosso objetivo não deve ser cortar uma das cabeças do monstro, mas sim matá-lo." Simpático...

 
quarta-feira, dezembro 11
  A Parcialidade Escancarada*

Leiam abaixo crítica aos livros do jornalista Elio Gaspari do amigo Carlos Azambuja. Ele sabe das coisas (e muito):

Acabei de ler os dois volumes escritos por Elio Gaspari (“A Ditadura Envergonhada” e ”A Ditadura Escancarada”) nos quais ele se propôs reconstituir cerca de dez anos da História do Brasil, desde o governo João Goulart até o final da Guerrilha do Araguaia, em 1974. Analisou a área política dos governos militares, a chamada “repressão” e as esquerdas de todos os matizes, dando ênfase à esquerda armada dos “anos de chumbo”, conforme ele diz.

Valeu-se de arquivos pessoais de diversas personalidades, fundamentalmente dos arquivos do general Golbery e de secretário, capitão Heitor. Entrevistou dezenas de pessoas, da direita, do centro, da esquerda e da extrema esquerda. Quando da Revolução de março de 1964, Elio Gaspari, aluno da Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro, era membro do PCB, conhecido como “Elio Parmegiani”.

Em seu livro, narra em detalhes a morte do estudante Edson Luiz, no restaurante do Calabouço, ocorrida em 27 de março de 1964. Detalhes tão precisos como se ele estivesse lá, assistindo a tudo. Não estava. Tanto na estava que escreveu que o fato ocorreu a “três quarteirões do hospital da Santa Casa”. Outra inverdade. Do restaurante ao hospital bastava atravessa a rua Santa Luzia. Eu estava lá e vi.

No entanto, na Faculdade Nacional de Filosofia, Rio de Janeiro, de onde era aluno, narra a morte, a tiro de revólver disparado por um seu colega, de um estudante da mesma Faculdade. E só. Por que Gaspari, um historiador, evita dizer o nome desse seu colega, de Faculdade e de partido, que disparou a arma? Esse é um segredo de polichinelo, embora jamais o autor da morte tenha sido processado por esse crime. Seu nome? Apenas as iniciais, pois não desejo prejudicá-lo, onde quer que esteja. Assim, aquilo que ele julga que ninguém sabe, ele vai saber que eu sei: ACFPP.

Essa foi a primeira parcialidade encontrada em seus livros. Mas há outras, tão ou mais graves, pois distorcem a História ou evitam contá-la como ela foi. Na página 146 do segundo de seus livros escreveu que o Cônsul dos EUA em São Paulo, na segunda metade de 1968 dispunha de contatos que lhe permitiram estabelecer a conexão entre Marighela e os dominicanos, mas que na cópia de um documento da época, liberada pelo Departamento de Estado dos EUA, “a identidade desse interlocutor está protegida por um trecho censurado que equivale a vinte batidas de telex”. Não acredito que o autor desconheça que essas vinte batidas de telex escondam o nome de Hans Rudolph Jacob Mans, terrorista da ALN treinado em Cuba e que usava os codinomes de “Flores”, “Juvêncio”, “Osvaldo” e “Suíço”

Escreveu ele nas fls 286 de “A Ditadura Envergonhada” que “por ordem do chefe do gabinete do ministro da Aeronáutica - João Paulo Burnier -, três oficiais e oito graduados da 1ª Esquadrilha de Salvamento e Resgate da FAB, o Parasar, foram colocados sob o comando de um general, municiados com armas cuja numeração estava raspada, equipados com documentos falsos e enviados em trajes civis para patrulhas de ruas”.

Duas mentiras em um trecho de três linhas: o brigadeiro João Paulo Burnier não era, ainda, chefe do gabinete do ministro da Aeronáutica (basta consultar os diários oficiais da época, o que seria muito mais fácil que destrinchar os quilos de papéis dos arquivos do general Golbery). Viria a sê-lo, algum tempo depois. E quem colocou os oficiais e graduados à disposição do general Ramiro Tavares foi o comandante da então Terceira Zona Aérea, ao qual o Parasar era subordinado para fins de emprego na Segurança Interna. Apenas operacionalmente subordinava-se à Diretoria de Rotas Aéreas.

Outra parcialidade escancarada, ou melhor, mentira escancarada, ainda sobre o mesmo assunto, está logo a seguir, na página 303. Escreveu ele que “baseado numa sindicância que Burnier mandara fazer Souza e Mello saiu em sua defesa. Mentira. Quem fez a sindicância foi o brigadeiro Sousa e Silva, chefe do gabinete do ministro Souza Mello. Burnier foi, sim, um dos objetos da sindicância.

Elio Gaspari, que por várias vezes citou o site do grupo Terrorismo Nunca Mais para respaldar algumas afirmações, ignorou a matéria “A Verdade sobre o Caso Parasar” que está lá, no Ternuma. Se não o tivesse ignorado saberia que o brigadeiro Burnier nunca teve atrás de si nenhum movimento político, nem a mídia e muito menos foi candidato a nada, o que não aconteceu com o capitão “Sérgio Macaco”, acolitado por políticos da esquerda do então MDB e da Frente Ampla, com toda a mídia a seu lado e, graças à notoriedade ganha com o escândalo por ele construído, eleito deputado federal.

Julgo que entre as funções mais nobres dos jornalistas e escritores estão as de investigar e procurar atingir a verdade antes de informar. Gaspari não fez isso. Limitou-se a transcrever versões parciais extraídas de notícias de jornais, bem como declarações de pessoas – inclusive militares – que “ouviram dizer”. Exemplos: ordens para explodir o Gasômetro e assassinar políticos. Isso em uma reunião, de portas abertas, com oficiais, cabos e soldados!

O jornalista, tão minucioso em seus relatos do 31 de março, como os tanques que saíram do Laranjeiras e vieram para o Guanabara, evitou dizer que quem organizou a defesa do Palácio Guanabara, onde se encontrava o governador Carlos Lacerda, foi o então major Burnier. Evitou fazer referência a tudo o que foi narrado sobre o Caso Parasar, minudentemente, pelo jornal “O Estado de São Paulo” nas edições de 5 de outubro de 1968 e 12 de março de 1978, relatos nunca, por ninguém, contestados. Em 6 de outubro de 1968, editorial escrito por Julio de Mesquita Filho, assinalava: “Estamos, portanto, diante de um novo episódio da campanha sub-reptícia que os derrotados de março de 1964 desenvolvem na área militar, para quebrar, primeiro a unidade de cada Arma e, depois, a união das três Forças Armadas”.

O jornalista ignorou também os despachos de três sucessivos ministros da Aeronáutica – publicados pela imprensa – aos requerimentos feitos pelo brigadeiro Burnier pedindo a instauração de um Conselho de Justificação para julgar seus atos à vista dessas acusações que lhe vinham sendo feitas por Sérgio Macaco, especialmente através da imprensa. Um desses três ministros proferiu, a respeito, em 19 de maio de 1980, um despacho concluindo que “as acusações relacionadas com o Caso Parasar eram inadmissíveis” e, ademais, contém o seguinte trecho, que transcrevo: “Oficial vibrante, de extrema dedicação à carreira, patriota sobejamente comprovado, de conduta digna, notável responsabilidade no cumprimento do dever e possuidor de elevado conceito entre superiores, pares e subordinados”. Esse é o conceito do brigadeiro Burnier junto a seus chefes, muito diferente do construído pela esquerda de então.

Entre os diagnósticos de Julio Mesquita Filho e de três ministros de Estado e opiniões outras, encampadas irresponsavelmente pelo autor, fico com os fatos e não com as versões escancaradas da parcialidade. Finalmente, uma outra notória parcialidade está nas páginas 392 e 393, onde faz referência à “fase pistoleira dos terroristas”, alinhando os nomes de três militantes “justiçados” por seus próprios companheiros, alguns, como Marcio Leite Toledo, por terem ousado começar a pensar com a própria cabeça..

Não foram três – o que é mais uma parcialidade descarada -. Foram nove. Seus nomes estão lá, no site do Ternuma, tão citado por Gaspari: Geraldo Ferreira (Dissidência da Var-Palmares, em 29 de maio de 1970, no Rio), Ari Rocha Miranda (ALN, em 11 de junho de 1970, em São Paulo), Antonio Lourenço (Ação Popular, em fevereiro de 1971, no Maranhão), Carlos Alberto Maciel Cardoso (ALN, em 13 de janeiro de 1971, no Rio), Marcio Leite Toledo (ALN, em 23 de março de 1971, em São Paulo), Amaro Luiz de Carvalho (PCR, em 22 de agosto de 1971, em Pernambuco), Francisco Jacques Moreira de Alvarenga (Resistência Armada Nacionalista, em 28 de junho de 1973, no Rio; assassinado pela ALN), Salatiel Teixeira Rolins (PCBR, em 22 de julho de 1973, no Rio), Rosalino Cruz Souza (“Mundico”), e “Paulo”, não identificado, respectivamente em agosto e setembro de 1973 (ambos do PC do B, durante a Guerrilha do Araguaia, por terem demonstrado o desejo de abandoná-la). ’Mundico” foi assassinado por Dinalva da Conceição Oliveira Teixeira (“Dina”), transformada em quase heroína pelo jornalista. Fico por aqui. É ou não uma Parcialidade Escancarada?

*Carlos Ilich Santos Azambuja é historiador e mora em Brasília (DF)


 
  O deboche rotineiro

O presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, reagiu ontem com o costumeiro deboche diante de perguntas menos amigáveis da imprensa brasileira (raras) ou internacional (mais frequentes). Nesta terça, depois do visível nervosismo do encontro com Bush, Lula, deta vez mais solto, deu horas mais tarde uma entrevista no National Press Club, repleto de jornalistas brasileiros que acabaram por compor uma vistosa claque em plena capital americana.

Ao ser questionado sobre as relações do PT com o governo comunista chinês, Lula optou pela ironia ao responder dizendo que nunca teve "grandes conhecimentos pela China" até que os EUA fizeram dela sua principal parceira comercial (o jornal Valor Econômico ajudou a compor a esquisita frase do presidente eleito, trocando o "pela China" original para o "sobre a China", mais adequado à oração).

Nessa hora da entrevista, a platéia de brasileiros gritou entusiasmada. Os que não gritaram mas vibraram de longe continuarão esquecendo de avisar os leitores de que a pergunta não merecia resposta do quilate aferido via satélite. O PT há muito namora Pequim e as relações entre Brasil e China deverão ganhar grande impulso. Para os chineses, é questão mais estratégica e menos comercial. É que o eixo anti-americano está formado e os brasileiros serão os últimos a saber dele.

Em geral, a visita a Bush foi do engraçado ao constrangedor. Mal adentrou ao salão do encontro, Lula hesitou alguns segundos até balbuciar algumas palavras em português. Esse negócio de não falar o inglês mais básico, o dos cumprimentos, é algo realmente constrangedor. Depois foi a trapalhada com as mãos. Lula, visivelmente apreensivo, entendeu que o gesto da mão direita de Bush era de novo aperto com a sua mas era apenas para indicar o assento que coube a Lula e que estava diante dele. Outro constrangimento para o brasileiro ocorreu no momento em que ele teve que cumprimentar Bob Zoellick a quem já chamou de "o sub do sub do sub".

Mas tudo isso passará e são detalhes sem muita importância. A imprensa dará destaque à proposta de Bush de um encontro de cúpula entre os dois países no ano que vem, a melhor notícia do ponto de vista jornalístico da cobertura. E ficará nisso, com muito confete para o presidente eleito. A real estratégia do PT, alinhavada por Constantine Menges (leia artigo traduzido por Maria Inês de Carvalho no www.midiasemmascara.org) passará bem longe do noticiário local. Afinal, esta é a nossa realidade. Voltemos a ela.

 
terça-feira, dezembro 10
  Encontros, conflitos e espionagem

Não pude acompanhar totalmente o que saiu publicado hoje nos jornais brasileiros sobre a viagem de Lula e sua comitiva ao encontro de George W. Bush (ver nota abaixo do Paulo Leite). Acredito, posso estar enganado, que a permanência de José Dirceu no Brasil não tenha sido motivo para especulações. É que o principal articulador e homem forte do PT jamais poderia botar os pés na Casa Branca sob governo republicano por causa de seu passado de agente secreto cubano. Talvez Bill Clinton o recebesse mas Bush nunca. Todos deverão fazer de conta que a ausência de Dirceu na comitiva teve como causa a agenda do ex-membro do Molipo.

Quem perdeu com isso foi o próprio ex-subordinado de Fidel Castro. No momento em que vê surgir a influência de Antonio Palocci sobre o governo que tenta se articular, deixá-lo com Lula e a prefeita Marta Suplicy numa hora dessas é perder a carona num acontecimento tão desejado pelo PT e de grande interesse para a mídia brasileira. Como sabemos, a importância da visita de Lula aos Estados Unidos fora do Brasil é similar a que pode ter a do presidente da Zâmbia a Washington mas aqui dentro a reunião dos dois presidentes terá ampla repercussão.

José Dirceu ficou no Brasil atendendo sindicalistas e dirigentes do MST. Com a experiência que tem no assunto, adquirida com o treinamento que recebeu em Cuba, deverá acalmar a mílicia política dos sem-terra que pediu o fim das investigações da Abin e da Polícia Federal sobre as ações do grupo. Os órgãos de inteligência, agora sob comando do PT, deverão voltar-se para outros alvos. Tucanos talvez. Engana-se, porém, quem acredita que o MST deixará de ser completamente monitorado. Governos socialistas são conhecidos pelo farto uso de seus serviços de espionagem. Aqui não será diferente.

Mas voltando a Bush, muito mais interessante que o Brasil hoje, para ele, é o desfecho venezuelano da crise. Isso para ficarmos na América Latina. Um confronto sangrento no país vizinho pode respingar nos preços do petróleo além do suportável. Acredito eu que os Estados Unidos estão trabalhando para uma saída pouco traumática de Hugo Chávez mas os recentes acontecimentos em Caracas estão atropelando o “timing” desejado. O povo parece que resolveu reagir. Em contrapartida, aliados do presidente invadiram as principais redes de TV, a maioria declaradamente favorável à antecipação das eleições. Chávez deverá resistir à força e pode surgir daí um lastimável quebra-quebra com muitos mortos e feridos. Para maiores detalhes da crise venezuelana, recomendo http://notalatina.blogspot.com.

Para encerrar, lembro aos leitores que a imprensa continuará comparando Bush e Lula, como se ambos tivessem mesmo cultura e conhecimento do mundo parecidos. Trata-se de um expediente prejudicial ao primeiro e altamente benéfico ao segundo. A formação escolar e intelectual de Bush é infinitamente superior a de Lula mas a imagem que a esquerda passa do presidente americano no Brasil é a de um bronco estúpido. E Lula, afinal, já é doutor honoris causa.


 
  Washington Urgente

Lula cá.
Paulo Leite, de Washington, DC


Tradicionalmente, visitas de autoridades latino-americanas aos Estados Unidos merecem pouco destaque na imprensa daqui, a não ser no caso do presidente do México que - por causa da imigração ilegal - é sempre notícia. Quem deseja informações
sobre a visita do presidente eleito do Brasil a Washington, porém, precisa procurar com uma lupa para encontrar algo.

Poucos jornais importantes se preocuparam em noticiar o encontro de Lula com George W. Bush. A principal agência de notícias do país, a Associated Press, não publicou nenhuma nota que eu pudesse encontrar em várias buscas pela Internet. A agora
apagada UPI lançou duas notas curtas, ontem e hoje, mas são poucos os jornais que publicam as notícias da agência. Das grandes, só a Reuter´s se preocupou em noticiar a visita de Luiz Inácio da Silva aos Estados Unidos.

Para a Reuter's, "Bush e Lula ocupam lados opostos no espectro político, mas devem perceber que têm muito em comum quando se encontrem. O ex-negociante conservador Bush e o ex-líder sindical esquerdista Lula adoram suas casas de campo e preferem um bom churrasco à cozinha sofisticada. Mais pés-no-chão que seus antecessores, ambos são conhecidos por aplicar as regras da gramática apenas eventualmente. Suas agendas podem se chocar - Lula até chamou a ALCA de ‘anexação’ pelos Estados Unidos - mas o aspecto mais importante do encontro, segundo os analistas, é que ele esteja acontecendo."

O principal jornal da capital norte-americana, o Washington Post, publica um artigo escrito pelo correspondente em Buenos Aires (ironia?), que analisa o encontro como uma oportunidade para Lula fortalecer sua nova imagem de líder maduro, capaz de domar uma crise econômica que parece se aproximar. Segundo o correspondente Anthony Faiola, porém, "vários economistas defensores do livre mercado parecem hesitantes em fazer parte do governo do PT, e embora alguns devam aceitar o convite no final, ainda existem muitas dúvidas sobre a sinceridade da guinada de Lula para o centro que estão dificultando a formação da equipe de governo."

O Miami Herald, que em geral acompanha a política latino-americana de perto, também não se preocupou em destacar nenhum repórter local para cobrir a visita de Lula. O correspondente do jornal no Rio, Kevin G. Hall, destaca a preocupação de Washington
com alguns pontos em que o presidente-eleito até agora foi pouco claro: "ele é amigo do ditador cubano Fidel Castro, e é contra o embargo norte-americano contra Cuba. Alguns assessores dizem que ele vai se opor ao Plano Colômbia, um programa de ajuda
militar que pretende contribuir com 1.3 bilhão de dólares para a luta anti-drogas no país vizinho ao Brasil. Lula defende negociações com a guerrilha esquerdista em vez do fortalecimento do exército colombiano".

A ligação do PT com as FARC também são destacadas no único artigo que o segundo jornal da capital americana, o Washington Times, publica sobre a visita de Luiz Inácio Lula da Silva. Quem sabe destinado a provocar mais polêmica no Brasil, o
artigo - escrito por ninguém menos que Constantine C. Menges – aborda a possibilidade do Brasil de Lula se alinhar à China em oposição aos Estados Unidos.

Diz Menges: “para contrabalançar os Estados Unidos, a China pode em algum ponto ajudar o governo Lula com suas ambições de desenvolver armas nucleares e mísseis balísticos, assim como a China secretamente ajudou o Paquistão para contrabalançar a
influência da Índia.” O artigo de Menges termina positivo: “se os governos democráticos e os cidadãos do hemisfério ocidental, incluindo a administração Bush, agirem com realismo e habilidade, pode ser possível reduzir as consequências daninhas das décadas de radicalismo esquerdista do Sr. Lula da Silva e trabalhar com o Brasil para ajudar todos os seus cidadãos, incluindo os pobres, a ter um futuro mais brilhante.”


 
  A Parcialidade Escancarada

E continuam chegando e-mails apontando omissões e falhas nos livros do Elio Gaspari. Aproveitem leitores e amigos para observá-las aqui pois jamais irão ler algo similar na grande imprensa....

"A Parcialidade Escancarada" seria o título mais apropriado de "A Ditadura Escancarada". Nas páginas 392 e 393, o camarada Elio Gaspari faz referência à "fase pistoleira dos terroristas", alinhando 3 militantes "justiçados" por seus próprios companheiros. Nessa parte, creio que ele não pesquisou adequadamente, pois foram 9 os justiçados: Geraldo Ferreira (Dissidência da VAR-PALMARES, em 29 de maio de 1970, no Rio), Ari Rocha Miranda (ALN, em 11 de junho de 1970, em SP), Antonio Lourenço (Ação Popular, em fevereiro de 1971, no Maranhão). Marcio Leite Toledo (ALN, em 23 de março de 1971, em SP), Amaro Luiz de Carvalho (PCR, em 22 de agosto de 1971, em PE), Carlos Alberto Maciel Cardoso (ALN, em 13 de janeiro de 1971, no Rio), Francisco Jacques Moreira de Alvarenga (Resistência Armada Nacionalista, em 28 de junho de 1973, no Rio, assassinado pela ALN), Salatiel Teixeira Rolins (PCBR, em 22 de julho de 1973, no Rio) e Rosalino de Souza (PC do B, durante a Guerrilha do Araguaia).
Um pouco de história não faz mal a ninguém...

 
  Vinte batidas de telex

Recebi hoje cedo o seguinte e-mail, de Brasília. A fonte é qualificadíssima:

Não entendi porque Elio Gaspari evitou citar o nome do informante (que já está morto) do Cônsul dos EUA em São Paulo (página 146 do 2º volume), preferindo dizer que "a identidade do interlocutor está protegida por um trecho censurado que equivale a vinte batidas de telex". Ou ele realmente não sabia? Vai aí, então, uma colaboração ao sr Elio: Hans Rudolph Jacob Mans, que durante sua vida de militante da ALN recebeu treinamento em Cuba e utilizou os codinomes de "Flores", "Juvêncio", " Osvaldo"e "Suiço".

 
segunda-feira, dezembro 9
  A escolinha da professora Maria Helena

Maria Helena Guimarães é a secretária-executiva do Ministério da Educação. Voltou de Cuba recentemente. Está apaixonada por Fidel Castro. Com ele, discutiu o futuro da educação em Cuba e no Brasil e do encontro provavelmente nascerá algum novo intercâmbio entre os dois países. O Brasil tucano é uma das nações mais próximas do regime comunista caribenho. Além de dinheiro, manda estudantes e cientistas para lá. Em troca, abriga especialistas da área biotecnológica e médica. Talvez os anos FHC tenham sido os de maior apoio político e pecuniário na história das relações Brasil-Cuba. Se o apoio já é bom para o “presidente” cubano, deve ficar melhor com a chegada do PT ao poder central.

Curiosamente, na mesma semana em que a professora Maria Helena dizia à imprensa que Fidel, entre outras coisas, adora navegar na Internet ( “passa horas na rede”, disse ela à revista Época), dava declarações à Folha o recém-libertado médico Oscar Elías Biscet. Preso por ter colocado duas bandeiras de Cuba de cabeça para baixo numa entrevista que deu criticando a ditadura, o dr. Biscet relatou as humilhantes condições de vida dos que padecem no sistema carcerário cubano, país que tem mais penitenciárias do que o Brasil e a Argentina juntos.

Mantidos a maior parte do tempo sem água, os presos vivem em celas sem duchas e são constantemente castigados. O mesmo país que seduz a professora Maria Helena e tantos outros intelectuais e jornalistas brasileiros, é um dos que mais violam os direitos humanos. Além disso, a economia comunista empurrou a população para a mentira e o roubo, condições básicas para sobreviver. Em Cuba, sem mentir ou roubar, não há vida possível.

Biscet alertou também para a censura à imprensa que impede a população de saber como realmente vive Fidel Castro. Além de navegar na Internet, coisa absolutamente proibitiva para a maioria das pessoas, Castro costuma beber vinhos caríssimos e come aquilo que bem entender. Ao contrário do povo, dividido entre os famintos crônicos e os de dieta limitada pela “libreta” de consumo alimentar, a mesma que permite ao dono obter um ovo por mês.

A transição tucano-petista, entretanto, não se preocupa muito com isso. Para o governo brasileiro, a real situação do povo cubano continuará sendo negligenciada em nome das boas relações entre Brasília e Havana. São afins ideologicamente os subordinados de Fidel e os novos subordinados de Lula. Por isso, será sempre recebido aqui com profundo silêncio apelos como os feitos pelo dr. Biscet, que exortou os países democráticos a boicotar Cuba e assim forçar o fim da ditadura comunista. Ao contrário. Nunca estivemos tão próximos de Fidel. E isso deveria ser a suprema vergonha para qualquer um de nós nascidos neste país. Está longe de ser.


 
domingo, dezembro 8
  Mais Gaspari

Ainda sobre os livros do Elio Gaspari, mais algumas observações são necessárias:

Os leitores sabem que raramente uso esta página para ficar me gabando sobre o que escrevo. Ao contrário, acho que erro muito mais do que acerto e não há motivos para auto-elogios. Mas fui um dos poucos jornalistas com razoável audiência na Internet a apontar falhas nos livros sobre a ditadura militar escritos pelo jornalista Elio Gaspari. A principal delas: tratar de forma desigual as vítimas da repressão e as vítimas do terror. Como já disse, abundam informações sobre as primeiras. Faltam dados sobre as demais. Neste sentido, ele é parcial ao contar a História do período militar. Na chamada grande imprensa, entretanto, nenhum resenhista foi capaz de admitir isso. Como era de se esperar, foram só elogios ao jornalista, sem qualquer observação mais crítica. Todos comemoraram o “resgate” da tortura sendo que há relatos muito mais interessantes que mereciam destaque.

Também já afirmei que considero o resultado das pesquisas do jornalista excelente. Pode parecer contraditório isso mas é que não acho justo tomar os dois livros já lançados apenas pelos aspectos relacionado ao confronto entre o regime e seus opositores armados. Da mesma forma, os erros de informação, as omissões e as falhas que eu mesmo apontei nos livros não superam os acertos, o texto e os detalhes da narrativa. Os episódios que antecedem 31 de março e que marcam a deposição de Goulart, a transição que vai da doença de Costa e Silva até a posse de Médici são alguns exemplos do que há de melhor nos livros.

O fato de Gaspari ter sido militante comunista na juventude também não pode ser usado para dar estofo aos argumentos de que ele foi parcial ao contar os fatos da “guerra suja” entre regime e oposição. O jornalista é um dos poucos capazes de ostentar equilíbrio em seus artigos e notas. Resvala para a esquerda várias vezes, é verdade, mas se comparado aos demais colegas da mídia impressa, chega a ser um reacionário. Recentemente, foi correto ao criticar Lula no caso do Romanée-Conti. Dos jornalistas recebeu em troca o deboche. Só por isso Gaspari já merece ser diferenciado dos demais. Não pode haver comparação entre ele e um Ancelmo Góis, um Paulo Moreira Leite ou um Jânio de Freitas, apenas para citar alguns xiitas esquerdistas do jornalismo brasileiro, gente de leitura absolutamente dispensável.

Como o assunto é Gaspari e seu livro, publico abaixo e-mail que recebi de um leitor, fonte da área militar, apontando novas falhas:

Lendo o primeiro volume dos livros de Elio Gaspari, vejo que há diversos fatos narrados de forma mentirosa. A maior dessas mentiras (por enquanto) é a que consta na página 186, quando Gaspari escreve que "por ordem do chefe-de-gabinete do ministro da Aeronáutica, João Paulo Burnier, três oficiais e oito graduados da 1ª Esquadrilha de Salvamento e Resgate da FAB, o Parasar, foram colocados sob o comando de um general..." Duas mentiras num trecho de 3 linhas: O brigadeiro João Paulo Burnier não era, ainda, o chefe de gabinete do ministro da Aeronáutica (basta consultar os diários oficiais da época). Viria a sê-lo, algum tempo depois; quem colocou os oficiais e graduados à disposição do general Ramiro Tavares foi o comandante da 3ª Zona Aérea, ao qual o Parasar era subordinado administrativamente. Subordinava-se à Dde Rotas Aéreas apenas operacionalmente. Na página 303 do livro de Elio Gaspari um outro absurdo: "baseado numa sindicância que Burnier mandara fazer Souza e Mello saiu em sua defesa. Mentira. Quem fez a sindicância foi o então chefe do gabinete do ministro Souza e Mello, brigadeiro Souza e Silva. Burnier foi, sim, um dos objetos da sindicância. Elio Gaspari que por várias vezes citou o site do Ternuma para respaldar algumas afirmações, ignorou a matéria "A Verdade sobre o Caso Parasar", que está lá, no Ternuma. Muito interessante...
Abs.


 
  Siglas II

Por conta da nota "Siglas", recebo outra correspondência. Minha fonte prefere manter-se incógnita. Vejam só:

A correspondência que Vc publicou hoje em tua coluna contém uma série de equívocos (talvez seja por isso que o cara não deseja ser identificado). Há pessoas que ouvem o galo cantar e outras que não sabem que existem galos. Parece ser o caso desse teu correspondente. Para início de conversa CODI era a sigla do Centro de Operações de Defesa Interna e não Centro de Operações de Informações (?). Centro de Operações de Informações é, aliás, o samba do crioulo doido. Os DOI recebiam missões da chefia do DOI/CODI e não da "Seção de Operações do comando da Área". Se assim tivesse sido, o princípio da oportunidade teria ido para o espaço. Imagina um cara sendo interrogado às 2 da manhã de um sábado e o resultado sendo passado para o "Chefe de Operações do comando da Área" na segunda-feira!! O teu correspondente, pelo que li, nunca, em sua vida, entrou num DOI/CODI.


 
Felix qui potuit rerum cognoscere causas

e-mail - guidalli@gmail.com

Editor: Sandro Guidalli

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